Jornal da Unicamp 187 - 26 de agosto a 1 de setembro de 2002
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A fisiologista Ivonete Barros Nunes: histórico de hipertensão na família deve ser levado em contaCrianças
com problemas
de gente grande

Males decorrentes
do colesterol
alto podem começar já na infância  

ANTONIO ROBERTO FAVA

Não há nenhum exagero quando o médico pede que os responsáveis por uma criança de apenas três anos de idade seja submetida a exames para avaliar o índice de colesterol no organismo. É a partir dessa idade que começam a se formar estrias gordurosas nas paredes dos vasos das artérias. E se não tratada, a criança, mais tarde, pode vir a ser forte candidata a ter problemas cardíacos.

A constatação é da professora de fisiologia Ivoneti Barros Nunes de Oliveira, da Universidade Filadélfia de Londrina, que durante dois anos constatou níveis elevados de colesterol e risco de acidente cardiovascular em pesquisas com crianças de Londrina.

A pesquisadora trabalhou com um grupo de 526 indivíduos, entre 7 e 14 anos, dos quais 202 anêmicos e 324 não-anêmicos. As investigações revelaram que 33,5% dessas crianças apresentaram alterações com relação ao LDL (colesterol ruim) acima dos valores desejáveis, e lipoproteína de alta densidade (HDL), considerada o colesterol bom, abaixo dos valores de referências tidas normais. O risco de comprometimento da artéria aorta pode ocorrer já aos três anos de idade, e das coronárias entre 10 e 14 anos, mostra a pesquisa de Ivoneti.

Ela diz que há estudos apontando que aproximadamente 8% das crianças nessa faixa etária já apresentam lesões cardiovasculares. A investigação de Ivoneti, por sua vez, indica prevalência de hipercolesterolemia (aumento do colesterol no sangue) em 16% das meninas e 17,5% nos meninos, ambos os grupos constituídos por anêmicos. A situação torna-se ainda mais preocupante, nesse caso, quando há indivíduos na família com história de hipertensão ou problemas cardiovasculares. Mas de modo geral, os males começam já na infância, como já foi constatado. Quando chegam na adolescência, se não tratadas, começa a formação de placas fibrosas e, com o passar do tempo, na fase adulta, podem aparecer placas de ateroma depositadas nas paredes internas dos vasos. Aí surgem a hipertensão, infarto, acidentes vasculares cerebrais e outros problemas cardiovasculares, segundo Ivoneti.

Para ela, uma alimentação errada começa quando a criança passa a consumir alimento com gordura em excesso e pobre em frutas, legumes e verduras. O que agrava o problema é que elas passam o tempo todo parada, levando uma vida extremamente sedentária desde a infância. “O organismo de uma criança que não pratica exercícios físicos tende a reduzir a produção do HDL (colesterol bom) aumentando o LDL (colesterol ruim). A função do HDL é evitar a deposição do LDL nas paredes dos vasos sangüíneos e também retirar o excesso dos tecidos extra-hepáticos para ser metabolizado no fígado. Também verificou-se que uma dieta adequada rica em nutrientes anti-oxidantes: vitaminas E, C, A e ácido ascórbico, evitam a oxidação do LDL prevenindo formação de placas de ateroma, aterosclerose e conseqüentes doenças cardiovasculares”, diz a pesquisadora.

Recentemente Ivoneti apresentou a dissertação de mestrado Estudo da colesterolemia em crianças e adolescentes anêmicos de baixa renda institucionalizados – Londrina PR, junto à Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, sob orientação da professora Maria Antonia Galeazzi.