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Jornal da Unicamp -- Março de 2001

Página 8 e 9

PESQUISA

Elas sabem o que fazem

Pesquisa com adolescentes grávidas indica que 98% conheciam a pílula, 99,4% a camisinha e 24,5% desejaram ter o filho

ADRIANA MIRANDA

Uma pesquisa feita na Unicamp derruba a crença de que as principais causas de gravidez na adolescência seriam a falta de informação sobre métodos anticoncepcionais ou a negligência. O estudo, em andamento, mostra que praticamente todas as meninas na faixa etária de 11 a 19 anos de idade conhecem muito bem as formas de prevenção, como camisinha e pílula. E que sua atitude, de não fazer uso desses métodos, nem sempre é irresponsável: uma parcela significativa, 24,5%, justificou a gravidez precoce pelo fato de ansiar por ter um filho.

A pesquisa faz parte da tese de mestrado do ginecologista e obstetra Márcio Belo, sob orientação do diretor do Departamento de Tocoginecologia do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), João Luiz Pinto e Silva. Foram entrevistadas, no período de outubro de 1999 a agosto de 2000, 156 meninas atendidas pelo Ambulatório de Pré-Natal de Adolescentes, serviço que funciona no hospital.

"É um erro acreditar que as adolescentes desconhecem formas de prevenção", afirma Silva. Dentre as entrevistadas, apenas 1,9% declarou ignorância quanto à contracepção. O próprio diretor do Caism realizou, na década de 80, pesquisa semelhante. E os dados mapeados nesses vinte anos mostram que a informação quanto à camisinha evoluiu consideravelmente e que pouco variou em relação à pílula.

Na década de 80, 91% das adolescentes conheciam a pílula anticoncepcional e apenas 12%, o preservativo. Hoje, 98% das adolescentes sabem da pílula e 99,4%, do chamado "condom". "Os programas de combate à Aids são os principais responsáveis pelo alto grau de conhecimento da camisinha", constata o diretor.

Há 20 anos, 26% das adolescentes declararam que não usavam métodos anticoncepcionais por julgar que não engravidariam e 52,5% manifestavam o desejo de ser mãe. "Nesta pesquisa vemos que a vontade de engravidar diminuiu, assim como o número de jovens que não acreditam na hipótese de gravidez", compara Belo. Em seu levantamento, 10,4% negligenciaram da contracepção, por achar que não engravidariam.

A repetição da pesquisa, duas décadas depois, é proposital. "O objetivo é descobrir se houve alteração na forma de pensar das adolescentes", informa Silva. O estudo permite detectar que o conhecimento sobre métodos anticoncepcionais cresceu, mas que esta informação continua não se traduzindo em prevenção.

"Existe uma lacuna muito grande entre conhecimento e uso efetivo", ressalta Belo. Ele lembra que a não utilização se deve a diversos fatores, inclusive ao desejo de ser mãe. "Não podemos esquecer que 24,5% das adolescentes entrevistadas queriam ficar grávidas e que outras 2,8% não se importavam com o fato de isto ocorrer".

Equívocos – Orientador e orientado alertam que as campanhas para evitar a gravidez precoce estão no rumo errado. "O enfoque deve ser menor na informação sobre os métodos de prevenção e maior na importância quanto ao uso", diz o diretor do Departamento de Tocoginecologia. Na pesquisa, 17,9% das adolescentes opinaram que os métodos anticoncepcionais são inconvenientes.

João Luiz Silva e Márcio Belo reclamam da escassez de campanhas institucionais voltadas exclusivamente para o combate à gravidez na adolescência. Os caminhos para reduzir a incidência, comentam, são principalmente o diálogo franco e aberto entre pais e filhos e programas de educação sexual adequados nas escolas. "Quando o tema é sexo, ainda existe muita dificuldade de comunicação dentro da família e por parte dos próprios professores em abordar o assunto", aponta Belo. Silva observa que, mesmo nos consultórios médicos, ainda se percebe esta dificuldade.

Do total de partos realizados no Caism, 20% envolvem adolescentes. Há 20 anos este percentual era de 25%. "Em comparação a outras áreas do Brasil, como as regiões Norte e Nordeste, onde o índice é de 30%, a região de Campinas não tem percentuais alarmantes", comenta Silva. O maior número de partos precoces ocorre entre 15 e 19 anos de idade. A quantidade de ocorrências foi o fator que levou o Caism a criar um serviço exclusivo para atendimento de adolescentes, onde se dá ênfase ao trabalho de informação sobre métodos de prevenção à gravidez.

Reincidência na gravidez é grande

O estudo do médico Márcio Belo, além de constatar que o conhecimento de métodos anticoncepcionais não se traduz em prevenção, mostra que é alta a reincidência na gravidez entre as adolescentes de 11 a 19 anos de idade. Na pesquisa a taxa foi de 21,2%.

O Caism, onde a pesquisa foi realizada, é um hospital que atende à população mais carente, o que justifica o fato de 54,5% das entrevistadas pertencerem à classe média baixa, 35,3% à classe pobre e 10,3% à muito pobre. Esta condição econômica torna preocupante não apenas a reincidência, como outros problemas nela embutidos.

A gravidez na adolescência traz um risco considerável de complicações para a mãe e a criança, em virtude do atendimento médico pré-natal insatisfatório. A má assistência ocorre em grande parte dos casos porque, normalmente, a adolescente esconde a gravidez até a fase mais adiantada, impedindo um bom atendimento desde o início da gestação.

