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Jornal da Unicamp - Outubro de 2000

Página 20

Isabel Gardenal

ARTE

O show no microscópio

As múltiplas formas que pavimentam a ponte entre a ciência e a arte

Enquanto prepara o cenário para um encontro com a arte, Benedicto de Campos Vidal, professor do Departamento de Biologia Celular e emérito da Unicamp, se posiciona diante de um microscópio: ele seleciona desde tecidos humanos até vegetais arranjando-os todos numa lâmina. O contato com a luz possibilita a visão de estruturas que nascem de um mundo vastíssimo com múltiplas cores e formas. É o espetáculo da microscopia, conjunto de técnicas de observação de objetos através do microscópio, que mede e quantifica fenômenos de dimensões reduzidas e incapazes de serem vistos a olho nu.

Mas do ponto de vista prático, afinal, essa pode ser considerada uma arte? "É possível extrair arte fotográfica de pinturas formadas dentro das lentes de um microscópio, as chamadas micrografias ou fotomicrografias", afirma o pesquisador Vidal. De acordo com ele, ninguém que conheça bem o assunto pode negar que o corte de um tendão é uma arte. A moderna técnica de construir gráficos serve para transmitir informações científicas, mas não deixa de ser uma arte. E o que dizer então de uma imagem da lua captada por um robô?

Tal correlação já vem sendo veiculada nas principais revistas especializadas do mundo. Em uma de suas últimas edições, a revista da Fundação Alexander Humboldt, da Alemanha, da qual Vidal foi bolsista, enfatiza que a microscopia constitui de fato uma ponte entre a ciência e a arte.

Sem deixar de lado a importância da ciência, Benedicto de Campos Vidal conseguiu sintetizar num CD-ROM, intitulado Arte e Beleza na Intimidade Microscópica, os resultados estéticos proporcionados pela teoria da ordem das moléculas. O CD, que contém 70 fotografias ou micrografias obtidas pelo autor em seu trabalho no Laboratório de Colágenos do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, resume a trajetória investigativa de Vidal e foi lançado recentemente na Associação dos Docentes da Unicamp (Adunicamp).

As imagens iniciais do CD foram gravadas ao ar livre, diante do prédio do IB. Com uma peça musical de Vivaldi ao fundo, o pesquisador esclarece no vídeo a escolha do tema. O trabalho também foi feito com versão em inglês, sendo produzido pelo Centro de Computação. Com tiragem de 1.000 exemplares, o CD é destinado tanto àqueles que têm interesse pela microscopia quanto aos amantes da arte e da fotografia.

A obra, composta de seis partes, como se fossem segmentos de uma exposição, apresenta uma seqüência de micrografias de células fibroblásticas, cristais de corantes mesofasogênicos e cartilagens, cristais mesofasogênicos e de açúcar, cristais de polímeros, feixe de colágenos, e figuras de vegetais mesofase de poliglicol.

Para realizar o CD, Vidal usou uma câmera fotográfica comum acoplada a um microscópio de polarização, que determina, através de métodos ópticos, em que direção as moléculas estão. O resultado é um prisma com imagens que podem ser fotografadas e traduzidas em arte. Na prática científica, a microscopia de polarização é uma forte aliada na realização de diagnósticos graças à leitura das cores que se configuram nas lentes.

Essas cores adquirem significados e podem ser interpretadas em uma tabela própria de polarização. Num diagnóstico de câncer, por exemplo, é possível determinar o grau de deformação das células e saber como mudou o padrão de normalidade. Vidal utiliza, para isso, cristais especiais – chamados compensadores – que são introduzidos no equipamento. Do lado de fora, um olhômetro mede o ângulo pretendido pelo especialista. As cores mensuradas naquele ângulo apontam as direções da luz que incide nos cristais, todos cortados em um certo sentido e com espessura controlada.

A cor permite fazer uma estimativa do fenômeno que acontece à medida que a luz percorre sua trajetória dentro da estrutura microscópica. O diagnóstico é preciso, sem necessidade de exames complementares.

A análise parte do padrão de uma estrutura normal, cuja característica é sempre representada por uma cor azul intensa. Um tumor que já esteja destruindo as fibras apresenta, em vez das diferentes gradações de azul, um vermelho pálido, esmaecido. Uma estatística, feita após a análise, dá conta dos motivos da ocorrência do fenômeno, da dissociação das moléculas e conseqüente progressão da doença invadindo o organismo.

Da ficção ao mercado

Benedicto de Campos Vidal enveredou pela área de microscopia de polarização ao concluir a graduação em Odontologia pela USP. Naquela época, em 1963, seu objetivo era explicar como os dentes ficavam presos aos ossos e ao alvéolo dental. "Através da ordem que verifiquei existir no universo da morfologia, resolvi avaliar melhor a ordem molecular e a importância dos feixes de colágeno nessa constituição", explica. Vidal foi um dos primeiros a usar o método das cores para determinar a ordem das moléculas, e isso em plena década de 50, em que o meio científico esperava só chegar a esse resultado por meio das investigações sobre o DNA. Não existia outra forma de ver a orientação de moléculas num corte histológico.

"Compreendi que as coisas que se vêem, um tendão, um dedo, uma orelha, uma musculatura, dependem de uma arquitetura molecular. O caminho para se estudar essa arquitetura era a microscopia de polarização. "Já naquele momento eu conseguia vislumbrar o valor daquilo", declara.

O emprego da microscopia de polarização para definir e complementar o conhecimento em termos de organização molecular encontrou uma de suas maiores expressões nos cristais líquidos, atualmente uma área "top". Os cristais líquidos são classificados em grande parte utilizando-se este tipo de microscopia e têm um elo com a organização de tecidos animais, como a fibroína – proteína que constitui a seda –, o colágeno e a queratina.

"Muito se tem divulgado a respeito dos cristais líquidos, sobretudo o seu uso em monitores de laptops. No futuro, quando essa matéria-prima baratear, todos esses monitores, telas planas que se vêem com freqüência em filmes de ficção, estarão disponíveis no mercado. Portanto, além do interesse científico, trata-se também de um grande investimento comercial", conclui o pesquisador.


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