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Jornal da Unicamp - Outubro de 2000

Páginas 10 e 11

MULHER

Adriana Miranda

Sexo depois dos 45

Pesquisa com mulheres entre 45 e 60 anos anos constata que 68% mantêm atividade sexual e que, dentre estas, 88% têm prazer na relação,
no chamado ‘efeito Vera Fischer’

Elas são filhas da geração "sexo, drogas e rock and roll" e do surgimento da pílula anticoncepcional, e se encontram hoje na faixa etária dos 45 aos 60 anos, em período de menopausa e pós-menopausa. Mas se a questão é desempenho sexual, as brasileiras nesta idade vão às alturas, atingindo patamares das companheiras de primeiro mundo, como as dos países escandinavos e dos Estados Unidos. É o que revela uma pesquisa junto a 456 mulheres de Campinas, que fundamentou a tese de doutorado do ginecologista Valdir Tadini, diretor científico do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, em São Paulo.

"Não é à toa que a revista Playboy estampou recentemente, na capa, mulheres maduras como Vera Fischer e Ângela Vieira, símbolos de beleza e exuberância sexual", afirma Tadini. Segundo o médico, as duas atrizes espelham o perfil apontado na pesquisa, de mulheres em período de pós-menopausa muito bem resolvidas sexualmente. Os resultados derrubam o mito de que sexo é prazer somente para jovens como Feiticeira e Tiazinha.

O estudo de Tadini é o primeiro de base populacional sobre a sexualidade na pós-menopausa elaborado no Brasil e na América Latina. O médico avalia também a influência de fatores sócio-demográficos, clínicos e da percepção que a mulher tem sobre o seu estado de saúde (veja matéria nesta página).

Dentre as 456 entrevistadas, 68% afirmaram manter atividade sexual. Neste grupo, 88% revelaram que têm prazer durante a relação. A maior parte delas teve a iniciação sexual em torno dos 19 anos de idade, média que no início do século era de 25 anos. Entre as ativas sexualmente, 56% garantiram manter de 1 a 4 relações por mês, no período de um ano. Um percentual expressivo, 29%, mantém de cinco a dez relações/mês; 12%, de 11 a 20 relações; e 3%, 21 ou mais relações. "Esta média de cinco a dez relações é bastante grande e não existe em nenhum outro país", afirma Tadini.

Com mais prazer – O ginecologista acentua que o fato de a mulher não estar mais em idade fértil na menopausa pode trazer maior prazer. "Elas não têm mais que se preocupar com a chegada indesejada de um filho", ressalta. A pesquisa indica que, se o estado de saúde for regular, a mulher tem 4,8% mais chances de obter prazer sexual. "Se o estado de saúde for bom ou excelente, as chances são de 9,6%", prevê Tadini.

Para fundamentar sua tese de doutorado, o autor usou como base populacional o censo publicado em 1994 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este censo registrou 79 mil mulheres na faixa etária de 45 a 60 anos morando em Campinas. "Cientificamente, 390 já ofereceriam uma boa amostragem, mas resolvemos ampliar o número para maior segurança metodológica", explica o médico.

Embora aquelas que afirmaram sentir prazer "às vezes" sejam maioria, também é expressivo o percentual de mulheres que garantiram se satisfazer sempre no ato sexual – 102 (34%) das 297 entrevistadas que responderam a esta pergunta. Por outro lado, 41 (14%) declararam que nunca têm prazer. "A educação e o conhecimento do corpo são fundamentais na prática do sexo", observa Tadini.

Revolução feminina – Para o médico, o fato de as brasileiras na pós-menopausa terem desempenho sexual comparado às mulheres do primeiro mundo se justifica. "Quando eram adolescentes ou jovens, elas viveram um período de maior liberdade sexual. No caso do Brasil, o positivo é que a revolução feminista não foi masculinizada como em outros países. Aqui foi bem feminina".

Tadini afirma que esta revolução dos anos 60 e 70 influiu diretamente na sexualidade da mulher pós-menopausa do ano 2000. "A pesquisa mostra que elas estão bem resolvidas. Quem não conseguiu acompanhar este avanço foram os homens", salienta. Como exemplo, ressalta que 70% das mulheres em abstinência sexual declararam estar nesta condição por falta de parceiros. Entre as 456 pesquisadas, 145 (32%) não tiveram relação no período de 12 meses. A pesquisa foi realizada de dezembro de 97 a fevereiro de 98, e apresentada na Unicamp em 15 de setembro último.

