O potencial de um gel anticoncepcional e microbicida, o Acidform, para reduzir o risco de aquisição do vírus HIV, vem sendo avaliado pelo Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) da Unicamp. Em execução pelo Ambulatório de Planejamento Familiar, são os primeiros estudos realizados por uma universidade brasileira com esse produto de uso vaginal.

Trata-se de um fórmula desenvolvida pelo programa "Topcad" da Rush University, de Chicago, e fabricada em Campinas por uma farmácia de manipulação, em projeto conjunto com o Cemicamp. Sua propriedade de manter o pH ácido da vagina (menor que 4,7), protegendo-a naturalmente, torna esse gel capaz de matar não apenas os espermatozóides, mas também agentes de infecção transmitidos na relação sexual.

Os primeiros testes clínicos com o Acidform foram feitos em duas fases, com 38 mulheres de idade entre 18 e 45 anos. Orien-tadas pelos pesquisadores, elas participaram voluntariamente do projeto, sob a supervisão da professora Eliana Amaral, do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM).

Segundo Eliana, estudos de laboratório mostram que o gel é capaz de matar vários agentes transmissores como o HIV, a gonorréia e a clamídia. Também pode ser um bom espermicida, pois revela-se muito eficiente em imobilizar os espermatozóides. Tem ainda o poder de atuar no controle da vaginose bac-teriana, uma alteração da flora que produz freqüentes corrimentos. A vaginose, um desequilíbrio das bactérias que fazem parte da vagina, afeta muitas mulheres. "Para que isso possa ser evitado, é preciso deixar a vagina em condições normais de pH ácido, o que a protege contra o desenvolvimento de bactérias anormais", explica.

Duas fases - Numa primeira fase das pesquisas, avaliou-se a vagina detidamente com aumento de 40 vezes, por meio de um exame denominado colposcopia, após a aplicação do gel por seis dias, com o objetivo de saber o grau de tolerância do órgão genital ao produto. As mulheres que utilizaram o Acidform puro, sem nenhum componente adicional, não apresentaram nenhuma reação negativa. A tolerância ao produto foi considerada "excelente". Por outro lado, entre as que usaram o gel adicionando Nonoxinol 9, observou-se uma espécie de irritação no órgão genital.

A segunda fase envolveu vinte casais, durante quatro ciclos menstruais. As mulheres foram examinadas no meio do ciclo da menstruação e novamente até três horas após manterem relações sexuais, a fim de que se verificasse o efeito dos produtos antes do ato sexual. No primeiro ciclo não se utilizou nenhum produto; no 2º, 3º e 4º ciclos os casais utilizaram de forma aleatória cada um dos produtos em teste - o Nonoxinol 9, colocado com até duas horas de antecedência, e o Acidform, de duas horas ou até oito a dez horas antes da relação.

Resultados - Os resultados deste segundo estudo mostram que o Acidform, conforme previsto pelos exames de laboratório, é capaz de matar os espermatozóides quando usado antes do coito. Após a relação sexual com uso do gel espermicida, o exame do conteúdo penetrando através do colo do útero, o muco cervical, mostra os espermatozóides todos mortos.

A pesquisa procurou saber se o Acidform provocava menor, igual ou maior reação em comparação ao espermicida Nonoxinol 9, e se havia uma mudança significativa na flora vaginal, isto é, nas bactérias que normalmente habitam o órgão feminino. Isto não ocorreu e as bactérias protetoras da vagina estavam preservadas. Tais resultados indicaram o produto como um espermicida e microbicida promissor para testes ampliados de eficácia.