ciliostop.gif
Jornal da Unicamp

Semana da Unicamp

Assine o "Semana"

Divulgue seu assunto

Divulgue seu evento

Divulgue sua Tese

Cadastro de Jornalistas


Mídias

Sinopses dos jornais diários

Envie dúvidas e sugestões

ciliosbott.gif (352 bytes)

1 2-3 4-5 6-7 8-9 10-11-12 13-14 15 16 17 18 19 20 21 22-23 24

Página 20

Depoimentos

"Havia condições de levar a perícia adiante"

Quando a Unicamp foi procurada para participar desse trabalho de identificação das ossadas, fato que teve enorme repercussão nacional, a idéia foi, desde logo, desenvolver o trabalho com uma cooperação bastante grande entre as instituições que, de maneiras distintas, estavam interessadas no processo. E mais, é claro, o acompanhamento dos familiares e de organizações nacionais e internacionais. Eu penso que, nesse sentido, o processo foi bastante positivo, pelo menos no seu início, na medida em que procuramos, enquanto eu estava na Reitoria, criar para o então Departamento de Medicina Legal as condições físicas e técnicas não só para poder abrigar as ossadas, mas ao mesmo tempo permitir o trabalho do pessoal envolvido.

Houve um número significativo de identificações e pudemos anunciar aqui na Unicamp, com enorme satisfação institucional, juntamente com a prefeita Erundina, os resultados que foram sendo obtidos. Depois, quando eu deixei a Reitoria, confesso que fiquei um pouco decepcionado com o fato de o processo ter sido interrompido, por razões que no momento eu talvez nem tenha condições de avaliar. Mas considerando o fato em si, penso que a Unicamp teria tido e sempre teve condições de levar adiante o trabalho. Condições essas que não eram exclusivas da Unicamp, pois supunham uma cooperação bastante grande de técnicos não só da Universidade, como de outras instituições.

Este trabalho poderia ter sido levado adiante. Esta é minha opinião até hoje, sempre insisti nisso. Enquanto estive na Reitoria procurei fazer cumprir o que a Unicamp assumiu com os familiares, a prefeita e as instituições legitimamente e humanamente interessadas nessas identificações. Não estou bem certo, mas penso que o que foi identificado, foi durante minha gestão. No período em que estive na direção, cumprimos o que tínhamos combinado. Depois, de fato, o processo entrou numa fase de diminuição de procedimentos, ele foi mais devagar. Até culminar com a situação a que se chegou mais tarde.

Fiquei surpreso pelo fato de as administrações seguintes não terem dado continuidade. As pessoas com quem trabalhei, na ocasião, foram todas extremamente corretas, leais e funcionaram bem, com dedicação e disciplina. Não só do Departamento de Medicina Legal, mas também da FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba) e de outras instituições. Foi um setor que prestou serviços enormes não só nesse episódio, mas em vários outros. O que aconteceu depois, não sei.

Embora houvesse tensão entre as pessoas – houve sempre e isso é normal –, ela não chegou nunca ao ponto de dissolução de um departamento inteiro, com as características que tinha esse departamento. Ao contrário, o DML nós criamos na gestão do Paulo Renato (Paulo Renato Souza, atual ministro da Educação) e procuramos consolidá-lo na gestão seguinte, dentro da Faculdade de Ciências Médicas. Certamente, um dos fatores que influenciaram para o não desenvolvimento também dos trabalhos de identificação das ossadas, é que foi havendo uma desagregação do pessoal internamente. Isso foi esgarçando.

‘A Universidade tem que servir à sociedade’

Quando assumi a Reitoria da Unicamp, as ossadas já estavam na Universidade. Naquele momento, as famílias dos desaparecidos políticos estavam insatisfeitas com a condução dos trabalhos de identificação. Eu fui até São Paulo e participei de uma reunião com representantes dos familiares, na Secretaria de Justiça. Foi necessária a intervenção da Reitoria para tranqüilizá-los. Depois de alguma negociação, ficou decidido que o professor Badan Palhares seria substituído pelo doutor Eduardo Zappa na coordenação dos trabalhos.

Considero que uma Universidade pública tem que prestar serviços à sociedade. E a solicitação para resgatar um processo histórico importante como a identificação das ossadas se encaixa nessa missão. É uma atividade que envolve riscos, pois se trata de um processo difícil, que tem que levar em conta a capacidade técnica para fazer o diagnóstico. Nós chegamos até a pedir à Universidade Federal de Minas Gerais que fizesse o exame de DNA numa das ossadas para tentar identificá-la. Posso garantir que, durante o período em que estive à frente da Reitoria, a Unicamp não mediu esforços – tanto do ponto de vista técnico quanto institucional – para identificar o maior número possível de ossadas.

OUTRAS OPINIÕES

Houve alguns percalços, pelo que eu sei. Desde que estou na Secretaria tratando deste assunto, tive a Unicamp como parceira, sem qualquer problema. Quando se deliberou, a pedido dos familiares, que as ossadas fossem transferidas para o IML, não houve nenhuma dificuldade que a Universidade tenha colocado. Acho que a Secretaria da Segurança e a Unicamp têm trabalho em parceria e não há nenhuma reclamação recíproca. Estamos muito satisfeitos. O trabalho está caminhando. É um trabalho pesado, difícil, que envolve uma época triste da história do Brasil; envolve interesses muito respeitados, que são os interesses dos familiares dos desaparecidos. Há dificuldades. Essas dificuldades às vezes levam a alguns comentários duros, tanto contra nós como contra a Unicamp.

Mário Papaterra (à direita), secretário adjunto da Segurança Pública do Estado de São Paulo

O objetivo do Ministério Público neste inquérito foi de catalisar, reunir os vários atores envolvidos para que houvesse uma canalização dos esforços, uma concentração no sentido de concluir os trabalhos. Eu acho que isso até o momento tem sido exitoso. O inquérito não visa julgar, avaliar ou verificar a atuação da Unicamp. Ele objetiva a conclusão dos trabalhos. É evidente que esta é uma história muito longa, com relevo histórico muito triste e com alguns senões que não estão esclarecidos para todos. Mas eu não tenho o propósito de esclarecê-los neste inquérito e nem sei se haverá esse objetivo algum dia. O que quero, aqui, é buscar a verdade, uma satisfação aos familiares sobre a realização das identificações.

Marlon Alberto Weicher (à esquerda), procurador da República que cuida do caso das ossadas pelo Ministério Público Federal.


© 1994-2000 Universidade Estadual de Campinas
Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP
E-mail:
webmaster@unicamp.br