A impotência e problemas de saúde do parceiro também foram citados pelas entrevistadas para justificar a abstinência sexual. "Esses dois fatores, aliados à falta de parceiros, mostram que o motivo para a mulher não praticar sexo na maioria das vezes está com o homem", comenta. Outros fatores que podem levar à abstinência (10%) são a secura vaginal e a dor na relação.

Auto-conhecimento é pré-requisito

Educação e padrão de vida são fundamentais para a prática do sexo com prazer. Em sua tese de doutorado, "A sexualidade no climáterio", o ginecologista Valdir Tadini aponta ainda o parceiro estável, a condição de não fumante e a reposição hormonal como fatores que influenciam positivamente na atividade sexual das brasileiras em pós-menopausa.

"Para fazer sexo, a mulher precisa ter boa condição socioeconômica, boa educação e o conhecimento do próprio corpo", arrisca-se a afirmar Tadini, com base nos números colhidos em seu estudo. Entre 166 entrevistadas que declararam ter de uma a quatro relações por mês, 43% pertencem à classe C e 16% às classes A e B, contra 40% das classes D e E. As que mantêm cinco ou mais relações são 33% das classes A ou B, 43% da C e 24% das classes D ou E.

Com relação ao cigarro, estudos demonstram que mulheres se sentem mais saciadas com o fumo e não procuram tanto o prazer com os parceiros. Segundo Tadini, este é mais um dando que comprova o aspecto negativo do fumo para a prática do sexo.

A auto-percepção do corpo e do estado de saúde colaboram muito para a sexualidade na menopausa. "Se a mulher se considera bem de saúde tem de cinco a 10 vezes mais chances de obter prazer no sexo", aponta. Justamente para este dado, diz o autor da pesquisa, é que os médicos devem ficar alertas.

"A maioria dos médicos não sabe como lidar com a sexualidade da mulher. A psicologia avançou, as mulheres avançaram, mas os homens e os médicos, quando o assunto é este, não", comenta Tadini. Ele diz que em geral os médicos têm dificuldades em fazer perguntas relacionadas à sexualidade da paciente durante o atendimento.

Na tese, Tadini destaca que a contribuição do estudo é justamente alertar os profissionais de saúde e pesquisadores, para melhor entendimento das ações não estritamente biológicas sobre o comportamento humano, para a sexualidade na menopausa e para maior atenção às queixas das mulheres e seus parceiros.

Tadini lembra que o sexo é um importante indicador de qualidade de vida para as pessoas. "Neste ponto, em especial, a pesquisa mostra que ao se manterem ativas sexualmente e buscando o prazer e o amor, as mulheres têm vivido melhor", diz.

Outro fator elogiado pelo médico é a maturidade das mulheres no pós-menopausa quando o assunto é sexo. "Um dos fatores que colabora para a prática como ficou demonstrado é o fato de um parceiro fixo e não eventual", aponta. Para Tadini, dificilmente haverá um período com mulheres tão bem resolvidas como as que se encontram hoje na faixa dos 45 aos 60 anos. "Elas viveram na adolescência e juventude um momento singular", comenta.

Censo serviu de base

A tese de doutorado "Sexualidade no climatério: uma análise do inquérito populacional domiciliar em mulheres de 45 a 60 anos no município de Campinas" foi apresentada ao curso de pós-graduação da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, em 15 de setembro deste ano. Com o trabalho, o médico Valdir Tadini obteve o título de doutor em Medicina na área de tocoginecologia.

O trabalho contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Fundo de apoio ao Ensino e Pesquisa (Faep) e da FCM da Unicamp. Tadini informa que a tese começou a ser elaborada em 97. O médico se formou na Unicamp, onde também concluiu sua dissertação de mestrado e agora de doutorado. A tese foi orientada pelo professor Aarão Mendes Pinto Neto.

