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História das Guerras
Auto-retrato
 

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A entrada principal da FEEC em fase de acabamento, visão parcial de um laboratório na década de 1970 e a fachada do prédio hoje

Área de Engenharia da Unicamp nasceu com apoio de indústrias
e entidades do setor produtivo

FEEC, modelo de eficiência
e modernidade

MANUEL ALVES FILHO

Mesa de estudos em uma das alas do prédio da FEEC: graduação do curso de Engenharia Elétrica sempre obteve “A” nas avaliações realizadas pelo ProvãoPoucos meses após o lançamento da pedra fundamental da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em outubro de 1966, o reitor Zeferino Vaz desdobrava-se para executar alguns dos projetos que, na sua avaliação, dariam o impulso fundamental para fazer da instituição um modelo de eficiência e modernidade para o Brasil. Entre eles estava a instalação da Faculdade de Engenharia de Campinas (FEC), cuja proposta de criação havia sido apresentada ao Conselho Estadual de Educação como parte das iniciativas que promoveriam a regularização da vida científica, didática e administrativa da Universidade. E assim foi feito. Ainda em 1967, nascia uma das unidades que ajudariam a conferir à Unicamp a excelência perseguida por seu idealizador, a atual Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC).

Graduação tem “A” em todas as avaliações do Provão

Antes mesmo do surgimento da FEC, diretores de grandes indústrias e de entidades representativas do setor produtivo da região de Campinas já procuravam a Comissão Organizadora da Universidade para falar aos dirigentes sobre a necessidade da criação de cursos na área de Engenharia. Havia carência de mão-de-obra qualificada, afirmavam. Também diziam dispor de um edifício destinado ao ensino técnico dotado dos mais modernos equipamentos. Este, cogitavam os empresários, poderia vir a abrigar uma Escola de Engenharia. Entretanto, com o advento da Unicamp, eles estariam dispostos a oferecer a infra-estrutura necessária para que a instituição assumisse o compromisso de formar os bons engenheiros de que tanto necessitavam.

A Comissão Organizadora entendeu que a oferta do empresariado concorria para o projeto da Unicamp de proporcionar cursos de alto nível aos estudantes. Assim, foi firmado um termo de cooperação estabelecendo que as indústrias colocariam à disposição da Universidade suas instalações não apenas para o cumprimento de estágios, mas também para o ensino regular de disciplinas específicas. Ademais, ficou acertado que as empresas colaborariam para a formação do corpo docente do que viria a ser a FEC, visto que contavam em seus quadros com alguns profissionais altamente qualificados. Estes possuíam valiosa experiência como professores, inclusive com passagens por universidades da Europa e Estados Unidos.

Ainda como parte do acordo, definiu-se que os primeiros cursos seriam os de Engenharia Elétrica e Engenharia Mecânica. Ao todo, seriam geradas 120 vagas na primeira série – 40 em 1967 e 80 no ano seguinte. Por fim, as duas partes entenderam ser conveniente criar uma comissão técnico-consultiva para cada especialização, como forma de assegurar a efetiva participação da indústria na parceria. A Comissão Organizadora recomendou em seguida que fosse escolhido um nome “idôneo” para a direção da futura faculdade. Coube ao professor Marcelo Damy de Souza Santos, físico nuclear, indicar para o cargo o nome do general José Fonseca Valverde, engenheiro militar e professor da Escola Técnica do Exército. PhD por Stanford, Valverde respondia também pela chefia do Departamento de Eletricidade da PUC do Rio de Janeiro, além de ser funcionário da General Eletric.

Comando de general – A despeito do apoio do setor produtivo, a FEC enfrentou alguns problemas no seu início. Em algumas oportunidades, o improviso é que assegurava o andamento das atividades. Os estudantes da primeira turma não contavam, por exemplo, com carteiras suficientes para todos, falha que foi corrigida mais tarde pelas indústrias. Os departamentos de Elétrica e Mecânica, instalados no porão do casarão onde atualmente está o Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), na rua Culto à Ciência, contavam, cada um, com uma pequena sala e três ou quatro mesas. Nem mesmo o currículo escapou das adaptações. Houve até um regime de trimestres letivos em lugar dos semestres.

Sob o comando de Valverde, que tinha por hábito exibir o reluzente revólver que carregava na valise e que chegou a sugerir a Zeferino Vaz que o fizesse vice-reitor, na tentativa de transformar-se numa espécie de interventor branco da “Revolução” na Universidade, a FEC viveu dias difíceis, notadamente no que toca à livre manifestação de professores e estudantes. Ainda assim, estes encontravam meios de burlar os olhos da repressão e promover reuniões e atos contra a ditarura, iniciativas que obviamente reuniam representantes de outros segmentos da Unicamp. A grande virada da faculdade, em mais de um sentido, ocorreu com a saída do general da sua direção.

