Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 281 - 30 de março a 3 de abril de 2005
Leia nesta edição
Capa
Unicamp, reitor à vista
Cesar Lattes, um cientista
   brasileiro
Cabeça no cosmo
Ciência e política
Razões da coincidência
Siarq: memória científica
Ônus da fama
Volta à USP em 1960
O adeus de um parceiro
Fotografias revelam as paixões
Edison Shibuya
Mundo das interações
Damy detectou talento precoce
Lattes: um sonho
Um ciclo se fecha. Fica a lição
O Lattes que não está
   na plataforma
O porão e as alturas
Histórias reais
Martha, o esteio.
  Às filhas, o saber
 

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Damy detectou
talento precoce

Cesar Lattes considerava Marcello Damy de Souza Santos (1911) o maior físico brasileiro. Um dos pioneiros da física experimental no país e primeiro diretor (1967/1972) do Instituto de Física "Gleb Wataghin". Damy foi o responsável pela vinda de Lattes e de outras dezenas de docentes e pesquisadores para a Unicamp.

Formado em 1936 na primeira turma do curso de Física da USP, Damy tornou-se um dos primeiros assistentes de Gleb Wathagin. Foi o responsável, no início da década de 50, na USP, pela construção do primeiro acelerador a funcionar na América Latina. Mesmo doente e falando com dificuldade, Damy fez questão de dar este depoimento sobre Cesar Lattes, a quem considerava "um gênio dotado de extrema simplicidade e patriotismo".

Marcello Damy, em cerimônia no CBPF, no Rio de Janeiro, em 1998: professor e colega de Lattes"Eu conheci Cesar Lattes quando ele prestou o vestibular da USP. Eu e mais alguns colegas pertencíamos à banca examinadora. Naquela oportunidade, nós observamos que alguns candidatos haviam feito uma prova muito boa. Entre esses candidatos estava o Lattes, que chamou nossa atenção.

Seu exame escrito foi muito bom. Como um dos assuntos abordados na prova era justamente sobre campos magnéticos, ele começou a escrever e escrever. Lembro-me que ele pediu duas ou três folhas adicionais para poder desenvolver suas idéias. Ele acabou revelando um conhecimento maior do que o dos estudantes normais.

Quando a prova terminou, eu tive a oportunidade de conversar com o Lattes. O assunto girou em torno de campos magnéticos. Eu fiz uma pergunta e vi que ele havia compreendido tudo profundamente. Num outro dia, ele foi me procurar para conversar mais sobre o mesmo assunto. Ele era altamente inteligente. Tomava a iniciativa de desenvolver certos capítulos da Física por sua conta. Daí surgiu o interesse de Lattes em ingressar no curso de Física, e o meu por ele, por ser um aluno tão bom. Lattes procurava entender os problemas e, posteriormente, aplicá-los. Isso normalmente requer uma preparação intelectual ao longo do curso, mas ele já apresentava essa característica desde o início.

Na carta, Damy sugere a contratação de Lattes para integrar o corpo docente do Instituto de Física da UnicampEu já percebera que ele tinha potencial para se transformar num físico importante. Depois, Lattes deu seqüência aos estudos no exterior, enviado pelo professor Wataghin, onde teve a oportunidade de trabalhar com físicos muito importantes. Isso contribuiu para desenvolvê-lo ainda mais.

Posteriormente, quando fui convidado para participar da construção da Unicamp, eu o levei para Campinas, minha terra natal. A nossa convivência na Unicamp foi muito boa. Na USP, nós tínhamos uma equipe muito boa, além de equipamentos de primeira linha. Entretanto, na Unicamp encontramos o desafio de ajudar a constituir uma grande universidade, num esquema muito moderno para a época.

Em carta de maio de 1967, Lattes expõe seu plano de pesquisasNa Unicamp e em outras instituições, Lattes fez descobertas que foram fundamentais para a Física. A sua morte constitui uma perda irreparável. Pessoas como ele são raras. Lattes era inteligente, trabalhador e gostava de explorar novas idéias. Em suma, tinha todas as qualidades exigidas para um grande pesquisador. Atualmente, a pesquisa realizada na área de Física na Unicamp é muito boa. Isso também ocorre em outras instituições brasileiras, graças, sobretudo, ao trabalho do professor Wataghin, que foi quem lançou essa semente. No caso específico da Unicamp, essa excelência também contou com a contribuição do professor Cesar Lattes, que eu considero um gênio; um gênio dotado de extrema simplicidade e patriotismo".

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