Tadini conta que os dados para a pesquisa feita junto a 456 mulheres foram coletados por meio de entrevistas domiciliares com questionários estruturados e pré-testados internacionalmente no sudoeste Asiático e nos Estados Unidos. A base populacional da pesquisa teve como fonte o censo demográfico publicado em 1994.

‘Sempre gostei de fazer sexo’, afirma a musa Ângela Vieira

Aos 45 anos ela entrou definitivamente na menopausa. Com 47, iniciou a reposição hormonal, pousou nua e foi capa da revista masculina "Playboy" , se firmando definitivamente como musa quarentona. Hoje aos 48 anos, a atriz Ângela Vieira avalia que atravessa uma fase excepcional, inclusive sexualmente. "Sempre gostei de fazer sexo. Avalio que é uma das boas coisas da vida, ainda mais quando feito com humor. A idade não atrapalha em nada o meu desempenho", declara a atriz, que atualmente vive a personagem Velma, na minissérie da Globo Aquarela do Brasil.

A atriz concorda com o ginecologista Valdir Tadini, autor da tese de doutorado apresentada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sobre a Sexualidade no Climatério, no que diz respeito às influências sociais sofridas por sua geração e que resultam hoje num melhor posicionamento frente ao sexo entre as mulheres da pós-menopausa. "Sou da geração do amor livre, da queima dos sutiãs, das mulheres que começaram a se mostrar mais e buscar o prazer sem culpa", aponta.

Ângela diz que com a idade adquiriu experiência sexual. "O jovem tem a ansiedade, as emoções mais à flor da pele. Com o passar dos anos, você pode ganhar na qualidade de uma relação sexual, ter maior prazer na carícia e se mostrar ao parceiro sem pudores", comenta.

Um dos fatores importante que colaborou para a manutenção do sexo depois da entrada na menopausa, diz Ângela, foi perceber exatamente o que estava ocorrendo com o seu corpo quando deixou de mestruar. "Na vida não podemos fazer nada com saudosismo.

É preciso aceitar as etapas e tirar proveito delas. Ver o que se ganha com elas", ensina.

Mãe de uma adolescente de 16 anos e atualmente solteira, a atriz revela que a maturidade também lhe ensinou que o prazer nem sempre está diretamente ligado ao fato de amar um homem. "Você pode ter sexo prazeroso e legal sem necessariamente contar com um marido ou namorado", comenta. Mas, para isso, Ângela diz que é preciso conhecer o próprio corpo e acima de tudo se gostar.

"Em conversas com amigas, sinto que as mulheres estão mais preparadas para enfrentar a menopausa e manter-se sexualmente ativas, mas me parece que nem sempre os homens estão aptos a estar com uma mulher de 40 ou 50 anos", aponta Ângela, que aos 26 anos resolveu trocar uma promissora carreira de balé clássico pela profissão de atriz.

A então bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro estreou na Globo em 1978, quando exibia suas formas generosas no humorístico "Planeta dos Homens". Mais de 20 anos depois, ela continua se mostrando, tanto que se deu ao luxo de explorar a sensualidade em ensaio, publicado em outubro do ano passado, na revista masculina "Playboy". Três meses depois, em janeiro de 2000, foi a vez da musa Vera Fischer aparecer na capa da mesma revista.

DADOS DA PESQUISA

Atividade sexual
Sim 303 (68%)
Não 145 (32%)
Total 448(100%)

Relações sexuais/mês
Número Mulheres
1 a 4 vezes 166 (56%)
5 a 10 vezes 87 (29%)
11 a 20 vezes 34 (12%)
21 ou mais vezes 8 (3%)
* oito mulheres não responderam

Prazer sexual
Sempre 102 (34%)
Às vezes 154 (52%)
Nunca 41 (14%)

Motivo da abstinência sexual
Não tem parceiro 92 (63%)
Doença do parceiro 17 (12%)
Falta de desejo da mulher 14 (10%)
Brigas do casal 10 (7%)
Doença da parceira 4 (3%)
Impotência 4 (3%)
Secura vaginal 6 (4%)
Depressão/ansiedade 2 (1%)

Início da atividade sexual
IDADE MULHERES *
Até 19 anos 248 (55%)
20 a 22 anos 74 (17%)
23 ou mais 125 (28%)
*uma mulher não informou


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