| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 376 - 15 a 21 de outubro de 2007
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Estudo de livre-docência mostra preferência pela
formação básica e pela formação geral do estudante

Docentes da Unicamp opinam
sobre o currículo atual e o ideal

LUIZ SUGIMOTO

A professora Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira, autora da pesquisa: “Atingimos um grupo de professores extremamente qualificados” (Foto:Antonio Scarpinetti)A maioria dos docentes da Unicamp é a favor de um currículo que priorize a formação básica e a formação geral do estudante, acima da formação profissionalizante. Isto vale para todas as unidades da instituição, incluindo a área de Exatas e Tecnológicas. O corpo docente também demonstra boa pré-disposição para uma reestruturação curricular em seus cursos, acompanhando a tendência mundial em defesa do saber integrado, mais voltado aos compromissos sociais e comunitários.

Pesquisa atinge 88% do quadro em exercício

A professora Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira apresentou estas e outras conclusões em tese de livre-docência na Faculdade de Educação, interpretando os dados colhidos na pesquisa Tendências Curriculares da Formação do Universitário: a visão dos docentes da Unicamp, desenvolvida pelo Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação Superior (Gepes), que ela coordena.

“As ênfases na estruturação curricular intensificam-se ou modificam-se de tempos em tempos. Conforme o tempo histórico e a sociedade, estas ênfases principais recaem mais na ciência e tecnologia, ou na cultura geral e cultivo das humanidades, ou naquela essencialmente profissionalizante. Neste momento, muitos países ocidentais estão discutindo ou implantando reformas em busca da universidade do século 21”, informa Elisabete Pereira. (Veja matéria nesta página)

Segundo a autora, a discussão básica refere-se ao tipo de formação que a universidade deve oferecer ao aluno nesses tempos de aceleradas mudanças sociais, culturais e econômicas. “Trata-se de definir se é mais importante formar profissionais segundo os interesses do mercado de trabalho ou formar o profissional-cidadão que contribua com sua atividade para a transformação social”.

A fim de obter uma visão do pensamento dos docentes a respeito do currículo atual (a dimensão do real) e do currículo que desejam para a formação dos alunos neste século (a dimensão ideal), enviou-se um questionário via intranet para 1.548 professores (88% do quadro) em atividade no primeiro semestre de 2004. “Conseguimos 414 respostas, representando os 58 cursos das quatro áreas: Artes, Ciências Biológicas e Profissões da Saúde, Ciências Humanas e Ciências Exatas, Tecnológicas e da Terra”.

Um aspecto que dá uma legitimidade à pesquisa, na opinião de Elisabete Aguiar Pereira, é que entre os respondentes estavam 60 professores titulares, 140 livre-docentes e 197 doutores, a maior parte com tempo de docência de 11 a 30 anos. “Isto significa que atingimos um grupo extremamente qualificado, comprometido com a docência e os problemas da Universidade, e por isso com experiência para pensar a estrutura curricular”.

Currículo real – Sobre o grau de satisfação – muito alto, alto, médio, baixo e muito baixo – praticamente a metade dos docentes (49,2%) revelou um grau médio de satisfação. Com satisfação alta são 31,8%. “A leitura dos números é de que todos esses professores estão abertos a discutir e promover mudanças curriculares, podendo ser chamados para uma reflexão”. Apenas 12 respondentes (2,8%) se declararam altamente satisfeitos.

A pesquisa também relacionou a satisfação com o currículo e o tempo de docência. Aqueles com até 10 anos (em menor número na Unicamp) demonstraram grau médio (52%) e alto (35%) de satisfação. Na faixa de 11 a 20 anos de docência, esses índices diminuem para 48% e 29%, respectivamente, quase não havendo diferença com os que têm de 21 a 30 anos de experiência (47% e 29%).

A autora ressalta que quem tem menos tempo na instituição e, portanto, probabilidade de permanecer mais anos na docência, talvez seja mais resistente a uma grande reestruturação curricular. “Na faixa até 10 anos, a soma dos percentuais de média e alta satisfação é de 87%, contra os 77% entre 11 e 30 anos. Mas os últimos formam a maioria do quadro (71%) e podem representar uma força expressiva a favor de mudanças”.

