Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 233 - de 13 a 19 de outubro de 2003
Leia nessa edição
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Educação: futuro sustentável
Desenvolvimento da Unicamp
Vestibular: recorde de inscritos
Farmácias de manipulação
Pesquisa: risco de hipertensão
Incontinência urinária
Pesquisa: subproduto da cana
Quilombos: ensinar e aprender
Plástico biodegradável
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Entrevista: Contardo Calligaris
Fotografia: clicar e teclar
 

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Ezequiel Theodoro da Silva lança quatro livros sobre leitura

MARIA ALICE DA CRUZ

O professor Ezequiel Theodoro da Silva, que atua no ALLE: leitura no centro do debate

Desde que iniciou a sua vida acadêmica na universidade, Ezequiel Theodoro da Silva se propôs a publicar pelo menos um livro a cada dois anos. Em 2003, porém, o professor aposentado, que agora atua como voluntário no Grupo de Pesquisa ALLE - Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da Unicamp (Departamento de Metodologia de Ensino - Grupo de Pesquisa) superou sua própria expectativa, entregando ao mundo editorial quatro novos títulos. Um deles foi produzido na companhia de três profissionais da Unicamp, e os outros compõem uma trilogia pedagógica, que traduz 30 anos de trabalho dedicado à educação.

Num momento em que o Brasil concentra 20 milhões de analfabetos e outros 70 milhões de alfabetizados que não lêem, Ezequiel Theodoro da Silva contribui para o debate sobre os rumos da leitura no País com a sua trilogia pedagógica, editada pela Editora Autores Associados de Campinas. “Fui juntando um feixe de escritos que, quando vi, não me deixavam nem abrir a gaveta”. São textos elaborados para cursos, aulas e conferências apresentados por Ezequiel em sua área de atuação. O primeiro livro da coleção, Leitura em curso, reúne textos elaborados para cursos de leitura e tem como proposta alertar para uma revisão urgente das formas pelas quais professores e bibliotecários conduzem a prática da leitura.

Criador do Cole e um dos sócio-fundadores da Associação de Leitura do Brasil (ALB), Ezequiel não vem medindo esforços na defesa do direito de acesso à leitura. “Quando uma criança tem problemas com matemática, por exemplo, ela sofre somente nessa matéria. Mas se tiver problemas com leitura, vai sofrer não só com a matemática, mas com todas as disciplinas do currículo escolar”, analisa. Diante disso, trouxe a público também o conteúdo do segundo livro da trilogia, Conferências sobre leitura.

De grande importância para o momento atual, no qual “a falta de leitura é um dos principais fatores de exclusão social”, o terceiro livro tem como objetivo principal apresentar a definição de Unidades de Leitura, fornecendo exemplos concretos aos leitores. A obra pretende elucidar dúvidas como: Que cara tem uma unidade de leitura? Como planejar um trajeto de leitura para os alunos? Sobre isso, o autor vai direto ao assunto: “Muitos professores não sabem que unidade é um projeto para promover a leitura e produzir leitores.”

Produção virtual – De reuniões totalmente virtuais realizadas com os co-autores Sérgio Ferreira do Amaral, da Faculdade de Educação, Fernanda Freire, do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied) e Rubens Queiroz de Almeida, do Centro de Computação da Unicamp (CCUEC), surgiu A leitura nos oceanos da internet, numa edição da Cortez Editora. Os ensaios orientam educadores de qualquer nível de ensino dispostos a conduzir o processo de formação do leitor do texto eletrônico. “Apesar de a base do livro impresso e do eletrônico ser a escrita, eles não lidos da mesma forma”, explica Silva. Diante disso, os autores decidiram produzir a obra também virtualmente, encontrando-se somente no lançamento durante o 20º Cole, em julho. A edição de 3 mil exemplares, de acordo com Ezequiel, está praticamente esgotada, revelando o interesse dos professores pelo tema.

Para Ezequiel, é obrigação do autor promover a obra. Ele afirma que todos os livros produzidos por ele anteriormente já ultrapassaram a décima edição. “Se você gera a criança, tem de criar”, observa. O professor acredita que, a partir da primeira realização do Cole, em 1978, a leitura ganhou o estatuto de um objeto exclusivo de pesquisa. Na sua avaliação, o Cole vem sendo um fator de estímulo para as reflexões e a pesquisa sobre leitura em todos os quadrantes do País. Hoje em dia, os trabalhos sobre diferentes aspectos da leitura nascem e se desenvolvem na maioria dos estados brasileiros, de acordo com o professor.

“O assunto nunca esteve tão quente”, observa Ezequiel, que comemora o fato de o governo federal estar com um projeto de alfabetização em massa. Uma das preocupações de um dos maiores incentivadores da leitura é que o consumo brasileiro de livros é de apenas 1,2 livro/habitante-ano. Ele também aprova a iniciativa de veículos de comunicação, como a Rede Globo, em atuar como incentivadores da leitura. “As chamadas para a importância e o valor da leitura aparecem atualmente em intervalos de programas de grande audiência, como os jogos da seleção brasileira”, pontua.

A luta pela superação dos problemas da leitura é intensa, garante o professor. O primeiro fator que contribui para números tão baixos de leitores, na sua opinião, é a crise econômica “medonha”. Outro: “O País é televisivo”. E outro ainda, que exige muito dos governantes e de representantes da área educacional: “Escolas e cidades são muito precárias quanto aos ambientes de leiturização”, reflete. Ele também se espanta com o fato de Campinas possuir apenas quatro bibliotecas públicas, enquanto Ribeirão Preto inaugura 330, Curitiba mantém o Farol do Saber e o Rio de Janeiro espalha postos avançados de leitura.

“O ensino nas escolas é livresco, mas não tem livros”, lamenta o acadêmico ao comentar as estruturas culturais para a promoção da leitura. Ele acrescenta que o desafio é grande diante das precariedades acumuladas. Um dado assustador revelado por Silva e que certamente pode retardar o sonho de se ter um Brasil quase 100% leitor: “Sessenta por cento das escolas brasileiras não têm sequer energia elétrica”.

Apesar de defender os benefícios de uma boa leitura, Silva reflete também sobre obrigatoriedade. “Também não vamos usar o discurso que leitura é tudo na vida; ela é um complemento. A pessoa deve conviver com a leitura e os livros para satisfazer as suas diferentes necessidades e nem todas as necessidades humanas são atendidas exclusivamente pela leitura”, arremata.

 

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