Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 233 - de 13 a 19 de outubro de 2003
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IQ desenvolve dispositivo útil para farmácias de manipulação
Equipamento portátil e barato mede princípio ativo em formulações farmacêuticas comerciais

LUIZ SUGIMOTO

A professora Adriana Rossi e a pesquisadora Wilma Crivelente: simplificando ao máximo o procedimento analítico

Desde 2001, as farmácias de manipulação estão submetidas a uma legislação nacional que obriga a apresentação de laudos atestando a qualidade da matéria-prima e dos produtos manipulados. No caso da matéria-prima, os estabelecimentos contam com resultados de análises do fornecedor. Já quanto ao medicamento manipulado, as farmácias ficam responsáveis pelo laudo comprovando a dosagem prescrita pelo médico. Isto pode ser encomendado a um laboratório especializado, mas a custos razoáveis.

Um produto adequado para que as farmácias de manipulação cumpram a legislação – e igualmente útil em pequenos laboratórios – é o fruto de pesquisas realizadas pelo Instituto de Química (IQ) da Unicamp. Wilma Cristina Tavares Crivelente, em dissertação de mestrado orientada pela professora Adriana Vitorino Rossi, dosou hidrocortisona em formulações farmacêuticas comerciais, usando um equipamento portátil que pode ser montado por meros R$ 600. “Nos testes, conseguimos quantificar a hidrocortisona com boa precisão”, afirma Wilma Crivelente.

A professora Adriana Rossi explica que a quantificação de medicamentos envolve dois aspectos. Um deles é a dosagem em fluidos biológicos do paciente, com fins de análise clínica, controlando, por exemplo, o quanto dele é absorvido pelo organismo, quanto é efetivamente utilizado e quanto é eliminado o que pode ser útil em diagnósticos. Neste caso, as faixas de concentração são muito baixas, um problema que requer detalhes e cuidados especiais no desenvolvimento dos métodos analíticos. Outro aspecto, muito diferente, é dosar a quantidade do princípio ativo numa formulação farmacêutica. Então, as concentrações são mais altas e o controle de qualidade passa a ser um ponto crítico para garantir as propriedades terapêuticas do produto a ser comercializado.

“Esta dissertação surgiu muito em função da idéia de simplificar ao máximo o procedimento analítico. As grandes indústrias farmacêuticas possuem laboratórios que resolvem quase todos os problemas de análise, mas graças a equipamentos muito caros, inacessíveis para indústrias menores e mais inacessíveis ainda para farmácias de manipulação”, diz a professora.

Baixo custo – Para os pesquisadores do Grupo de Pesquisas em Química Analítica e Educação (GPQUAE) do IQ, simplificar também significa tornar mais barato. Os procedimentos que envolvem a formação de compostos coloridos facilitam medidas analíticas. Uma técnica é a espectrofotometria, que no trabalho de Wilma Crivelente acabou adaptada num equipamento portátil de baixo custo. “O aparelho, também desenvolvido aqui no laboratório com a colaboração dos professores Matthieu Tubino e Xiwen He, relaciona a intensidade da cor – proporcional à concentração da substância – com a resistência de um resistor fotossensível que é lida num multímetro”, demonstra Adriana Rossi.

O multímetro pode ser comprado em lojas de materiais elétricos por cerca de R$ 70. A cela de medida, que envolve um resistor fotossensível de R$ 1 real, é montada em teflon grafitado (R$ 120) que precisa ser torneado em oficina (o trabalho de torno não deve passar de R$ 400). “Quanto aos procedimentos, colocamos à disposição dos interessados. Como toda farmácia de manipulação possui um técnico em Química ou Bioquímica, além de um farmacêutico, os procedimentos experimentais são de domínio do estabelecimento”, acrescenta a professora.

Versatilidade – Wilma Crivelente não encontrou irregularidades em seus testes com produtos comerciais contendo hidrocortisona. “Eles apresentaram variações dentro da faixa estabelecida pelos fabricantes”, atesta. “Esta variação é larga, facilmente detectável em termos de análise. Nosso procedimento atinge uma faixa muito menor. O importante é que aplicamos uma reação muito adequada, estudada no IQ e na Unesp de Araraquara, pela professora Helena Pezza e o mestrando André Vicentim, na qual se forma um composto colorido derivado da hidrocortisona”, assegura Adriana Rossi.

Os testes com a hidrocortisona confirmam a eficácia do equipamento desenvolvido no IQ na quantificação de um princípio ativo, mas a professora, ao lado de outros pesquisadores, vem trabalhando em procedimentos para outros princípios ativos de formulações farmacêuticas, como clorotetraciclina, acetato de dexametasona e acetato de hidrocortisona. “É possível estudar outras reações para diferentes compostos. Interações com farmácias de manipulação ajudariam a priorizar aqueles de seu maior interesse”, sugere Adriana Rossi.

 

Excesso acarreta efeitos colaterais

A hidrocortisona é um hormônio produzido pelo organismo e pode atuar como mecanismo natural de defesa, apresentando importante atividade antiinflamatória. Quando esta produção é insuficiente, uma dosagem adicional pode ser oferecida com medicamentos. Porém, o uso prolongado desses medicamentos faz com que o corpo vá deixando de produzir o hormônio, tornando-se cada vez mais dependente da fonte externa. Surge o risco de diversos efeitos colaterais, variando conforme o metabolismo de cada pessoa, sendo descritos na literatura casos que vão do simples aumento de acnes ao agravamento de problemas menstruais e ósseos, dores de cabeça e até a morte.

A hidrocortisona possui várias outras funções, dentre elas a de aumentar o tônus muscular, tendo provocado sua associação com doping de atletas. Mas o uso abusivo afeta mais a população que se automedica com antiinflamatórios. Os médicos a prescrevem apenas como último recurso, assim mesmo começando por doses baixas e voltando a diminuí-las ao final do tratamento, dando tempo ao organismo de repor o que estava sendo ingerido.

 


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