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Depoimentos

‘O arrepio se transforma em terror’

Tive muitas experiências dramáticas relativas ao trabalho com a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Poucas se comparam à relação com a Unicamp e o trabalho de investigação das ossadas encontradas na Vala do Cemitério de Perus.

Pensar que as ossadas foram encontradas e trasladadas para a Unicamp em 1990, chega a dar um arrepio... E o arrepio se transforma em terror ao lembrar as fotos que, anos atrás, retrataram o descaso e o desleixo com que foram tratadas.

É bom lembrar que não foram somente os familiares de mortos e desaparecidos políticos os ofendidos – foi a história de nosso país! Para mim, foi cometido um crime – o de vilipendiar os restos mortais. E a responsabilidade não foi só do DML. Até hoje não recebemos da Reitoria qualquer resposta significativa que justifique tal crime, nem ao menos notícia de qualquer tipo de providência tomada para investigar o fato e punir os responsáveis.

Passamos, os familiares, a ser considerados pela Unicamp como indesejáveis, para não usar termo pior. Não foram poucos os relatos dos familiares que aí foram destratados e ofendidos.

Quais serão os segredos não revelados? Será que adianta perguntar o por quê?

Será que algum dia saberemos se é verdade ou não que Fortunato Badan Palhares viajou ao Japão por conta desse trabalho, e se o dinheiro usado estava ou não à disposição para a identificação das ossadas?

Será que algum dia a Unicamp prestará contas, com a seriedade que o caso exige, do que foi feito? E onde estão os registros feitos de cada ossada, as fotos, o exame antropométrico, os dados computadorizados?

Não será extinguindo o Departamento de Medicina Legal que, magicamente, os desmandos cometidos serão extintos.

A Unicamp deve aos familiares de mortos e desaparecidos políticos e à sociedade brasileira uma resposta.

E não venham com velhas respostas, porque a impunidade não perdura. Que o diga o General Pinochet!"

Suzana Keniger Lisbôa – Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos

‘Pendências importantes estavam em jogo’

Reportando desde 1990, quando aqui na Unicamp chegaram as ossadas, minha opinião é que os trabalhos foram conduzidos realmente como haviam sido planejados, a partir do convênio entre Estado, Prefeitura de São Paulo e Unicamp. Após alguns importantes resultados obtidos, dois ou três anos depois, quando já se pensava que boa parte de novos resultados estava em andamento, é que a gente percebe e, aí coincidindo com o término do governo da Luíza Erundina, que as coisas começam a ficar mais lentas.

Eu acredito que, desde aquela época, quando se buscou junto ao Estado que se tomasse um posicionamento mais eficaz, no sentido de terminar com esse processo, a gente pôde perceber realmente a lentidão de como estas coisas eram encaminhadas. Eu acompanhei várias dessas diligências, com visitas às várias secretárias de Estado da Justiça, e de Segurança Pública, nas quais estava ainda vinculado o processo. E, naquela ocasião, a gente sempre saía de lá acreditando que num curtíssimo prazo seriam tomadas as providências mas essas coisas ganhavam uma dimensão desrespeitosa de muito mais tempo, meses ou anos a fio, e nada acontecia.

Isso coincidiu também com o relaxamento que foi feito aqui dentro da Unicamp pela gestão administrativa de então, bem como a precedente, associada à alegação de falta de recursos para a continuidade das investigações. Eu acredito que havia a boa vontade da equipe de trabalho, mas como essa coisa não tinha ressonância perante ao Estado, visto que era um processo afeito à Secretaria Estadual de Segurança, tudo permanecia meio adormecido. Isso incomodou muito os familiares, especialmente quando surgem todas as denúncias e desfeitos com relação àquele que teria presidido os trabalhos aqui na Unicamp, o que promoveu uma dimensão muito forte de descrença.

Todos nós familiares queríamos saber se realmente a continuidade daqueles trabalhos seria efetivada ou não; que perguntas importantes precisam ser respondidas; e se eventualmente respostas e perguntas foram omitidas. Pendências importantes estavam em jogo, o que precisou a intervenção importante por parte dos familiares através de um processo que terminou sendo direcionado ao Ministério Público Federal. E, sem nenhum medo de errar, foi o Ministério Público que conseguiu pressionar o Estado para que se tomasse as providências atuais. Acredito que a postura da Unicamp, nesta última gestão, veio garantir maior lisura ao processo.

Visando o pronto atendimento das atuais cobranças, foi estabelecida uma comissão independente do DML e da própria Reitoria, mas com pessoas da comunidade acadêmica vinculadas ou não ao processo, como era o caso do diretor da Faculdade de Ciências Médicas, do diretor da Faculdade de Odontologia, e de um profissional do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, de grande aceitação e respeitabilidade dentro e fora da Unicamp. Este último, na direção dessa comissão, vem com muito cuidado e presteza conduzindo esse trabalho de intermediação junto às diferentes instâncias (familiares, Unicamp, Estado, Federação). Temos, sem dúvida, a visibilidade de um posicionamento austero da atual reitoria.

Paulo Maria Ferreira de Araújo é irmão de José Maria Ferreira Araújo, militante da VPR, membro do Grupo Tortura Nunca Mais – SP, professor do Instituto de Biologia da Unicamp e representante da Universidade no Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana.


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