Leia nesta edição
Capa
Artigo: Hilda Hilst hoje
Cartas
Apoio à OMS
Leucemia aguda
Falta de vitamina B-12
Mandarim 27
Esporte para idosos
Drogas nas escolas
FOP 49 anos
Programa do Artista Residente
Painel da semana
Teses
Livro da semana
Cinema anarquista
Concurso de contos e ensaios
 

8

Pedagoga prega ação da
escola antes que o aluno
tenha contato com drogas

A pedagoga Marília Saldanha da Fonseca: ações de prevenção contra o uso de drogas incluídas como tema transversal do currículo (Foto: Neldo Cantanti)As ações de prevenção ao abuso de drogas nas escolas do ensino fundamental não deveriam ser isoladas ou tratadas fora do contexto da prática pedagógica, na opinião da pedagoga Marília Saldanha da Fonseca. Ela defende a inclusão do tema no currículo escolar, dentro de um quadro mais amplo da educação para a saúde, de forma integrada às demais disciplinas. A pedagoga preconiza um tema transversal com conteúdos preventivos e atividades dinâmicas, tornando os jovens mais imunes à apologia que se faz do uso das drogas.

Marília Fonseca aplicou sua proposta em um curso para professores da rede municipal de uma cidade do interior paulista. Ela parte do princípio de que é preciso oferecer possibilidades para as crianças saberem que há uma vida com saúde longe das drogas. As atividades pedagógicas devem girar em torno de uma vivência sadia e com satisfação, evitando que passe pela cabeça do indivíduo a idéia de que a droga é uma opção ao prazer. “A escola deve agir antes que ocorra o contato do aluno com a droga. Não cabe ao professor atuar em prevenção secundária ou terciária, quando o estudante já é usuário. Esta é uma função de médicos, psicólogos e profissionais da área de saúde. À escola cabe a prevenção primária, a partir de uma educação ligada à qualidade de vida” argumenta.

Segundo Marília, o que deve ser feito é desenvolver a afetividade, auto-estima e valorização de crianças e adolescentes, através de atividades desafiantes, hábitos saudáveis, brincadeiras e leituras, sempre mostrando a alegria de viver e não chamando a atenção para a questão da droga. A pedagoga sugere, ainda, o acolhimento da família na escola, o incentivo a trabalhos comunitários entre estudantes e a união de esforços entre escola e postos de saúde do bairro no oferecimento de serviços. “Os projetos devem considerar a realidade de cada grupo social. O professor precisa estar capacitado para enfrentar o desafio do abuso de drogas na escola e adotar metodologias adequadas para alcançar resultados positivos”, afirma.

Dificuldades – Marília Fonseca vê dificuldades para se implantar ações de prevenção, pois considera que as escolas ou apontam para programas importados e desenvolvidos para realidades de outros países, ou são pautadas em palestras isoladas, como por exemplo, abordando histórias de personagens que enfrentaram o problema e conseguiram vencer a dependência. “Neste último caso, pode ocorrer até mesmo o resultado inverso: um adolescente pode pensar que, se o indivíduo consumiu drogas e as deixou, ele também pode experimentar e largar”, observa. Nesse sentido, não basta passar informações, mas formar atitudes e valores.  

O conhecimento de Marília Fonseca sobre esta problemática vem da experiência adquirida desde a década de 1990, quando coordenava um curso de formação continuada para professores sobre prevenção e abuso de drogas em uma universidade brasileira. Suas considerações constam da tese de doutorado “Prevenção ao abuso de drogas na prática pedagógica dos professores do Ensino Fundamental”, orientada pelo professor Valério José Arantes. Além da proposta de aprendizagem integrada, a pesquisadora apresenta um levantamento histórico das drogas usadas pelos estudantes brasileiros e um apanhado bibliográfico sobre a situação do alunado com relação a este mundo.  

Significado social – É o álcool, uma droga considerada lícita, que está entre as mais consumidas pelos estudantes. Pesquisa feita em 2002 pelo Centro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Escola Paulista de Medicina da USP, apontam para 587 mil adolescentes, na faixa etária entre 12 e 17 anos, que apresentam dependência do álcool. “Isso não é falado e muito pouco explorado pela mídia. O álcool é comercializado normalmente e muitas pessoas sequer consideram a bebida alcoólica como droga. É consumido por pobres e ricos, que aprendem a usá-lo dentro da própria casa, de forma adequada ou não”, diz a pedagoga. Os números são cada vez mais preocupantes, sendo que na faixa etária entre 10 e 12 anos, 41% dos adolescentes já fizeram uso da bebida em algum momento.

Na opinião de Marília Fonseca, os estudos sobre drogas não devem focalizar somente o usuário, mas contemplar um conjunto de três fatores: a droga, o indivíduo e o meio social. Ela observa, também, as mudanças nos hábitos de consumo ao longo dos anos. “Em 1960, o uso da maconha era visto como elemento de contestação hippie e, por seu forte componente coletivo, a pessoa via-se integrada à roda de usuários. Hoje, o consumo da cocaína não mostra esse caráter social, é uma prática individual e solitária”, exemplifica. Segundo a pedagoga, o uso de drogas nunca foi novidade, mas o significado social e a motivação do usuário mudam segundo a época e o contexto cultural, o que é fundamental compreender.

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2005 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP