Jornal da Unicamp 187 - 26 de agosto a 1 de setembro de 2002
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Raul do Valle: características artesanais da obra motivaram o compositorRaul do Valle
mergulha na
ancestralidade

ANTÔNIO ROBERTO FAVA

"Uma aventura sonora". A definição é do autor da peça Totens, o compositor Raul do Valle, professor titular do Departamento de Música do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. A peça, que constou do programa do 9º Concerto Oficial da Temporada 2002 da Orquestra Sinfônica de Campinas (OSMC), teve estréia mundial na última sexta-feira, no teatro interno do Centro de Convivência Cultural.

Todo o processo de criação da obra, feita por partes, demorou cerca de dois meses para ser concluída. Muitas vezes tomando quase o dia todo do professor. Apesar do intenso trabalho, principalmente nos últimos dias, durante o processo de registrar a música, foi uma obra que proporcionou muito prazer ao compositor. "Foi um trabalho que gostei de fazer, talvez pelas características artesanais que requer", diz.

Segundo Raul do Valle, Totens é uma figura simbólica que representa fortemente uma pessoa, um ancestral ou uma tribo. "Essa expressão emblemática, rica em sonoridade e carregada de significação, foi o estímulo e a diretriz desse trabalho composicional", explica Raul. Os totens, altos postes em madeira talhada, traçam a história das famílias individuais e dos clãs, como uma árvore genealógica ou um brasão. Cada totem é uma representação simbólica de cada família, e possui a forma de um animal ou espírito.

A obra de Raul, com 13 minutos de duração, tem como elemento forte a percussão, "com um caráter solene, preponderante. É como se fosse um cerimonial".

Totens, a peça, possui detalhes ritmados que não são fundamentais "na transmissão de energia da obra", embora não tenha um caráter narrativo, mas sim um apelo à imaginação do ouvinte. Em cada episódio, idéias contrastantes e planos sonoros diversos se entrelaçam e se complementam de maneira orgânica e essencial.

Raul do Valle ingressou na Unicamp em 1974. Especializou-se em música eletroacústica. Sua produção inclui várias obras sinfônicas e de câmera, além de músicas para filmes (curtas e longas), vídeos, teatro, dance e espetáculos multimídia. Sua obra Estrias IV, para cello, representou o Brasil na 26º Tribuna Internacional dos Compositores (Unesco), em 1979. Entre seus prêmios destacam-se a Prix du Public e a Prix de la critique, do Centro Internacional de Percussão, em Genebra, 1975, com a obra Cambiantes. No Brasil, é detentor de inúmeros outros importantes prêmios.