ANO XVII - 09 a 15 de dezembro de 2002 - Edição 201
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Tese conclui que condições institucionais interferem no resultado final do programa

Pesquisa avalia funcionamento do PNAE

ANTONIO ROBERTO FAVA


O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o mais antigo programa social do governo federal na área de alimentação e nutrição, foi o principal objeto de estudo da pesquisadora Gilma Lucazechi Sturion, da Esalq/USP, que resultou na tese de doutorado Programa de Alimentação Escolar: Avaliação do desempenho em dez municípios brasileiros, defendida na Unicamp. E os resultados a que chegou permitiram concluir que as precárias condições institucionais da maioria das unidades escolares avaliadas, principalmente quanto à disponibilidade e capacitação de recursos destinados à implementação, refletem negativamente no atendimento dos objetivos nutricionais do programa.

Para se ter um exemplo, basta dizer que entre as 20 escolas visitadas, apenas as refeições oferecidas nas unidades do município de Tailândia, no Pará, atendiam às determinações do PNAE, ou seja, 15% das recomendações nutricionais diárias em termos de calorias e proteínas.

A pesquisa, sob orientação da professora Maria Antonia Galeazzi -, ex-docente da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp - foi realizada em cinco estados brasileiros: Parnaíba e Brasileira (Piauí), Abaetetuba e Tailândia (Pará), Contagem e Baldim (Minas Gerais), Anápolis e Itaguaru (Goiás) e Joinville e Ponte Serrada (Santa Catariana). "O estudo constitui-se numa amostra de conveniência", justifica Gilma, com o intuito de contemplar municípios que apresentassem diferentes modalidades de descentralização e especificidades de gestão do PNAE.

A partir de entrevistas dos agentes implementadores do programa e de cerca de 2.700 alunos dos 15 mil matriculados nas escolas investigadas, o estudo de Gilma procurou também identificar os principais condicionantes do consumo da merenda oferecida na unidade de ensino. Ao longo de sua pesquisa, Gilma pôde identificar diferenças existentes entre duas modalidades de descentraliza-ção, ou seja, a municipalização (quando a Prefeitura recebe o recurso federal para a compra de alimentos e envio às escolas municipais ou de toda rede pública) e a escolarização (quando a unidade de ensino recebe o recurso federal para a aquisição dos alimentos).

O programa municipali-zado normalmente conta com estrutura própria de gestão e quadro de funcionários exclusivos para tal finalidade. No escolarizado o diretor da escola soma às atividades pedagógicas inerentes ao seu cargo aquelas relativas à gestão do PNAE, gerando, evidentemente, sobrecarga de atribuições.

Refeições são oferecidas nos intervalos
Macarrão com carne, arroz, feijão, carne moída, polenta com carne, risoto de frango e sopa são as preparações predominantes nos cardápios oferecidos no intervalo das atividades escolares - às 9h30 e às 15h30. Geralmente o que se espera para esse horário são preparações tipo "lanche" como pão com recheio e leite enriquecido ou suco com biscoito e frutas, entre outros tipos de alimentos considerados "caros" para um programa que dispõe de R$ 0,13 per capita por dia para cada criança, no caso da impossibilidade de complementação dessa verba para compra de alimentos pelos municípios.

O PNAE visa suplementar a alimentação do escolar melhorando suas condições nutricionais e sua capacidade de aprendizagem. Os resultados da pesquisadora mostram que o programa tem uma dimensão social mais abrangente, pois, embora tendo um caráter universal, está focalizado nas crianças com estado nutricional comprometido.

Gilma recomenda que os implementadores do programa invistam mais recursos na compra de alimentos, na contratação de técnicos especializados e na capacitação de pessoal e implementação de supervisão sistemática. E sugere, também, que seja feito "um estudo detalhado para identificar os motivos da pouca participação dos escolares no programa e, principalmente, as suas preferências para subsidiar o planejamento dos cardápios e atender às suas expectativas".