| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 376 - 15 a 21 de outubro de 2007
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O espaço da Unicamp na órbita do programa espacial brasileiro

ÁLVARO KASSAB

O professor e geólogo Álvaro Crósta em sua sala e abaixo na cratera de impacto de Araguainha, Mato Grosso, descoberta pelo diretor do Instituto de Geociências (Fotos:Antonio Scarpinetti/Divulgação)O programa espacial brasileiro, a despeito de acidentes e problemas históricos, está no caminho certo. A avaliação é de três dos docentes da Unicamp que organizaram, no último dia 4 de outubro, o Fórum Especial “50 Anos da Era Espacial”. São eles: Álvaro Crósta, diretor do Instituto de Geociências (IG); Jurandir Zullo Júnior, diretor do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri); e Max Henrique Machado Costa, diretor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC).

A data que deu origem ao evento na Unicamp foi lembrada em todo o mundo. No dia 4 de outubro de 1957, a União Soviética lançou, no Cosmódromo de Baiknour, Cazaquistão, o satélite artificial Sputnik-1. A Guerra Fria sumiu na poeira, embora ainda paire a sombra da militarização do espaço e os temores do uso de informações sigilosas e de tecnologias para fins bélicos. A reserva de mercado é pesada.

Falar em corrida espacial, porém, soa algo anacrônico. “Isso é coisa de Flash Gordon”, compara Max. “É uma cortina de fumaça”, endossa Crósta. “A realidade hoje é outra”, opina Zullo. Os especialistas acumulam milhagem em pesquisas na área.

Crósta introduziu na Unicamp, em 1990, o Laboratório de Processamento de Informações Geo-Referenciadas (Lapig), o primeiro do gênero instalado numa universidade brasileira. Desenvolveu técnicas de exploração mineral usando imagens de satélites e é o descobridor de três das cinco crateras de impacto identificadas no Brasil. Max passou pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), pela Nasa e desenvolveu trabalhos importantes na área. Zullo, que dirige um centro que se tornou referência em previsão de safra agrícola a partir da prospecção de dados meteorológicos, trabalha na calibragem dos satélites sino-brasileiros CBERS-2 e CBERS-2B, este último lançado no último dia 18 de setembro.

O acordo entre o Brasil e a China é visto pelos três docentes como um divisor de águas no programa espacial. O desenvolvimento dos satélites CBERS está a cargo no Brasil do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT), sob coordenação da Agência Espacial Brasileira (AEB). Nestas duas páginas, os especialistas analisam os avanços do país e detalham as pesquisas desenvolvidas em suas respectivas unidades. Na opinião dos professores, a Unicamp já dispõe de uma significativa massa crítica na área.

Na opinião do geólogo e professor Álvaro Crósta, diretor do Instituto de Geociências (IG), o ingresso do Brasil no seleto clube de países que operam satélites de sensoriamento remoto e de observação da Terra está fazendo com que o país se destaque no cenário internacional.

Uma característica que distingue o Brasil de outras nações, observa o docente, é o fato de o país adotar o livre acesso a imagens geradas por satélites. “A tendência é que outros países sigam essa mesma política”.

Segundo Crósta, até dez anos atrás predominava a opinião de que era mais importante ter os dados para depois vendê-los a custos muitas vezes exorbitantes. “Descobriu-se que a informação a ser gerada é muito mais valiosa do que a imagem em si”.

Na opinião de Crósta, com o lançamento do satélite sino-brasileiro CBERS-2B, ocorrido no último dia 18 de setembro, o país consolida sua posição no grupo que detém a tecnologia de observação da Terra a partir do espaço. O diretor do IG lembra que, historicamente, essas tecnologias nasceram por necessidade militar e de inteligência, enquanto no Brasil ocorreu o contrário. “O uso, no nosso caso, é eminentemente para fins pacíficos”.

