Unicamp Hoje - O seu canal da Noticia
navegação

Unicamp Hoje. Você está aquiAssessoria de ImprensaEventosProgramação CulturalComunicadosPublicações na Unicamp

ciliostop.gif (380 bytes)
Jornal da Unicamp

Assine o "Jornal da Unicamp"

Semana da Unicamp

Divulgue sua
pesquisa

Assine o "Semana"

Divulgue seu assunto

Divulgue seu evento

Outros Campi

Divulgue sua Tese

Cadastro de Jornalistas

Informações
para jornalistas


Mídias

Sinopses dos jornais diários

Envie dúvidas e sugestões

ciliosbott.gif (352 bytes)
nicamp
......ANO XV -Nº 161 - Abril 2001

unicamp

Prisão da alma, palco dos desejos sexuais
‘Corpo e História’, coletânea de artigos, não é um livro sobre anatomia

JOÃO MAURÍCIO DA ROSA

ido apenas como prisão da alma e palco dos desejos sexuais, o corpo humano ainda está por ser desvendado, segundo sugere a leitura de Corpo e História, uma coletânea de textos de nove autores de seis universidades brasileiras, que será lançada no dia 19 de abril, às 18 horas, na Estação Santa Fé, em Barão Geraldo, distrito de Campinas.

Editado pela Autores Associados e coordenado pela professora Carmen Lúcia Soares, do Laboratório de Estudos Audiovisuais (Olho) da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, o livro tem como público alvo o meio acadêmico, mas pode ser apreciado pelo leitor comum. “É uma coletânea de artigos que tece, com palavras e imagens, recortes do tempo determinados pelo presente e, assim, revela olhares múltiplos e singulares sobre esse texto incompleto que as sociedades escrevem: o corpo”, explica Carmen, que além de organizar a coletânea é uma das autoras.
Ao contrário do que pode-se imaginar, Corpo e História não é um estudo sobre a anatomia. Seus autores vêm das UFRS, UFSC, UFV (Viçosa), Unicamp, USP e PUC-SP. O time é formado por duas historiadoras, um homem de letras e artes e seis professores(AS) de educação física que se dedicam a estudos e pesquisas sobre a história do corpo, das práticas corporais e do corpo como território de subjetividades, entre outros temas correlatos.

O resultado é uma obra vigorosa com múltiplas formas de analisar o corpo, sua história e suas palavras. Nesta entrevista, Carmen avisa: “Minhas palavras e idéias sobre este livro estão agora totalmente impregnadas pelas idéias e palavras dos autores que nele escrevem”. Carmen é mestre em educação pela PUC-SP, doutora em educação pela Unicamp e autora dos livros Educação Física: Raízes Européias e Brasil; Imagens da Educação no Corpo e Corpo e Educação (org).

Jornal da Unicamp – Como surgiu a idéia do livro?
Carmen Soares – Este trabalho foi, inicialmente, um desejo de reunir autores que escrevessem textos que pudessem repousar olhares sobre o corpo, que o tocassem em suas múltiplas histórias, que o encontrassem nas ruínas da história. É sempre bom lembrar, como sugere um dos autores, que estamos numa civilização que despreza os rastros, sobretudo se forem portadores de dor e de sofrimento.

P – Em que contexto ele está inspirado?
R – Vivemos na civilização da novidade, do rejuvenescimento, da cirurgia plástica. O corpo suscita infindáveis possibilidades de estudo. Ele é a primeira forma de visibilidade humana. De forma aguda, nos obriga a pensar na vida, mas também na morte; no prazer, mas também na dor; no humano e no desumano que encarnam as aparências; nas tiranias da aparência.

P – Então os textos vão além das lições de anatomia?
R – Sim, pensar o corpo é também pensar em relações, pois são as relações entre os sujeitos e as práticas sociais datadas historicamente que produzem nossas preferências, sentimentos, aparências, fisiologia.

P – De que fontes bebem os autores?
R –São inúmeras as fontes. A literatura brasileira de Machado de Assis e Aluísio Azevedo; poesia e prosa dos gregos. Há ainda análises das tecnologias e pedagogias que incidem sobre o corpo e o educam e o transformam; há análises das simbioses entre o humano e a máquina; há também análises que entendem o corpo como um ponto privilegiado na interconexão entre natureza e cultura, pois o corpo pertence a ambos os mundos – natural e social/ biológico e simbólico. E, como não poderia deixar de ser, também há referências ao cinema no livro. Como diz Walter Benjamin, o cinema como imagem em movimento potencializa o olho humano e educa os sentidos para a experiência moderna. Desta forma, o cinema não pode prescindir do movimento corporal como um de seus temas privilegiados. Neste livro, há uma análise do filme Olympia, de Leni Riefenstahl, feito sob encomenda de Hitler em 1936, nas Olimpíadas de Berlim.

P – O livro encerra as discussões em torno do tema?
R – Em hipótese alguma. Ele é apenas um desejo de estabelecer um diálogo com diferentes áreas do conhecimento e ampliar o lugar do corpo como território de subjetividades. Um livro que possibilite alargar a compreensão de que o corpo é uma construção histórica e onde sua biologia não existe como entidade autônoma.

