Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 234 - de 20 a 26 de outubro de 2003
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Urbanização faz Atibaia perder volume de água
Crescimento desordenado degrada principal manancial de abastecimento da população de Campinas

ANTONIO ROBERTO FAVA

Rio Atibaia na altura do distrito de Sousas, onde foi feita a pesquisa: círculo vicioso de problemas

Pesquisa desenvolvida pela engenheira civil Maria Rejane Siviero constatou que o rio Atibaia, responsável pelo abastecimento de 80% da população de Campinas, está perdendo volume de água. Depois de mais de três anos de pesquisa, a engenheira concluiu que a degradação ocorre em virtude dos problemas causados pela urbanização desenfreada, entre eles o desmatamento, as obras irregulares e as atividades agrícolas sem os mínimos critérios de conservação. Foram coletadas amostras num trecho de 73 quilômetros do rio. Nos levantamentos, a pesquisadora constatou também que as águas do Atibaia estão cada vez mais poluídas.

“Verifiquei que a construção de núcleos residenciais em cidades próximas a Campinas – entre elas, Valinhos, Vinhedo, Itatiba, Morungaba, Jarinu, Bragança Paulista e Atibaia – produz grande volume de esgoto doméstico e industrial e material erosivo (argila, silte, areia e cascalho). Todo esse ‘lixo’ vai para o rio”, diz a pesquisadora. Como conseqüência direta desse processo, as enchentes e inundações, provocadas pela água das chuvas, passaram a ser cada vez mais freqüentes devido ao mau uso e à degradação do solo das cidades vizinhas.

Assim, assoreado, o rio passa a correr mais lentamente na época da estiagem, o que, por sua vez, provoca acúmulo de sedimentos, gerando um círculo vicioso que modifica o ecossistema e que causa graves problemas de abastecimento, além de inundações e enchentes na época das chuvas. Segundo a pesquisadora, esse problema tende se agravar caso medidas urgentes não forem tomadas pelo poder público.

A engenheira civil Maria Rejane Siviero: “lixo” no rio

Maria Rejane é autora da tese de doutorado Estudo da ocupação do solo a montante de uma seção do Rio Atibaia associada à descarga sólida transportada, defendida recentemente na Faculdade de Engenharia Civil (FEC), sob orientação do professor Evaldo Miranda Coiado. Para desenvolver sua pesquisa, a engenheira trabalhou numa passarela, antiga ponte de trens, no distrito campineiro de Sousas, onde coletou amostras com o objetivo de determinar a quantidade da descarga sólida e de sedimentos em suspensão e arraste (areia e cascalho), entre outros materiais.

“Pude verificar que naquele trecho do rio foi registrada uma média de 147 toneladas/dia no ano de 1993, e 522 toneladas/dia para 1999 de material nocivo à vida do rio. Desse total, 74% representam os sólidos fixos, que são as matérias inorgânicas, como as erosões, por exemplo, e 26% são o que chamamos de sólidos voláteis, matéria orgânica produzida pelo esgoto doméstico e industrial”, explica Maria Rejane.

Coincidentemente, medições realizadas no período entre 1993 e 1999, revelam intensa atividade antrópica – resultante da ação do homem –, principalmente no que se refere ao uso e manejo do solo na área do trecho investigado do rio Atibaia, uma vez que a urbanização aumentou em 50%, no período investigado.

Os estudos de Maria Rejane mostram que basicamente são seis os principais fatores que afetam a erosão pela água: chuva, escoamento superficial, solo, topografia, uso e manejo do solo e práticas sem critérios de conservação, como o plantio ou cultivo em curvas de nível e terraceamento. Rejane explica que muitas vezes o impacto da chuva sobre o solo desprotegido – onde há plantio de algumas culturas – é por onde se dá o início ao processo da erosão do rio. As principais características da chuva incluem intensidade, duração e freqüência.

A maior parte do solo erodido pela água é transportado declive abaixo pelo escoamento superficial. Esse escoamento não tem início até que a intensidade da chuva exceda a capacidade de infiltração do solo e que a capacidade de armazenamento da superfície do solo seja satisfatória. Dessa forma, os solos que apresentam capacidade de infiltração e ou capacidade de armazenamento superficial elevado, podem retardar o escoamento superficial e reduzir substancialmente o índice de escoamento”, explica Maria Rejane.

O declive íngreme e extenso de um terreno configura-se na principal característica topográfica que provoca a erosão. A quantidade de solo destacado e transportado pelo escoamento superficial e o tamanho dos sedimentos que podem ser removidos, aumenta à medida que o declive se torna mais íngreme e prolongado.

Para a pesquisadora, deveriam ser adotadas práticas de conservação do solo com referência à construção de núcleos residenciais nos respectivos municípios. Ela acredita que só assim o rio Atibaia poderá ter suas águas preservadas. “É por isso que estou procurando as prefeituras e apresentando um estudo dos problemas que estão ocorrendo nesses 73 quilômetros de extensão do Atibaia”, acentua Maria Rejane.


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