Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 244 - de 15 a 21 de março de 2004
Leia nessa edição
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A propósito do Araguaia
Livro: saúde reprodutiva
Pesquisa :carne-de-sol
Etanol e diesel: medida certa
Geociências: viajando no tempo
Pochmann: meta de emprego
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Fotografia: floresta urbana
 

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Cientistas buscam medida certa
para adição de etanol ao diesel

MANUEL ALVES FILHO

O doutorando Evandro José da Silva (à esq.), a aluna Juliana Bernardes e o professor Rahoma Sadeg Mohamed: pela inclusão do etanol na matriz energética nacional

Embora esteja próximo da auto-suficiência em termos de produção de petróleo, o Brasil ainda importa entre 10% e 15% do óleo diesel utilizado para movimentar parte da sua frota de veículos, sobretudo os destinados ao transporte de carga. Além de onerar a balança comercial, esse combustível traz um outro inconveniente para o País, este de ordem ambiental. Por eliminar material particulado durante a queima, entre outras substâncias, o diesel é apontado como um dos grandes responsáveis pela poluição atmosférica dos centros urbanos. Pesquisa desenvolvida conjuntamente pelo Instituto de Química (IQ) e Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp investiga uma alternativa para minimizar os dois problemas. A saída, conforme os especialistas, está no etanol, produto encontrado em abundância por aqui. A adição de álcool ao diesel, estimam os cientistas, ajudará a reduzir tanto a dependência brasileira do mercado externo quanto a quantidade de poluentes lançada ao ar pelos escapamentos de ônibus e caminhões.

Mas a solução não é tão simples como pode parecer à primeira vista. Não basta acrescentar um determinado volume de etanol ao diesel e pronto, é só abastecer o veículo e sair dirigindo. De acordo com Evandro José da Silva, que desenvolve uma tese de doutorado sobre o tema no IQ, para se tornar homogênea e não prejudicar o desempenho do motor, essa mistura tem que partir de uma fórmula extremamente precisa.

0corre que o álcool não se mistura bem com diesel, ao contrário do que ocorre com a gasolina. Se a mistura fosse injetada no motor, aconteceria o que os especialistas denominam de “separação de fases”, ou seja, os combustíveis se apartariam.
Outra dificuldade é que, ao ser incorporado ao diesel, o álcool reduz o índice de cetanagem da mistura, unidade de medida correspondente à octanagem da gasolina, um indicativo do poder de ignição do combustível. “Para tentar superar essas adversidades, nós estamos estudando a utilização de aditivos, cuja função é impedir a separação de fases e aumentar o índice de cetanagem”, explica o professor Rahoma Sadeg Mohamed, co-orientador da tese que está sendo elaborada por Evandro. O docente da FEQ afirma que está sendo analisada uma ampla faixa de compostos, para que se chegue a um aditivo que apresente as características desejadas. A princípio, diz, qualquer planta oleaginosa, como a soja ou a mamona, pode servir de matriz para a obtenção do aditivo.

Segundo o professor Mohamed, não há um índice padrão para a adição do etanol ao diesel. Os especialistas do IQ/FEQ projetam, porém, que é possível produzir, num primeiro momento, uma mistura com cerca de 10% de álcool. “Nosso objetivo é chegar à mistura perfeita e ao aditivo perfeito, de modo a obtermos ganhos econômicos e ambientais para o Brasil”, adianta o docente, acrescentando que acredita que o trabalho gere uma nova patente para a Universidade. Ainda de acordo com ele, os estudos indicam que é possível atingir essa meta, embora isso demande tempo, esforço e investimento. Evandro esclarece que a importância ambiental do etanol, nesse caso, é dupla. Primeiro, por tratar-se de uma fonte energética renovável.

Segundo, porque o álcool ajuda a eliminar o material particulado emitido pela queima do óleo diesel. “O material particulado vai para a atmosfera por causa da combustão incompleta, em virtude da falta de oxigênio. Como o etanol tem oxigênio, essa substância passa a ser queimada”, ensina. Além da tese de doutorado de Evandro, orientada pelo professor Watson Loh do IQ, essa linha de pesquisa já gerou uma dissertação de mestrado na FEQ. Uma outra dissertação, de Juliana da Silva Bernardes, deverá ser iniciada em breve. A expectativa dos pesquisadores é que os estudos, financiados pelo CNPq e pelo CT-Petro, colaborem para ampliar a participação do etanol na matriz energética nacional, alternativa que nenhum outro país no mundo tem. (M.A.F.)

 

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