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......ANO XV -Nº 161 - Abril 2001

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Entre o humano e o andróide
‘Corpo e História’, coletânea de artigos, não é um livro sobre anatomia

CARMEN LÚCIA SOARES

á um higienismo e porque não dizer um eugenismo contemporâneos verdadeiramente assustadores onde impera uma compreensão de corpo como santuário do músculo, como emblema da cultura da aparência regulada por um ciclo de absorção e de eliminação, tanto orgânica quanto econômica.

[...]O higienismo e o eugenismo hoje imprimem ao corpo uma visibilidade nunca antes vista e compõem um amplo projeto estético da aparência que desemboca em uma afirmação narcísica ou é o seu nascedouro.

A subjetividade humana que implica mergulho e reflexão, compreensão de desejos e sonhos reduz-se à intimidade narcísica de centímetros de bíceps, cinturas, coxas, nádegas, de pedaços do corpo que são transformados com astúcia e perseverança com o auxílio não apenas dos exercícios físicos mas, também, de todo um mercado que existe em função da norma a ser alcançada. São aminoácidos, vitaminas e alimentos dietéticos, cirurgias que acrescentam e/ou retiram coisas para que o corpo atinja a forma ou, conforme Certeau, para que ele possa se adequar à norma.

Praticar alguma atividade física formal hoje é quase uma religião, não isenta da culpa quando a ela se falta ou não se é fiel. É também um ato sacrificial disfarçado de alegria obrigatória, conforme as análises de Vaz. Talvez seja possível afirmar que este modelo já fora bem trabalhado pela Ginástica no passado, ou seja, a idéia de utilidade da ação para uso posterior. Somente o que era útil era valorizado.
Hoje, contudo, podemos indagar para onde vão esses seres feitos de montanhas de músculos senão exibir-se numa sociedade que cada vez mais prescinde da força muscular? Quando entramos nos modernos santuários do corpo, as academias, o que vemos diante de nossos olhos? Meu olhar identifica quase replicantes como aquelas personagens centrais do filme “Blade Runner”, dirigido por Ridley Scot, em 1981.

Quando comparamos imagens fílmicas de skinheads, de grupos neonazistas1 e imagens fílmicas de ginástica aeróbica podemos identificar o mesmo rosto vazio, o mesmo sorriso mecânico, a mesma ausência de idiossincrasia, de individualidade. Enxergamos nessas imagens apenas o que caracteriza a massa e que nos aproxima de concepções de mundo fascistas. Não seria fascista esta norma do corpo malhado que é vomitada pela mídia diuturnamente? A fixação no corpo e pelo corpo apresenta-se como ato quase desesperado de posse de algo em que é possível transformar-se, não importando muito as condições para a realização da transformação.

“Mais alto, mais forte, mais rápido (talvez menos humano)” é a manchete de capa de um caderno especial do jornal Folha de São Paulo que tem por título “Futuro do Esporte”, da série “Folha Olimpíada 2000”. O primeiro parágrafo da matéria é singular: “A ciência poderá mudar tanto os atletas até a metade do próximo século que é arriscado demais dizer como eles se tornarão. Não há nem mesmo o consenso de que eles serão humanos”. Ou ainda a afirmação de um pesquisador dos EUA nesta mesma matéria, para quem no fim do século só será possível identificar quem é humano ou andróide com o auxílio de instrumentos. Nesta mesma matéria pode-se ler que três ramos da ciência e seu acelerado desenvolvimento como a robótica, nanotecnologia e genética ameaçam, no limite, a sobrevivência da espécie humana.

Talvez aqui as imagens do filme “Matrix” traduzam com uma intensidade maior este emaranhado de sentidos produzidos pela humanidade em sua trajetória. No filme eram seres humanos que geravam energia para alimentar um expressivo conjunto de sofisticadas máquinas.

[...]Talvez o caminho trilhado pela humanidade até aqui indique mesmo uma alteração radical do que se pensou como humano,pois a ciência, hoje, cada vez mais, amplia o seu poder e sinaliza, bem perto de nossos olhos, possibilidades outrora apenas esboçadas no cinema e na literatura .

[...]Se tudo no corpo e do corpo é hoje amplamente comercializado, onde está o limite? Parece que hoje, de fato, ele é a próxima fronteira do capital, conforme sugere o título de um artigo de Denise Sant’Anna, de 1997, cujo conteúdo denso chama a atenção para aspectos cruciais do debate sobre o corpo, evidenciando que “o interesse econômico que o corpo desperta deveria servir para esclarecer à sociedade quais são os grupos que ganham e os que perdem com a transformação das diversas partes do humano em equivalentes gerais de riqueza.”

Há momentos nos quais parece não haver mais fronteiras e tudo se revela como já ultrapassado. Parece que o corpo já pode ser visto também como um reservatório de produtos caros, função que se agrega a outra plenamente aceita que é a de exibir-se. Nesta última, o que varia é o lugar que pode ser o imenso campo esportivo e seu pódio, as passarelas da moda, as academias de ginástica, as casas noturnas ou os cardápios humanos que são oferecidos no planetário e rentável comércio sexual.

[...] Mas a atividade esportiva, dado o seu alto valor comercial, talvez seja o campo de provas mais imediato e possível de ser concretizado. Talvez a sofisticação esportiva atinja tal nível que só o menos humano, de fato, será o esperado para ser visto. O atleta, talvez, venha ser o primeiro campo de provas que vai demonstrar resultados de um planejamento total, inclusive genético.