Outra conseqüência ruim é que a adolescente costuma abandonar os estudos ao engravidar. Segundo o pesquisador, a escola raras vezes dispõe de estrutura adequada para acolher uma menina grávida. "Ela desiste de estudar durante a gestação ou logo após o nascimento da criança, comprometendo seriamente seu futuro profissional", salienta.

A baixa escolaridade é característica nessas famílias. Dentre as entrevistadas, os pais de 5,1% são analfabetos e de 57% têm apenas o ensino fundamental. Entre as mães das adolescentes o analfabetismo é maior, chegando a 10,3% contra 71,1% com ensino fundamental.

Márcio Belo acrescenta outro detalhe: "As adolescentes de melhor condição econômica praticam em maior número o aborto, e em locais mais capacitados. O que não ocorre com as mais pobres, por falta de dinheiro. E estas, quando recorrem ao aborto, geralmente vão a locais impróprios". O médico diz que essa informação sobre o abortamento em adolescentes de menor condição socioeconômica, é referência de outros trabalhos. "Não faz parte das conclusões da nossa pesquisa", afirma.

Prazer – Em termos de satisfação no sexo, 53,8% das adolescentes afirmaram chegar ao orgasmo "às vezes", 34% sempre e 12,2% nunca. "O prazer é atingido por muitas das adolescentes", diz Belo. Apesar de tão novas, muitas adolescentes grávidas não são solteiras (48,1%), mas amasiadas, já compartilhando a mesma casa com o parceiro; 42,3% são solteiras, 9% casadas e apenas 0,6% separadas, divorciadas ou desquitadas.

Como lidar com essas meninas?

Vontade de se integrar ao mundo dos adultos, provar ao seu grupo e à sociedade que já está madura e capaz de procriar, escapar de conflitos familiares gerados pelo mau relacionamento com os pais. São alguns fatores que poderiam explicar o desejo de engravidar manifestado por parte das adolescentes entrevistadas pelo médico Márcio Belo, em sua pesquisa sobre gravidez precoce.

A psicóloga Regina Sarmento, que atua no Ambulatório de Pré-Natal de Adolescentes, acredita que essas jovens provavelmente tomariam cuidados maiores quanto à contracepção, caso tivessem a oportunidade de concretizar um projeto de vida envolvendo a escola ou a profissão, o que muitas vezes não pode ser almejado por aquelas de classes menos favorecidas.

Regina pondera, contudo, que um projeto para o futuro nem sempre é suficiente. "Não sabemos com certeza o que acontece entre adolescentes. Vários fatores colaboram para que fiquem grávidas. É um erro buscar apenas uma explicação", adverte.

Para a psicóloga, muitas meninas, inclusive as pertencentes às classes média alta e alta, podem engravidar em busca de um alento afetivo, por prova de amor ao parceiro ou simplesmente para se certificar que são capazes de procriar. "Várias delas chegam ao Caism dizendo que demoraram para engravidar, temiam que não poderiam ser mães", exemplifica.

O desejo de ser mãe, observa Regina, é algo inerente às mulheres e não poderia deixar de se manifestar entre as adolescentes. "Biologicamente uma mulher está pronta para dar à luz a partir do momento em que menstrua. O que não significa que ela está psicologicamente madura para isso". Observa a psicóloga, no entanto, que existem meninas que demonstram estabilidade emocional para cuidar dos filhos.

Como lidar com essas meninas? Regina afirma que os pais, assim como a escola, devem manter um diálogo aberto. "Proibir não é correto. O melhor é conversar, explicar e, se for o caso, orientar sobre métodos anticoncepcionais". Ela ressalta que mesmo mulheres adultas não conseguem manter uma conversa franca com seus parceiros. "Falar sobre questões amorosas nem sempre é fácil e, por isso, o conhecimento de métodos anticoncepcionais não é garantia de que eles serão usados", pondera.

Menos preconceito – Com base na experiência acumulada em seu trabalho no Caism, Regina Sarmento afirma que, quando chegam ao ambulatório para o pré-natal, muitas adolescentes demonstram satisfação por estarem esperando um filho. "A mesma satisfação, às vezes, é manifestada pela família. São famílias de adolescentes com 17 anos de idade que, de certa maneira, já esperam que isso ocorra", revela.

A psicóloga atreve-se a concluir que o preconceito em relação à gravidez precoce diminuiu entre as famílias de baixa renda. "Não posso afirmar que a reação seja a mesma por parte dos pais de adolescentes que estão entrando na faculdade ou terminando o ensino médio, porque eles não compõem o público do Caism".

O perfil da população atendida pelo hospital explica o maior número de gestantes adolescentes das classes média baixa e pobre, reveladas no estudo de Márcio Belo. "É muito difícil estimar se as meninas pobres engravidam em maior número que as ricas. As pesquisas normalmente são feitas em instituições públicas ou hospitais-escola. Os dados dos consultórios particulares quase nunca chegam aos pesquisadores para um mapeamento", finaliza Regina.

Motivos para não utilizar métodos anticoncepcionais antes da gravidez

Queria ficar grávida - 24,5%
Acha os métodos anticoncepcionais inconvenientes - 17,9%
Achava que não ficaria grávida - 10,4%
Não pensou nisto na hora - 9,4%
Dificuldade de acesso - 8,5%
Não estava tendo relações na época - 3,8%
Tem efeitos negativos - 2,8%
Não se importava em ficar grávida - 2,8%
Não conhecia métodos adequados - 1,9%
Desnecessário - 1,9%
Não conhecia método algum - 1,9%
Gravidez faz parte do casamento - 1,9%
Confiança no parceiro - 0,9%
Por motivos religiosos - 1,9%
Não esperava ter relação naquele momento - 0,9%
Violência sexual - 0,9%
Outros - 8,5%


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