Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 244 - de 15 a 21 de março de 2004
Leia nessa edição
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A propósito do Araguaia
Livro: saúde reprodutiva
Pesquisa :carne-de-sol
Metanol e diesel: medida certa
Geociências: viajando no tempo
Pochmann: meta de emprego
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Metodologia: descarte de pneus
Fotografia: floresta urbana
 

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Esquistossomose coloca
Saúde em alerta

ANTONIO ROBERTO FAVA

O médico e professor Luiz Augusto Magalhães, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp: muitas casos não chegam às autoridades sanitárias

Estudos feitos pela Unicamp, em conjunto com a Secretaria de Saúde de Campinas, revelam que 7% dos moradores do bairro São Domingos (Campinas) estão com esquistossomose. Somente em 2002 foram registrados 135 novos casos. É um problema que se arrasta há anos, desde que autoridades sanitárias descobriram um foco na lagoa da Fazenda Boa União, naquele bairro.

Para o médico e professor Luiz Augusto Magalhães, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, o número de pessoas infectadas não tem diminuído nos últimos anos e é extremamente preocupante a existência, ainda, de focos de esquistossomose na região. Mais de 500 pessoas foram atendidas no Centro de Saúde do bairro nos últimos anos, o que reflete a gravidade do problema. De acordo com Magalhães, o número pode ser maior, uma vez que muitos casos não chegam às autoridades sanitárias.

Embora raros, nos últimos tempos foram registrados oito casos de paraplegia – paralisia dos dois membros inferiores, freqüentemente associada à perda de controle do esfíncter devido a uma lesão da medula espinhal. Dois desses pacientes não apresentaram seqüelas, mas três têm dificuldades para andar e outros três estão utilizando cadeiras de roda. Esta paralisia decorre de infecção pelo Schistosoma mansoni.

Muitas vezes, os infectados pela esquistossomose não apresentam os sintomas característicos da doença, podendo conviver com ela por vários anos. “Ela pode provocar fibrose hepática e hipertensão portal, como a formação de ‘barriga d’dágua’. Hipertensão que por vezes resulta em hemorragia digestiva e o paciente começa a vomitar sangue”, explica André Ribas de Freitas, coordenador do Centro de Saúde do bairro São Domingos, que desenvolve trabalho conjunto com o Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. É ainda desta forma que há alterações no fígado, com aumento de seu tamanho (hepatomegalia) e posteriores lesões graves, semelhantes à cirrose.

Segundo Freitas, não se esperava casos com tal gravidade em Campinas, pois o hospedeiro encontrado na cidade é o Biomphalaria tenagophila, pouco eficiente em relação ao Biomphalaria globrata, mais freqüente em Minas Gerais e áreas do Nordeste. Atualmente, o médico desenvolve pesquisa em nível de mestrado sobre as causas da doença, visando a avaliar a dimensão real da esquistossomose em Campinas. Ele afirma que a Secretaria de Saúde é o órgão responsável pelo tratamento dos doentes e pelo combate aos focos detectados, explicando que, no entanto, “inexiste um trabalho de controle dos hospedeiros intermediários, como normalmente se faz com a dengue”.

Quanto às medidas profiláticas como meio de exterminar os focos, diz que o mais importante é tratar os portadores da moléstia, diminuindo a incidência de vermes e reduzindo a possibilidade de multiplicação. “É muito difícil matar o hospedeiro intermediário, que é o caramujo”. As medidas de profilaxia consistem basicamente em ações preventivas pelos centros de saúde, como a educação da população sobre o modo de transmissão da doença.

Contaminação - Geralmente, o indivíduo adquire a esquistossomose banhando-se em pequenos lagos e riachos, onde existem caramujos de espécies que estão parasitados com o Schistosoma mansoni. A contaminação se dá por meio das larvas liberdas pelos moluscos infectados, que penetram ativamente na pele do indivíduo e, ali alojadas, iniciam um ciclo que se completa em veias do abdômen, que levam o sangue das paredes do intestino para o fígado. Seguem-se a fase em que o baço aumenta de volume, e a mais grave, de formação de varizes no tubo digestivo, do esôfago até o ânus.

No Instituto de Biologia, o professor Magalhães estuda o comportamento do verme no molusco (seu hospedeiro intermediário e vetor), por meio da infecção de camundongos que apresentam um quadro patológico semelhante ao ser humano. Avalia-se no camundongo as lesões no fígado, intestino e em outros órgãos. “Esses estudos contribuem para conhecer melhor a doença, o próprio tratamento e o combate à parasitose no campo”, diz Magalhães. Os dados da linhagem isolada no foco da Lagoa Boa União são comparados com os de outras linhagens já estudadas, armazenadas no Laboratório de Parasitologia do IB, originárias de São José dos Campos e de Belo Horizonte. Magalhães revela, no entanto, que não existem estatísticas atualizadas sobre a situação da esquistossomose hoje no Brasil, embora seja uma doença sob controle, graças à terapêutica e facilidade de tratamento.

Doença crônica - A esquistossomose é uma doença crônica de evolução lenta. A fase aguda implica febre, falta de apetite, tosse, dor de cabeça, suor intenso, enjôo e diarréia com pequenas quantidades de sangue, os sintomas mais comuns. Nos casos crônicos graves, leva à hipertensão, insuficiência hepática e tumores.
O parasita foi descoberto em 1851 pelo médico alemão Theodor Bilharz (1825-1862). No entanto, o descobridor do Schistosoma mansoni foi o cientista brasileiro Manuel Augusto Pirajá da Silva (1873-1961), que morreu antes mesmo que fosse descoberto um medicamento para a doença. O verme causador da esquistossomose intestinal não é nativo do Brasil: chegou por aqui durante o período da escravidão, com os africanos provenientes de regiões endêmicas. (A.R.F.)


 

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