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Jornal da Unicamp - Outubro de 2000

Página 18

Maria Alice da Cruz

SAÚDE

O primo pobre no divã

Ambulatório oferece psicoterapia analítica a pacientes de baixa renda

A idéia que se tem de um tratamento psicoterápico é de que está reservado a pequenas elites privilegiadas. Isto acontece, segundo o psiquiatra Paulo Rodrigues de Moraes Castro, porque os termos psicoterapia e psicanálise remetem imediatamente à imagem de uma sala fechada, um divã e R$ 70 no final da consulta, no mínimo. Trabalho diferente é realizado pelo Ambulatório de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Unicamp, que há muito tempo oferece tratamento psicanalítico a um público de classe média-baixa e baixa pouco acostumado com essa prática, por muitas vezes considerada ineficaz. Psiquiatra no Ambulatório de Psicoterapia da Unicamp há três anos, Paulo Rodrigues de Moraes Castro desenvolve um estudo sobre a especificidade dos paradigmas de diagnósticos psicanalíticos. Nessa pesquisa, ele propõe uma reavaliação no tratamento de doenças psicopatológicas e no discurso utilizado por profissionais da área, bem como no diagnóstico precoce que muitas vezes pode conduzir o paciente a um tratamento medicamentoso desnecessário. Por meio de uma avaliação do atendimento prestado pelo ambulatório do Hospital das Clínicas a pacientes de classes média-baixa e baixa, Castro procura mostrar quais são as possibilidades de se fazer psicanálise sem se prender apenas a correntes psicológicas do passado.

Incentivado a realizar psicanálise logo em sua primeira residência na Unicamp, Castro defende a viabilidade da prática da psicoterapia em ambulatório universitário. Em sua experiência como psiquiatra do ambulatório, onde diz estar se especializando em psicoterapia analítica, ele argumenta que, a partir do momento em que as sessões de psicanálise passam a ser praticadas na universidade, o discurso muda. "Diante das discussões que se vêem nas revistas de psiquiatria, nós observamos uma possibilidade de comunicação amena, e nem por isso menos rica, entre os profissionais da área, o que permite pensar no atendimento público."

A escolha pelo ambulatório da Unicamp como objeto de análise se deu não apenas por ser o local em que foi estimulado a fazer psicanálise, mas pelas vantagens que o departamento apresenta. "Na Unicamp, o atendimento psicoterápico começa já na universidade, onde, na primeira e na Segunda residências, os alunos de psiquiatria já são estimulados a fazer psicanálise, independentemente de optar por áreas como neurociência ou genética.", conta. Alunos de residências 1 e 2 são sensibilizados para a escuta de pacientes e orientados por professores para observar aspectos psicodinâmicos mesmo em pacientes que se encontram em atendimento clínico. É uma surpresa, revela Castro, assim como foi para ele, ao ser incentivado pelo professor João Batista Laurito Júnior a fazer sua primeira sessão de psicanálise com uma paciente em padecimento psíquico avançado que se recusou a tomar remédios. "Eu não sabia fazer psicanálise, mas eu tinha de curá-la sem os remédios."

Os residentes recebem os pacientes após uma triagem, que envolve uma avaliação psiquiátrica específica feita por Castro. Com base em uma longa conversa com o doente para se conhecer a origem do mal que o aflige, Castro determina a que tipo de tratamento ele será submetido. Um paciente se queixando de depressão ou falta de apetite tem um tratamento diferente daquele cujo sintoma é simplesmente a tristeza. Esta prática, garante o psiquiatra, afasta a idéia de que todo paciente com padecimento psíquico grave que procura a psiquiatria necessite de uma conduta medicamentosa para se curar.

Uma das questões mais pertinentes constantes de sua pesquisa, apresentada como tema livre no 5º Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental de Psicopatologia, organizado pelo diretor do Laboratório de Psicopatologia da Unicamp, Mário Eduardo Costa Pereira, diz respeito ao cuidado com as conseqüências que pode ter a discussão do diagnóstico apenas a partir do chamado "trem da vida". Para ele, deve-se pensar no trem da vida, mas é preciso considerar que cada paciente tem sua própria história e ela precisa ser ouvida. "Nem sempre um paciente com esses sintomas precisa de um tratamento medicamentoso. Nem sempre a doença é biológica", avalia.

Quanto ao retorno, Castro faz questão de deixar claro que "a oferta é de um trabalho gratuito com a qualidade de um serviço de clínica particular, mas o médico sente-se pago pela experiência, pelo contato com os pacientes e pelas discussões pós-atendimento". "O paciente chega aqui com sua demanda e nós avaliamos. A universidade é isso, feita para fazer pensar, e eles trazem o incômodo para nós avaliarmos, trazem o material para pensarmos", reflete. A pesquisa de Castro está entre os muitos debates realizados em respeito à saúde mental dos indivíduos contemporâneos. Com essa proposta de atualização dos paradigmas do diagnóstico, diante do avanço científico tecnológico nessa área, profissionais de psicopatologia buscam aproximar-se cada vez mais dos problemas sociais que afligem a mente humana.

Apoio e orientação

Uma das razões que levaram o psiquiatra Paulo Rodrigues de Moraes Castro a escolher o ambulatório de psiquiatria para seu estudo sobre os paradigmas psicanalíticos foi a filosofia adotada pelo Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria, setor da Unicamp ao qual está agregado o ambulatório. "O Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica sempre se pautou para uma visão psicodinâmica. O atendimento é garantido porque, desde a residência 1, os alunos já são preparados para isso."

A filosofia geral da residência médica em psiquiatria, segundo estatuto do departamento, é a de formar psiquiatras capazes de trabalhar dentro da realidade sociocultural brasileira, mantendo um espírito crítico, ético e científico. A prática ensinada está fundamentada nas principais correntes psicopatológicas contemporâneas.

O Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria (DPMP) se pauta pela prática de atividades assistenciais importantes ao tratamento do doente psíquico. O atendimento oferecido pelo departamento pode incluir desde orientação e apoio, tratamento medicamentoso, psicoterapias individual e grupal, até assistência psicológica e social, terapia ocupacional e cuidados de enfermagem psiquiátrica. A estrutura assistencial do departamento é setorizada por faixa etária: infância, adolescência e idade adulta.

Situado no terceiro andar do Hospital das Clínicas, o ambulatório do DPMP possui 13 consultórios para atendimento individual, uma sala para grupos e um espaço para reuniões clínicas. No ambulatório de psicoterapia, onde Castro trabalha com mais dez estagiários e psicólogas, são assistidos cerca de 600 pacientes por mês. As pessoas atendidas encontram-se, geralmente, em um estágio já avançado da doença, afirma Castro, e chegam à Unicamp pelo pronto-socorro, encaminhados por médicos psiquiatras de diversos hospitais.

Os casos são atendidos pelos residentes sempre com a supervisão de professores. Uma vez por semana, residentes, que são assistidos por três psicólogas durante as sessões, reúnem-se com seus professores e colegas para discutir caso a caso e decidir o rumo dos tratamentos. As sessões individuais são realizadas por médicos da residência 3, disciplina não-obrigatória freqüentada por médicos já formados e especializados, inclusive Castro, que se dedicam exclusivamente ao atendimento de pacientes com necessidade de psicoterapia .

Apesar de o trabalho estar voltado à sociedade, o departamento não tem estrutura para aumentar sua demanda. No momento, o setor limita-se a atender apenas os pacientes com encaminhamento médico. A abertura de vagas, justifica Castro, se dá a partir da demanda apresentada pelo Pronto-Socorro da Unicamp.


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