Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 233 - de 13 a 19 de outubro de 2003
Leia nessa edição
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Educação: futuro sustentável
Desenvolvimento da Unicamp
Vestibular: recorde de inscritos
Farmácias de manipulação
Pesquisa: risco de hipertensão
Incontinência urinária
Pesquisa: subproduto da cana
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Pesquisa produz cera extraída de subproduto da cana

MANUEL ALVES FILHO

A pesquisadora Thaís Maria Ferreira de Souza Vieira: destino mais nobre à torta de filtro

Um subproduto da indústria sucroalcooleira, a torta de filtro, atualmente descartada ou utilizada como fertilizante, pode ganhar um destino mais nobre e gerar lucros adicionais para o setor, graças a uma pesquisa desenvolvida por Thaís Maria Ferreira de Souza Vieira, que acaba de se doutorar pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp. O resíduo dá origem a uma cera que apresentou propriedades químicas e físicas próximas às das ceras comerciais de carnaúba e abelha. “O trabalho mostrou que a cera obtida a partir da cana-de-açúcar pode vir a ser uma alternativa à cera de carnaúba, com potencial de aplicações nas áreas alimentícia, farmacêutica, de cosméticos e de limpeza”, afirma a autora da tese. Segundo ela, o estudo gerou um pedido de registro de patente em nome da Universidade.

A cera da cana-de-açúcar apresenta pelo menos duas vantagens importantes sobre as demais, conforme Thaís. Primeiro, ela é extraída de um subproduto abundante gerado pela indústria sucroalcooleira. O Brasil, lembra a pesquisadora, é o maior produtor mundial dessa cultura agrícola. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimam que o País fechará 2003 com uma safra de aproximadamente 380 milhões de toneladas. Segundo, porque a cera da cana-de-açúcar poderia ser usada como alternativa à de carnaúba, que resulta de uma atividade extrativista e de produção limitada.

A autora da tese de doutorado explica que a cera está presente na superfície da cana-de-açúcar. Ela forma uma espécie de película que protege a planta contra a desidratação e do ataque de microorganismos e insetos. Depois que a cana é moída e o caldo é extraído para a produção de açúcar ou álcool, restam alguns subprodutos, entre eles a torta de filtro. Para separar a cera dos outros materiais é usado um solvente. Processo semelhante é adotado para purificar o produto. Thaís afirma que cada tonelada de cana-de-açúcar gera, em média, 30 quilos de torta de filtro.

O rendimento em cera purificada, a partir das tortas de filtro secas utilizadas no trabalho, variou de cerca de 2% a 4%, de acordo com a pesquisadora. Ao promover a análise da cera já purificada, Thaís constatou que ela apresentou propriedades químicas e físicas similares às da cera comercial de carnaúba. Embora o estudo não tenha incluído testes relativos à aplicação, a autora da tese acredita que, em virtude dessas características, a cera de cana-de-açúcar poderia se constituir em alternativa à cera de carnaúba em algumas aplicações. As ceras, esclarece a especialista, são usadas na produção de biofilmes comestíveis, cosméticos, revestimentos de cápsulas de remédios e pastas para limpeza e polimento.

Segundo Thaís, a sua tese de doutoramento faz parte de uma linha de pesquisa da FEA, sob a coordenação do seu orientador, o professor Daniel Barrera-Arellano. Algumas usinas de açúcar e álcool, revela a pesquisadora, já demonstraram interesse em dar um destino mais nobre à torta de filtro, a partir do processo desenvolvido por ela. “Acredito que, antes da transferência de tecnologia para a iniciativa privada, seria necessário desenvolver trabalhos que tenham como objetivo a aplicação da cera da cana-de-açúcar”, afirma. Para desenvolver a tese, Thaís, que atualmente trabalha na Embrapa Agroindústria de Alimentos, contou com bolsa concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

 

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