Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 244 - de 15 a 21 de março de 2004
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Pesquisa mapeia transtornos mentais em jovens
Levantamento feito por psiquiatra em quatro escolas mostra que 10% de alunos têm algum tipo de sintoma

ANTONIO ROBERTO FAVA

A psiquiatra e professora Giuletta Cucchiaro: dados sobre três categorias abrangentes de diagnósticos em psiquiatria infantil

Pesquisa inédita desenvolvida em Campinas pela psiquiatra Giulietta Cucchiaro, professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, revela que 10% dos alunos com idade entre 11 e 16 anos de quatro escolas da rede estadual – duas da região central da cidade e duas de bairros periféricos – apresentam pelo menos um tipo de transtorno mental.

Depois de um ano de detalhado estudo, o trabalho de pós-doutorado da pesquisadora, denominado Epidemiologia dos transtornos mentais e qualidade de vida em crianças e adolescentes na cidade de Campinas, concluiu que 6,9% – ou seja, 57 dos adolescentes avaliados, apresentam transtornos de conduta, 3,1% transtornos emocionais, enquanto que 0,4% revelou indivíduos dotados de hiperatividade.

De acordo com o levantamento da pesquisadora, 814 crianças da 5ª a 8ª séries preencheram questionários sobre dados sócio-demográficos, saúde mental, qualidade de vida e auto-estima. Seus professores também preencheram questionários sobre a saúde mental e o rendimento escolar dos estudantes. Desse total, 765 indivíduos foram avaliados quanto à prevalência de transtornos mentais: “Embora não fechem o diagnóstico específico, esses dados fornecem informações sobre três categorias abrangentes de diagnósticos em psiquiatria infantil: os transtornos emocionais, que englobam os transtornos depressivos, de ansiedade e fobias; os transtornos de conduta, que se referem a um padrão de comportamento no qual se viola repetidamente as regras sociais apropriadas para a idade, e que inclui, por exemplo, comportamento agressivo contra pessoas ou animais, destruição de propriedades, furtos, etc, e o transtorno de hiperatividade, uma síndrome constituída de três sintomas: hiperatividade, déficit de atenção e impulsividade”, explica Giulietta.

Esse índice de 10% que atinge indivíduos em idade escolar levantado pela psiquiatra – cujo trabalho de pesquisa foi financiado pela Fapesp, sob supervisão do professor Paulo Dalgalarrondo – pode ser comparado, com pequenas variações, como sendo praticamente o mesmo verificado em estudos desenvolvidos na Inglaterra, França, ou com a taxa de 12% encontrada no Estado de São Paulo, nos municípios de Campos de Jordão e Taubaté.

“Com isso pode-se deduzir que esse percentual não foge aos padrões esperados para uma comunidade urbana de médio porte, como Campinas”, argumenta Giulietta. Um dado curioso é quando se compara a amostra total de meninos e meninas. A pesquisa revela ainda que 11,2% dos meninos do grupo analisado apresentaram algum transtorno mental, principalmente transtornos de conduta, enquanto que com o grupo de meninas essa taxa ficou um pouco abaixo, com 8,7%, predominantemente transtornos emocionais. Estudando as principais variáveis que poderiam influenciar a saúde mental dos jovens de Campinas, foi possível traçar o perfil daqueles mais saudáveis mentalmente: jovens com religião, filhos de pais casados e do sexo feminino.

Rendimento escolar – Um dos resultados surpreendentes do estudo foi que os jovens da periferia e do centro de Campinas, embora constituam dois grupos distintos do ponto de vista socioeconômico, não apresentaram diferenças significativas quanto às taxas de transtorno mental. A pesquisa mostra que dos 765 casos avaliados, 11,7%, ou seja, 89 indivíduos com transtorno mental, encontram-se na periferia enquanto que 8,5% (65), na área urbana central.
No entanto, parece que morar na periferia da cidade é uma situação que afeta os meninos mais negativamente do que as meninas: uma alta taxa de transtornos de conduta (12%) foi encontrada entre os meninos da periferia, quando comparados com os do centro (6,2%).

“Examinando o rendimento escolar e o modo de como os jovens ocupam seu tempo, observamos que os meninos da periferia têm um rendimento escolar inferior, ficam menos tempo na escola, dedicam-se menos tempo aos deveres escolares, e passam mais tempo na rua, ao ar livre, sem estarem envolvidos em atividades estruturadas, como praticar esportes, freqüentar uma igreja ou participar de trabalhos oferecidos por ONGs. Considerando que os meninos de periferia possuem uma alta taxa de transtorno de conduta (12%, o dobro da taxa dos meninos do centro), pode-se concluir que eles constituem um grupo de risco seriíssimo para transtornos mentais graves na idade adulta, com conseqüências como drogadição, envolvimento em atividades ilícitas e criminalidade”, conclui Giullietta”.

Já as meninas da periferia não diferem significativamente das meninas da região central de Campinas. Na verdade, de acordo com os dados da psiquiatra, meninas de bairros periféricos apresentam praticamente o mesmo rendimento escolar das meninas do centro, apesar das diferenças sociais.

O estudo, financiado pela Fapesp, é relevante, pois, conforme a pesquisadora, fornece informações que poderão orientar a organização dos serviços de saúde mental na cidade. “Universidades, escolas e serviços de saúde poderão se organizar num esforço conjunto para se detectar e tratar de modo precoce problemas que se configurem eventuais transtornos mentais, presentes em crianças e adolescentes, os quais tendem a perdurar e a se agravar na idade adulta se não receberem nenhum tipo de intervenção”, acredita a pesquisadora.


 

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