“O Brasil apostou – e isso também nos distingue – que os benefícios que essa tecnologia civil trará são muito maiores. Nós não temos aspirações hegemônicas”, afirmou, lembrando que por uma questão de soberania e de defesa territorial, tornou-se estratégico hoje, para qualquer nação, o acesso aos seus próprios dados a partir do espaço. “Conflitos recentes, como as guerras no Oriente Médio, revelam o peso dessas imagens no teatro de guerra”.

Crósta acredita que a vocação do país na área espacial está claramente delineada. A direção é o monitoramento ambiental e a exploração de recursos naturais. “Sem satélites, por exemplo, seria impossível acompanhar, monitorar e eventualmente coibir o desmatamento ilegal”, afirma o especialista.

Segundo o docente, é opinião corrente entre os estudiosos que os Estados Unidos estão embarcando pesadamente na corrida espacial, inclusive com o projeto de levar o homem a Marte. “Na nossa avaliação, trata-se de uma cortina de fumaça”.

Na opinião do professor, os meios tecnológicos disponíveis dispensam, por enquanto, a necessidade de missões tripuladas. “Os robôs, por exemplo, coletam uma enormidade de dados, como temos visto em Marte”, observa. “O custo de enviar seres humanos para Marte é altíssimo”.

Lançamento do satélite sino-brasileiro CBERS-2, ocorrido em 2003: acordo entre os dois países integra programa da Agência Espacial BrasileiraNa unidade – O Instituto de Geociências dispõe atualmente de laboratórios que atuam em atividades de monitoramento e de análise dos recursos naturais nas áreas da Geologia e da Geografia. Essas atividades, pioneiras em universidades do país, iniciaram-se em 1990, com a implantação por Crósta do Laboratório de Processamento de Informações Geo-Referenciadas (Lapig).

O docente ingressou em 1984 na Unicamp, mas na época havia pouca coisa da área no Brasil. Crósta, já mestre pelo Inpe, decidiu fazer doutorado em sensoriamento remoto geológico no Imperial College, Inglaterra.

Quando retornou, em 1990, implantou o Lapig no âmbito de um grande projeto na área da informática da Unicamp. “Nosso laboratório era, à época, o mais avançado do Brasil na área de processamento de imagens de satélite”, lembra o docente. “Fomos pioneiros na utilização de soluções de hardware e de software internacionais”.

A partir daí, observa Crósta, as pesquisas ganharam impulso e destacaram o Instituto de Geociências da Unicamp na área de sensoriamento remoto. Primeiramente, na área de exploração mineral, por meio de análises de imagens de satélites e de aviões na identificação de feições relacionadas a depósitos minerais. Posteriormente, com a implantação das atividades de pesquisa em Geografia no IG, foram expandidas para outras áreas de aplicação, como meio ambiente e climatologia.

Crósta é reconhecido como um dos maiores especialistas em estudos de cratera no Brasil. O cientista foi o descobridor de três das cinco crateras de impacto identificadas no país – a de Araguainha (Mato Grosso), Vargeão (Santa Catarina) e Vista Alegre (Paraná). As outras duas – Cangalha (Tocantins) e Riachão (Maranhão) – foram reconhecidas por um geólogo norte-americano, John McHone.

“A única maneira de identificar essas crateras é recorrendo, num primeiro momento, às imagens de satélites”, afirma, lembrando que o IG é uma das poucas instituições brasileiras a atuar também no campo das Ciências Planetárias.

Nessa área, lembra Crósta, destaca-se a participação do professor Carlos Roberto Souza Filho, do IG, em projeto financiado pela Nasa cujo objetivo é identificar, na constituição geológica marciana, características semelhantes às formações rochosas da Terra que abrigaram estruturas biológicas muito primitivas. Souza é, atualmente, o coordenador do Lapig.

“No IG desenvolvemos atividades de ensino e pesquisa em todos os tipos de aplicações geológicas de sensoriamento remoto e de sistemas de informações geográficas (SIG), que hoje é uma ferramenta essencial para fazer análise de dados espaciais e gerar mapas e modelos”. Na área de sensoriamento remoto geológico, o Instituto é pioneiro, no âmbito das universidades brasileiras, na formação de mestres e doutores.

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