192 - ANO XVII - 30 de setembro a 6 de outubro de 2002
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Os professores Márcio Ajudarte Lopes (esq.) e Jacks Jorge: atendimento à população de dezenas de cidades Além da odontologia clássica

Clínica da FOP para tratamento de lesões bucais complexas é referência regional

MARIA ALICE DA CRUZ

As lesões bucais nem sempre podem ser prontamente diagnosticadas em consultas odontológicas de rotina. Algumas pessoas desenvolvem doenças que afetam a mucosa e os ossos da cavidade bucal. Segundo o professor Márcio Ajudarte Lopes, do Orocentro da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, estes pacientes precisam ser submetidos a exames específicos, pois podem desenvolver doenças que fogem da rotina de clínicos e periodontistas, apesar do treinamento extensivo que estes profissionais recebem em sua formação. Para suprir a necessidade de diagnóstico e tratamento específico para pacientes com este último grupo de doenças, uma equipe de profissionais da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp, coordenada pelos professores Márcio Ajudarte Lopes e Jacks Jorge, presta atendimento à população de dezenas de municípios do Estado de São Paulo.

Fundado há 30 anos pelos professores Lourenço Bozzo e Oswaldo Di Hipólito Júnior, o Orocentro tornou-se referência na região. Entre as principais atividades da clínica estão atendimento odontológico a doentes de câncer e portadores de HIV e com manifestações clínicas da Aids. A este grupo é oferecido tratamento convencional como restaurações, cirurgias, canal, bem como tratamento de periodontal e protético (próteses).

A estomalogia, como é chamada a especialidade, extrapola os cuidados oferecidos pela odontologia clássica. Segundo Lopes, é necessário um longo período de treinamento aos profissionais desta área e a atividade requer o uso freqüente de exames como biópsias e radiografias, além da realização de cirurgias de pequeno e médio portes na cavidade bucal. Segundo o professor Jacks, entre as doenças benignas apresentadas pelos pacientes estão as associadas ao uso de prótese muito antiga e sem condições de uso como a hiperplasia fibrosa e ulcerações.

Lesões - Outra doença comum é o mucocele, que ocorre mais freqüentemente em jovens e cujo sintoma é o aumento do volume, principalmente, do lábio inferior. Nos casos de lesões malignas, o professor Lopes destaca o carcinoma espinocelular, o câncer mais comum da cavidade bucal. Esta doença, segundo Lopes, atinge geralmente homens com idade acima de 40 anos e na maioria tabagistas e consumidores de bebidas alcoólicas. As lesões, segundo o professor, iniciam-se com freqüência na língua e no assoalho bucal. Se não for diagnosticada em tempo de ser tratada, essa doença pode causar a morte do paciente.

"No Orocentro, os dentistas estão mais habituados a lidar com esses pacientes", justifica. Dos 9.500 pacientes atendidos de 1988 a maio de 2002, 1.400 tinham necessidades especiais e receberam tratamento odontológico

Deste total, 522 eram portadoras do HIV e 120 apresentavam câncer na cavidade bucal. Jacks Jorge explica que o tratamento dentário em pacientes com câncer e Aids poderia ser realizado em consultórios convencionais, mas em alguns casos esse atendimento requer cuidados especiais. Lopes explica que pacientes que sofreram radioterapia da região de cabeça e pescoço não podem ser submetidos a exodontias (extração de dentes), pelo risco de infecção do osso. Também são comuns nesses pacientes, segundo Lopes, a ocorrência de xerostomia (boca seca), a tendência aumentada de cáries e a candidíase, mais conhecida como sapinho. Os profissionais precisam ser cautelosos ao fazer intervenções cirúrgicas, pois, após uma radioterapia, os ossos ficam suscetíveis a infecções. Além disso, esses doentes têm uma tendência à formação de cárie, xerostomia (boca seca) e osteoradionecrose (infecção no osso). "Por isso, pacientes que irão receber tratamento radioterápico devem ser avaliados e tratados por dentistas especialistas antes e após a radioterapia".

Clínica faz mil consultas mensais

O serviço começou há 30 anos com apenas um consultório e uma sala. Em 1988, o professor Jacks Jorge propôs a reestruturação da clínica com vistas ao atendimento a pacientes com câncer e à eficiência no cadastro de prontuários. Inicialmente eram atendidos de cinco a dez pacientes novos por mês em apenas um consultório. Nos últimos 12 anos, o serviço passou por ampla reestruturação, principalmente com relação à área física, equipamentos e gerenciamento de dados. Atualmente estão disponíveis sete consultórios completos, além de equipamentos para captura de imagem digital e realização de radiografias panorâmicas. O serviço básico oferecido é o diagnóstico e tratamento de lesões bucais.

"O número de pacientes atendidos pelo Orocentro tem crescido significativamente ao longo dos anos e atualmente são atendidos cerca de 120 pacientes novos e realizadas cerca de mil consultas mensais", garante Lopes. A equipe atual, de cerca de 20 profissionais, é formada por professores, pós-graduandos e dentistas especializados. "A maioria dos pacientes é tratada no próprio local, desde que não haja necessidade de anestesia geral ou da intervenção de profissionais da área médica. Se houver esta necessidade, os pacientes são encaminhados a hospitais da rede pública ou conveniados para o devido tratamento", explica.