ANO XVII - 09 a 15 de dezembro de 2002 - Edição 201
Jornais anteriores
Unicamp Hoje
PDF
Enquete
Unicamp
Assine o JU
3
Capa
Comentário
Saúde
Terabits
Revolução
PNAE
Adesão
Painel da Semana

Referência
Vida Univesitária
Governo do Estado
Patentes
Parcerias e investimentos
Gel Anticoncepcional
Prêmio Internacional
Oportunidades

Energia
Jazz em Cuba
Teses
Memória afetiva
Unicamp na mídia
Oswald de Andrade

De revolução em revolução

A fibra óptica transmite luz, mas apresenta perdas, exigindo a recuperação do sinal a cada 50 quilômetros, pelo menos. Para isso, até 1995, utilizava-se como única tecnologia um sistema de repetidores colocados trecho a trecho, chamado 3R. Os três "r" são de regeneração, retemporização e reformatação. Implicam, respectivamente, em amplificação do sinal transmitido, ordenamento dos tempos de retransmissão de cada bit e correção de distorções no bit provocadas por flutuações no sistema.

Os equipamentos mais avançados operavam a até 1 gigabit por segundo. "Mas quando o tráfego entre duas cidades crescia, pedindo um aumento de 155 para 622 megabits, era necessário trocar não apenas transmissor e receptor, mas todos os equipamentos 3R instalados no caminho", ilustra o pesquisador Hugo Fragnito. Por demandar essencialmente computadores, o sistema saía caro e o transtorno (e prejuízo) da troca se repetia quando se alterava taxa ou protocolo de comunicação, visto que os repetidores não ofereciam a opção de operar em qualquer padrão.

As telecomunicações ópticas utilizam muito o padrão SDH (Hierarquia Digital Síncrona), pensado para telefonia, e que ainda presta um serviço impecável. Ocorre que o sinal de voz é transmitido a uma taxa baixa, de 64 quilobits por segundo, o que não acontece com um vídeo ou um banco de dados. Para esses aplicativos surgiram outros protocolos, como o ATM (Modo de Transferência Assíncronon). E veio ainda a internet, que pede outro padrão. "Era o quadro que tínhamos: um sistema de apenas 1 gigabit por segundo e a internet explodindo. Quando a demanda passava de 1 gigabit, acendia-se outra fibra óptica", observa Fragnito.

O Érbio - Em 1987, anunciou-se na Universidade de Southampton (Grã-Bretanha) o amplificador óptico a Érbio, que permitia atuar na região de 1,5 mícron de comprimento de onda, a mais transparente possível, onde a perda é mínima. Aumentou-se a capacidade até 4 terabits, sem que se dependesse mais da taxa. "O amplificador a Érbio virou um sucesso. Passou do laboratório de pesquisa para o mercado em dois anos, um recorde na transferência de tecnologia da universidade para a sociedade", lembra Fragnito.

Houve ainda uma acentuada diminuição de custos. Passou-se, simplesmente, a pegar a luz no transmissor em Campinas e a mandar para o Rio de Janeiro; onde havia um 3R de 1 gigabits, que custava US$ 40 mil ou US$ 50 mil dólares, arrancava-se para colocar um amplificador de 4 terabits, então a US$ 30 mil. A indústria de componentes otimizou a produção e o preço do amplificador simples caiu a US$ 2 mil, podendo baixar a US$ 1 mil. Além de se amplificar qualquer taxa e padrão, podia-se amplificar vários lasers na mesma fibra óptica, ou seja: ao invés de ligar outra fibra, ligava-se na mesma fibra outro laser, numa tecnologia denominada WDM (Multiplexação por Divisão de Comprimentos de Onda). "A conjunção do érbio com o WDM é que provocou esta revolução nas telecomunicações", observa o pesquisador do CePOF.

Paramétrico - O Érbio parecia a solução definitiva, mas o tráfego crescente já pede mais que os 4 terabits por segundo em cada fibra. Caso contrário, a internet, por exemplo, pode tornar-se novamente lenta e sofrível. Existe uma grande atividade de pesquisa no mundo atrás de novos amplificadores ópticos que operem em regiões diferentes do érbio, com mais largura de banda para se colocar mais lasers e sem risco de perda da transparência a taxa e protocolo.

O Cepof, que tem tradição em pesquisas nesta área, estuda o amplificador a Érbio desde 1987 e vem avançando na combinação com outros materiais. Agora apresenta uma nova tecnologia em desenvolvimento, o amplificador paramétrico, que oferece o atrativo de uma faixa de operação muito maior que a do Érbio, resposta plana, amplificação por igual e transparência a taxa e protocolo, além de não requerer materiais espe-ciais. É tecnologia para o futuro relativamente imediato de quatro ou cinco anos, viabilizando amplificadores com 100 terabits, aplicativos de enorme largura de banda e a preços razoáveis.

E Hugo Fragnito ressalta: "A coisa não acaba aqui. Assim como meus professores, em 1975, afirmavam que a fibra óptica "era" a tecnologia do futuro, em cinco ou dez anos vamos dizer: "foi'".