Talvez o esporte amplie-se como campo possível de exibição de um corpo completamente alterado por próteses, células, estruturas minúsculas que criam potências impensadas e permitem o rendimento máximo e controlado. E o corpo vencedor exibirá os slogans que o ajudaram a chegar lá. O campo esportivo como representação real da criação de super-homens.

Parece que a assimilação das conquistas em relação ao rendimento e a estética corporal por parte da população ocorre de uma maneira ingênua e ao mesmo tempo como promessa, sempre implícita, de conquista de uma juventude eterna, de um corpo esbelto, belo, de uma super performance atlética, sexual...

[...]Os riscos das tantas intervenções, alterações, merecem ser tratados para além da idéia asséptica de que são apenas erros de medidas, cálculos não exatos que serão corrigidos na próxima operação. O imprevisível, o imponderável, o inusitado que é parte da trajetória humana parece algo do passado... A própria definição de humano começa a ser alterada.

 

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Carmen Lúcia Soares – é professora da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp e integra a equipe do Laboratório de Estudos Audiovisuais (Olho). O texto acima é um resumo do artigo Corpo, Conhecimento e Educação: Notas Esparsas (Nota 3), incluído da coletânea Corpo e História.

 

 

A alma carioca em Machado
Lendo crônicas, contos e romances de Machado de Assis, a professora Andréa Moreno tenta desvendar a alma fluminense do século XIX. “Quando digo alma de um povo estou me referindo a uma atmosfera, um ar que se respira, um sentimento, um comportamento de um tempo e de um lugar...”, explica. Andrea é autora do artigo “Terpsícore ou... Da Carne e da Alma Fluminense”, publicado na coletânea Corpo e História. Professora assistente da Universidade Federal de Viçosa e doutora em educação pela Unicamp, Andréa também é integrante do Laboratório de Estudos Audiovisuais (Olho). A autora diz considerar a literatura um local privilegiado para se desvendar a alma de um povo, assim como as músicas, as artes e a fotografia.

Amor, sexo e anarquia
A professora Margareth Rago, mestre e doutora em história pela Unicamp e coordenadora do Grupo de Estudos Foucaultianos (GEF), publica nesta coletânea seu artigo “Es que nos es digna la satisfacción de los instintos sexuales? Amor, Sexo e Anarquia na Revolução Espanhola”. O texto é construído sobre a revista espanhola Estúdios, publicada em Valência entre os anos 20 e 30. A revista é repleta de fotos e desenhos de corpos nus. Folhando-as, Margareth depara-se com uma seção de cartas sobre a vida amorosa e sexual de trabalhadores anarquistas. Médicos libertários falam de autogestão na sociedade, de amor livre e da importância do orgasmo feminino.

Na velha Grécia
Textos escolhidos aleatoriamente de Homero, Platão e Aristófanes mostram a possibilidade de descobrir, em outro modo de vida, em outro tempo e espaço, elementos para se refletir a respeito de nossos valores, princípios e prioridades de vida. Este é o tema desenvolvido pela professora Yara Maria de Carvalho no artigo “O Corpo Para os Gregos, Pelos Gregos, na Grécia Antiga”. Yara é professora da USP, onde ainda coordena o Núcleo de Estudos Sócio-Culturais. Mestre em educação física e doutora em saúde pública pela Unicamp, Yara explica que o artigo foi concebido com bases nos originais. “Sim, deixei os comentaristas nas arquibancadas, em segundo plano”.

 

 


O bug muscular
O corpo está sendo redimensionado em uma velocidade espantosa movida pela engenharia genética, cirurgia a laser, transplantes, silicones, alimentos transgênicos, anabolizantes e outros instrumentos contemporâneos. É a partir destes argumentos que o professor Alex Branco Fraga constrói seu artigo “Anatomias Emergentes e o Bug Muscular: Pedagogia do Corpo no Limiar do Século XXI”. Alex é professor assistente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul onde integra o Grupo de Estudos em Educação e Relações de Gênero (GEERG). É mestre e doutorando em educação na mesma universidade.

Como disse Walter Benjamin
“Também no corpo a história deixa seus escombros”, sentencia o professor Alexandre Fernandes Vaz em seu artigo Memória e Progresso: Sobre a Presença do Corpo de Arqueologia da Modernidade em Walter Benjamin. “Pretendo que seja possível vislumbrar o corpo como categoria por meio da qual a arqueologia da modernidade, tal como propôs Benjamin, possa ser estudada. E verificar até que ponto esta categoria pode nos auxiliar a entender esse nosso mundo contemporâneo, tão repleto de corpos”. Alexandre é professor assistente do Departamento de Metodologia do Ensino do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em educação pela mesma universidade e doutorando junto à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Hannover, na Alemanha.

O espetáculo de Hitler
O professor Milton José de Almeida, da Unicamp, estudou o filme Olympia, dirigido por Leni Riefenstahl sob encomenda de Adolf Hitler na Olimpíada de Berlim em 1936. A partir do estudo, Milton desenvolveu o artigo “A Liturgia Olímpica”, que está publicado no livro Corpo e História. Segundo ele, as Olimpíadas são como uma simulação estilizada e controlada de guerras entre nações onde, em vez de terras e cidades, as conquistas são locais morais e virtudes com representação visual no topo do pódio. “As normas da competição simulam os tratados internacionais que regulam a convivência harmônica entre nações. O último colocado tem a perfeição do vício e o primeiro a perfeição da virtude”, defende. Milton é coordenador do Laboratório de Estudos Audiovisuais (Olho) da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp e realiza pesquisas sobre arte, cinema e televisão. Também é mestre e doutor em lingüística pela USP.

 

 
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