Buscando a relação com a titulação acadêmica, registrou-se grau médio de satisfação com o atual currículo entre doutores, livre-docentes e titulares – 52%, 50% e 45%, respectivamente. Os mestres apresentaram grau alto (62%). “Há também uma correlação, pois os titulados, via de regra, são mais experientes e com mais parâmetros para refletir sobre as questões curriculares”.

Questionados sobre as características positivas dos currículos com os quais trabalham, os professores apontam elementos pedagógicos como estruturação curricular (37%), formação acadêmica (35,8%) e integração (15,7%). Elisabete Pereira observa que, embora a ênfase na pesquisa, seleção dos melhores alunos, infra-estrutura e formação do corpo docente também seja destacada, os aspectos básicos são vistos como mais importantes para o desenvolvimento do currículo.

Uma ressalva importante é que a estruturação curricular, que aparece como principal característica positiva, também recebeu maior porcentagem entre as características negativas (50,5% contra 37,5%). “Minha interpretação é que os docentes consideram a estruturação como o que há de melhor no currículo, mas não estão satisfeitos com ela, sugerindo a necessidade de mudanças”.

A professora da FE acrescenta que o realce de aspectos positivos como grade abrangente, atualizada, diversificada, bom número de disciplinas, base científica e conceitual, flexibilidade e projeto claro de curso denotam um acerto na estruturação curricular segundo os conceitos para a boa formação universitária.

Por outro lado, a menção de aspectos negativos como a falta de integração, a ênfase acentuada nas disciplinas tecnológicas, a carga horária excessiva, os excessos de pré-requisitos e de disciplinas revelam uma acurada análise do currículo pelos entrevistados e uma boa perspectiva de reestruturação.

Currículo ideal – A última parte da pesquisa do Gapes avaliou a posição dos professores diante das três ênfases curriculares: a formação básica, focada na capacidade do aluno para desenvolver a pesquisa, a criatividade e a criticidade; a formação geral, que oferece uma perspectiva do conhecimento enquanto cultura, ensinando o conteúdo profissional sobre uma base ampla de conhecimentos gerais; e a formação profissional, que transmite conhecimentos científicos e específicos da área profissionalizante.

Os índices mostram que 58% dos docentes “concordam plenamente” com a formação básica, 54% com a formação geral e 15% com a formação profissional. Seguindo na escala, 30% “concordam parcialmente” com a formação básica, 29% com a geral e 27% com a profissional. Os porcentuais dos que discordam parcial ou totalmente da formação básica e da formação geral são mínimos, mas atingem mais de 20% contra a formação essencialmente profissional.

Elisabete Aguiar `Pereira informa que a área de Ciências Biológicas foi a que mais valorou a ênfase na formação geral (100% das alternativas), enquanto a área de Artes deu maior peso à formação básica. “De forma geral, as quatro áreas valorizaram em primeiro lugar a formação básica e, depois, a geral. Para mim foi uma descoberta, pois tendemos a imaginar, por exemplo, que os professores de Exatas priorizam o currículo profissionalizante”.

Seminário traz inovações em atividades curriculares

A professora Elisabete Aguiar Pereira antecipa que a comunidade acadêmica poderá conhecer as atividades de inovação curricular promovidas em diversos âmbitos da Universidade, nos dias 13 e 14 de novembro, durante o primeiro seminário “Inovações em atividades curriculares: Experiências na Unicamp”.

A docente lembra que a milenar universidade sempre despertou intensos debates quanto à forma de planejá-la, com posições em favor da instituição profissionalizante e tecnicista, como geralmente são vistas muitas das americanas; tradicionalista, como é tida a francesa; intelectualista, como se classificam as mais importantes universidades inglesas e americanas; cientificista, como ainda se vê a alemã; e até funcionalista e a serviço do Estado, como as de países socialistas.

“Nas discussões em vários países ocidentais, podemos dizer que as perspectivas curriculares, visadas tanto por universidades brasileiras como do exterior, estão mais abrangentes e englobam aspectos de totalidade na formação dos alunos”, explica Elisabete.

A professora afirma que aos elementos tradicionais do currículo vêm se anexando outros, como a integração dos conhecimentos, o compromisso ético, os objetivos sociais das pesquisas e das atividades profissionais, e a preocupação com o mundo do trabalho – e não com o mercado de trabalho. Na Unicamp, muitos cursos estão em processo de discussão para responder às atuais Diretrizes Curriculares do Ministério da Educação.

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