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Unicamp homenageia Milton Santos

Universidade dá nome de geógrafo à praça inaugurada no último dia 22

MARIA ALICE CRUZ

A prefeita Izalene Tiene, o reitor Brito Cruz e o vereador Sebastião Arcanjo na inauguração da praça Milton Santos Milton Santos (1926-2002), referência mundial em estudos geográficos, agora dá nome a uma das praças da Unicamp. A placa em sua homenagem foi descerrada dia 22 de novembro, na frente da Secretaria-Geral da Universidade, onde está plantada uma árvore de baobá, símbolo da resistência do povo negro. A inauguração, que se somou às atividades da Semana da Consciência Negra, foi precedida por uma cerimônia que contou com presença do reitor da Unicamp, professor Carlos Henrique de Brito Cruz, do vice-reitor, professor José Tadeu Jorge, da prefeita de Campinas, Izalene Tiene, do vereador e deputado estadual eleito Sebastião Arcanjo, do representante da Coordenadoria para Assuntos da Comunidade Negra da Prefeitura Municipal Mário Marcelo Ramos e do diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp João Raimundo Mendonça de Souza.

A homenagem ao geógrafo Milton Santos foi um momento sonhado pelo poeta Beeroth de Souza, funcionário da Faculdade de Educação Física da Unicamp. Sua sugestão foi encaminhada pelo STU e prontamente acatada pela Reitoria. A idéia, segundo Beeroth, foi aproveitar a praça onde encontra-se o baobá para render homenagem a um dos mais importantes representantes do Movimento Humanista.

Para o reitor Carlos Henrique de Brito Cruz, homenagear Milton Santos é zelar pela memória de um dos homens mais incomuns da academia. "É olhar para o futuro com a herança de seu pensamento", afirmou.

Formado em Geografia, João Raimundo de Souza, diretor do STU, entidade que encaminhou o pedido da homenagem, acredita que a lembrança ao nome do geógrafo pode representar um avanço nas discussões acerca de questões raciais. "Temos orgulho de ver Milton Santos sendo homenageado pela Unicamp porque tivemos uma relação especial com ele, por tudo o que representa e representou do ponto de vista do pensamento avançado, que aponta para uma nova sociedade que trabalha cotidianamente para construir um mundo melhor."

Souza reforça que Milton Santos é referência para integrantes do movimento negro. "Não porque ele militava, ele era um acadêmico, mas pelo debate que fazia sobre inclusão e por não esquecer suas origens, apesar de ter se consagrado como um dos mais importantes intelectuais do mundo", acrescenta.

O vereador Sebastião Arcanjo lembrou que a geografia de Milton Santos era parte do sonho de Antonio da Costa Santos, prefeito de Campinas assassinado em setembro de 2001. "Toninho achava importante experimentar as propostas de Milton Santos em Campinas. "Arcanjo acentuou que o próprio Milton Santos, em suas entrevistas, dizia-se inconformado com os que se negaram a pensar num momento de hegemonia neoliberal. Antonio da Costa Santos foi lembrado também nas palavras da prefeita Izalene Tiene. "Milton Santos conseguiu pensar o espaço territorial analisando as relações excludentes. Uma proposta já anunciada por Toninho, inspirada na literatura dele, era reorganizar a área central como um centro histórico que mantenha a identidade dos cidadãos de Campinas", afirma.

GEÓGRAFO DEIXOU 40 LIVROS

A geografia é uma ciência jovem, mas Milton Santos já conseguia, em meados da década de 1960, promover a ciência ao status de disciplina nobre, aproximando-a de outras áreas como política, economia, história, sociologia e filosofia. Autor de 40 livros, ele coordenou um trabalho exaustivo denominado Programa de Estudos Geomorfológicos e de Geografia Humana da bacia do Rio Paraguaçu, na Bahia. Um estudo que teve como objetivo contribuir para a melhoria das condições de vida da população local.

Impressionado com sua inteligência e cultura, seu mestre maior, o geógrafo Jean Tricart, o convidou para realizar um curso de doutorado em Strasbourg. De volta ao Brasil, convidou seus mestres franceses para conferências abertas ao público.

A carreira do acadêmico tomou vários rumos quando Jânio Quadros, ao se eleger presidente da República, o convidou para ser subchefe da casa civil na Bahia. Durante o curto mandato do ex-presidente, que renunciou nove meses após a posse, Santos propôs punições a bancos e exportadores e imposto sobre as grandes fortunas, o que foi acatado por Jânio. O acadêmico exerceu o cargo de presidente da Comissão de Planejamento Econômico da Bahia entre 1963 e 1964.

Santos foi professor emérito da USP, lecionou na Universidade Federal da Bahia, além de ensinar em diversas universidades européias, africanas, norte-americanas e sul-americanas. Em 1994, recebeu Prêmio Internacional Vautrin Lud, considerado o Nobel de Geografia (1994). Além de duas dezenas de medalhas, outros prêmios conquistados pelo geógrafo foram os de "Mérito Tecnológico" em 1997 (Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo); o de Personalidade do Ano de 1997 (Instituto dos Arquitetos do Brasil); e o Prêmio Jabuti de 1997, pelo livro A Natureza do Espaço, Técnica e Tempo, Razão e Emoção).