No lugar do militar assumiu o professor Theodureto Henrique Arruda de Faria Souto, que convidou Manoel Sobral Júnior, pesquisador reconhecido internacionalmente, para chefiar o Departamento de Egenharia Elétrica. Conta-se que a vinda de Sobral Júnior para a Unicamp deu-se mais por razões familiares que profissionais. Radicado nos Estados Unidos à época, país ao qual estava perfeitamente daptado, o cientista teria relutado inicialmente em aceitar a proposta. A esposa dele, ao contrário, não via a hora de retornar ao país para se juntar novamente aos parentes. “Ou você volta para o Brasil ou voltarei sozinha”, teria dito. O ultimato teria sido o argumento definitivo para que desembarcasse na Universidade.

Com a aposentadoria de Theodureto Souto, Sobral Júnior o sucedeu na direção da FEC. Sobral Júnior, ressalte-se, tinha uma visão diferente do que deveria ser uma boa Escola de Engenharia. Para ele, a faculdade necessitava de um corpo docente profissional, ou seja, de especialistas que se dedicassem em tempo integral às atividades de ensino e pesquisa. Desse modo, demitiu praticamente todos os professores. Somente dois deles foram mantidos: um porque tinha doutorado e outro porque fizera carreira acadêmica em outras instituições. A decisão, que mais tarde se mostraria acertada, trouxe muito trabalho ao diretor. Feito um caçador de cérebros, ele percorreu o Brasil e o exterior à procura de profissionais que se encaixassem no modelo desejado.

Pessoal do ITA – Alguns dos novos professores da FEC vieram do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), pois haviam sido expurgados ou deixado “espontaneamente” a instituição por pressão da ditadura. Um deles, Hermano Tavares, tornaria-se mais tarde reitor da Unicamp. Naquela época, Campinas era uma cidade provinciana, mas com boa vida cultural. Aos sábados, alunos e professores da Universidade costumavam se encontrar no Cine Carlos Gomes, no Centro, para assistirem à sessão da meia noite. De lá, saíam para tomar café na casa de um deles ou mesmo numa república, oportunidade em que discutiam assuntos relativos à vida acadêmica e à conjuntura política. Desses debates, sugiram importantes iniciativas de apoio à resistência, traduzidas, por exemplo, na divulgação do conteúdo do jornal “Opinião”.

Quanto às atividades de ensino e pesquisa, estas iam muito bem, obrigado. Já nos primeiros anos da década de 70, com a pós-graduação em pleno funcionamento, a FEC firmou convênio com o Instituto Brasileiro do Café (IBC), para conduzir um projeto que permitisse a contagem automática dos pés de café de uma plantação. A idéia era definir o número de plantas a partir de uma imagem aérea. O trabalho foi muito bem sucedido. Logo em seguida, a faculdade estabeleceu duas parcerias com a Companhia do Metropolitano de São Paulo. Objetivos: fazer um estudo do tráfego urbano da Capital, que seria afetado em razão das obras de construção da primeira linha; e desenvolver um circuito analógico e um dispostivo de frenagem para os trens. Um dos integrantes da equipe responsável pelos projetos foi o jovem estudante de pós-graduação Jurandir Fernandes, que atualmente é secretário dos Transportes Metropolitanos de São paulo, Pasta à qual a Companhia do Metropolitano está subordinada.

Tais projetos foram, por assim dizer, o estopim para que os conhecimentos gerados na FEC passasem a ser transformados em métodos, processos e produtos que traríam importantes contribuições ao desenvolvimento do país. Um entre os muitos exemplos que poderíam ser destacados nesse aspecto está a participação na criação, pelo então Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) da Telebrás, da primeira central telefônica digital brasileira, batizada de Trópico RA. Com a completa institucionalização da FEC, em meados da década 80 a comunidade entendeu que o Departamento de Engenharia Elétrica deveria ser transformado em faculdade.

Nota “A” – A proposta foi levada ao Conselho Diretor da Unicamp, similar ao atual Conselho Universitário (Consu), que a aprovou em 27 de maio de 1986, no mandando do reitor Paulo Renato Costa Souza, mais tarde ministro da Educação. Desde então, a unidade só fez crescer em tamanho, importância e qualidade. Em 1996, a Faculdade de Engenharia Elétrica (FEE) criou o curso de Engenharia de Computação e passou finalmente a ser denominada Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC). Nos dias que correm, a faculdade conta com 11 departamentos, distribuídos numa área de 16 mil metros quadrados do campus de Barão Geraldo. Anualmente, oferece 100 vagas para o curso de Engenharia Elétrica e outras 90 para Engenharia de Computação na área de graduação. A FEEC abriga, ainda, perto de 600 alunos de pós-graduação.

Na graduação, o curso de Engenharia Elétrica sempre obteve grau “A” em todas as avaliações realizadas pelo Provão. Na pós, a Engenharia Elétrica é o único curso do gênero no país que detém o grau máximo (7) conferido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao Ministério da Educação. Em 2002, conforme os dados disponíveis, foram concedidos 82 títulos de doutor e 27 de mestre. No mesmo ano, 111 jovens concluíram a graduação. Também foram publicados no período 62 artigos em revistas científicas nacionais e internacionais. Os indicadores demonstram que a FEEC tem cumprido ao longo do tempo um papel importante na concretização do sonho de Zaferino Vaz de construir uma Universidade moderna e eficiente numa área que abrigava um extenso canavial.

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