P – No ensino primário o corpo é definido apenas como cabeça, tronco e membros. Como você o define?
R – No livro fica claro que o corpo, por ser esta tela tão frágil onde a sociedade se projeta, pode ser o ponto de partida, hoje, para pensar o humano, para preservar o humano, este humano factível, inusitado, que guarda sempre uma réstia de mistério e, assim, romper com a auto-alienação que faz com que a humanidade viva a sua própria destruição como um prazer.

 

 

A alma carioca em Machado
Lendo crônicas, contos e romances de Machado de Assis, a professora Andréa Moreno tenta desvendar a alma fluminense do século XIX. “Quando digo alma de um povo estou me referindo a uma atmosfera, um ar que se respira, um sentimento, um comportamento de um tempo e de um lugar...”, explica. Andrea é autora do artigo “Terpsícore ou... Da Carne e da Alma Fluminense”, publicado na coletânea Corpo e História. Professora assistente da Universidade Federal de Viçosa e doutora em educação pela Unicamp, Andréa também é integrante do Laboratório de Estudos Audiovisuais (Olho). A autora diz considerar a literatura um local privilegiado para se desvendar a alma de um povo, assim como as músicas, as artes e a fotografia.

Amor, sexo e anarquia
A professora Margareth Rago, mestre e doutora em história pela Unicamp e coordenadora do Grupo de Estudos Foucaultianos (GEF), publica nesta coletânea seu artigo “Es que nos es digna la satisfacción de los instintos sexuales? Amor, Sexo e Anarquia na Revolução Espanhola”. O texto é construído sobre a revista espanhola Estúdios, publicada em Valência entre os anos 20 e 30. A revista é repleta de fotos e desenhos de corpos nus. Folhando-as, Margareth depara-se com uma seção de cartas sobre a vida amorosa e sexual de trabalhadores anarquistas. Médicos libertários falam de autogestão na sociedade, de amor livre e da importância do orgasmo feminino.

Na velha Grécia
Textos escolhidos aleatoriamente de Homero, Platão e Aristófanes mostram a possibilidade de descobrir, em outro modo de vida, em outro tempo e espaço, elementos para se refletir a respeito de nossos valores, princípios e prioridades de vida. Este é o tema desenvolvido pela professora Yara Maria de Carvalho no artigo “O Corpo Para os Gregos, Pelos Gregos, na Grécia Antiga”. Yara é professora da USP, onde ainda coordena o Núcleo de Estudos Sócio-Culturais. Mestre em educação física e doutora em saúde pública pela Unicamp, Yara explica que o artigo foi concebido com bases nos originais. “Sim, deixei os comentaristas nas arquibancadas, em segundo plano”.

 

 


O bug muscular
O corpo está sendo redimensionado em uma velocidade espantosa movida pela engenharia genética, cirurgia a laser, transplantes, silicones, alimentos transgênicos, anabolizantes e outros instrumentos contemporâneos. É a partir destes argumentos que o professor Alex Branco Fraga constrói seu artigo “Anatomias Emergentes e o Bug Muscular: Pedagogia do Corpo no Limiar do Século XXI”. Alex é professor assistente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul onde integra o Grupo de Estudos em Educação e Relações de Gênero (GEERG). É mestre e doutorando em educação na mesma universidade.

Como disse Walter Benjamin
“Também no corpo a história deixa seus escombros”, sentencia o professor Alexandre Fernandes Vaz em seu artigo Memória e Progresso: Sobre a Presença do Corpo de Arqueologia da Modernidade em Walter Benjamin. “Pretendo que seja possível vislumbrar o corpo como categoria por meio da qual a arqueologia da modernidade, tal como propôs Benjamin, possa ser estudada. E verificar até que ponto esta categoria pode nos auxiliar a entender esse nosso mundo contemporâneo, tão repleto de corpos”. Alexandre é professor assistente do Departamento de Metodologia do Ensino do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em educação pela mesma universidade e doutorando junto à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Hannover, na Alemanha.

O espetáculo de Hitler
O professor Milton José de Almeida, da Unicamp, estudou o filme Olympia, dirigido por Leni Riefenstahl sob encomenda de Adolf Hitler na Olimpíada de Berlim em 1936. A partir do estudo, Milton desenvolveu o artigo “A Liturgia Olímpica”, que está publicado no livro Corpo e História. Segundo ele, as Olimpíadas são como uma simulação estilizada e controlada de guerras entre nações onde, em vez de terras e cidades, as conquistas são locais morais e virtudes com representação visual no topo do pódio. “As normas da competição simulam os tratados internacionais que regulam a convivência harmônica entre nações. O último colocado tem a perfeição do vício e o primeiro a perfeição da virtude”, defende. Milton é coordenador do Laboratório de Estudos Audiovisuais (Olho) da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp e realiza pesquisas sobre arte, cinema e televisão. Também é mestre e doutor em lingüística pela USP.

 

 
unicamp
...ENSINO - PÁG 02 ...ECONOMIA - PÁG 09, 10 E 11
...ESPECIALIZAÇÃO - PÁG 03 ...INFORMÁTICA - PÁG 12 e 13
...ENERGIA - PÁG 04 e 05 ...ESPORTE - PÁG 14 e 15
...PALESTA - PÁG 06 ...LIVRO - PÁG 16 e 17
...SERVIÇO - PÁG 07 ...COMPORTAMENTO - PÁG 18 e 19
...SAÚDE - PÁG 08 ...PESQUISA - PÁG 20
 
 

© 1994-2000 Universidade Estadual de Campinas
Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP
E-mail:
webmaster@unicamp.br