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6-7



A caminho da compulsória, o mandarim prepara sua retirada

CAPÍTULO 27

Zeferino se dizia farto de tomar decisões, mas continuava pontificando sobre como seus sucessores deveriam conduzir a universidade

EUSTÁQUIO GOMES

A “marcha dos sete mil” em São Paulo, em 5 de maio de 1977: estudantes entram em confronto com as forças policiais do coronel Erasmo DiasPOUCAS COISAS irritavam tanto Zeferino quanto a mais inocente menção à aproximação de seu septuagésimo aniversário, que se completaria em 27 de maio de 1978. Temida por muitos e desejada por outros, essa data o condenaria inapelavelmente à aposentadoria, obrigando-o, após 12 anos de reinado absoluto, a ungir um sucessor. Ungir era bem o termo, pois ninguém esperava chegar ao ponto de ocupar a cadeira do mandarim sem o seu beneplácito. Zeferino desencorajou o quanto pôde as especulações, mas nas cantinas, nos corredores das unidades de ensino e entre os dirigentes falava-se disso com freqüência cada vez maior. Seu desconforto era mais visível quando a imprudência de interlocutores próximos os encorajava a mencionar nomes. Era como se o poder se deslocasse precocemente a outras mãos, ameaçando-o com o vazio da compulsória, dois anos antes de acontecer.

Embora declarasse ao Estadão, meses mais tarde, que estava “farto da responsabilidade de tomar decisões”*, em outubro de 1976 deixou de lado a afabilidade que em geral usava para com os funcionários mais próximos e demitiu um de seus servidores mais fiéis, o chefe de gabinete Théo de Borja Reis, com quem mantinha relações de amizade desde 1963, quando era secretário estadual da Saúde. Na aparência a razão foi disciplinar: Théo chegara do almoço uma hora atrasado e cheirando a vinho. Mas o verdadeiro motivo pode ter a ver com o incipiente processo de sucessão, pois Théo era amigo do diretor da Faculdade de Medicina, José Aristodemo Pinotti, um dos nomes que apareciam com freqüência nas listas de pré-candidatos. O ofício que Zeferino dirigiu a Théoe que o demitia não só do cargo mas também da universidade mostra o quanto ele podia ser duro quando ferido em seu amor-próprio:

Aconteceu o inevitável. Pela sexta vez V. S. abandonou o posto de chefe de gabinete em pleno horário de expediente, deixando-o acéfalo em momentos críticos da vida universitária e deixando o reitor em situação constrangedora.

Desta vez o fato verificou-se às vésperas da visita do senhor Presidente da República a Campinas. Havia V. S. abandonado o posto quando um investigador do Dops pretendia prender estudantes no recinto da Unicamp e, não estando presente o reitor, competia ao chefe de gabinete tomar as providências adequadas. E bem sabia V.S. que mal havíamos superado séria crise estudantil.

Verifico pois que de nada adiantaram as determinações do reitor, feitas e reafirmadas nas cinco vezes anteriores, proibindo-o terminantemente de abandonar o seu posto antes das 18 horas.

Nem se lembrou V.S. do que ocorreu em fins do ano passado quando, pela quinta vez, deixou acéfalo o Gabinete, também em circunstâncias de crise, ocasião em que o obriguei a tomar 60 dias de férias, depois de, por consideração especial, deixar de aplicar-lhe a penalidade de suspensão que merecia.

Como vê V.S., não posso mais mantê-lo na Chefia de Gabinete, vendo-me obrigado a aceitar agora o pedido de demissão que V.S. formulou em 7 de novembro p. p., considerando-o demitido a partir de 8 de janeiro de 1977, dando-lhe oportunidade de solicitar 90 dias de férias a que tem direito, a partir da data de hoje.**

Zeferino recebe o prefeito recém-empossado de Campinas, Lauro Péricles Gonçalves. À esquerda, o chefe de gabinete Théo de Borges Reis, ainda em tempos de boa convivência com o reitor Certo de que, desta vez, apear-se do poder era inevitável, Zeferino fixou a meta de completar a instalação física da universidade até a data fatídica. Era preciso concluir a construção ou a ampliação de vários pavilhões de pesquisa ou de serviços, como os de cirurgia experimental, engenharia, física, química, matemática, ciências humanas, computação e genética, além da Biblioteca Central e de um empreendimento que ficaria como a primeira incubadora brasileira, a Companhia de Desenvolvimento Tecnológico, ligada diretamente à Reitoria. Mas, àquela altura, já era certo que os três maiores edifícios do campus – três grandes “esqueletos”, por ora – ele deixaria inconclusos por falta de recursos e de tempo hábil: o vasto Hospital das Clínicas cuja pedra fundamental fora lançada em fevereiro de 1975, o grande pavilhão do Ginásio Multidisciplinar e o prédio do Instituto de Matemática com seu grande vão interno à maneira de um teatro com camarotes e balcões. Mas a universidade, no essencial, estava instalada. Para os 5.500 estudantes de graduação e os 2.700 de pós-graduação então matriculados, havia 900 professores, o que fazia dela um “cenário de elite” onde a pesquisa tinha evidente primazia. Zeferino impunha limites de crescimento que, vinte anos depois, seriam considerados “politicamente incorretos” e insensíveis à demanda dos “excluídos”.

Está demonstrado que uma universidade com mais de 15 mil alunos é incontrolável. Uma universidade não pode crescer indefinidamente. Pode crescer indefinidamente uma empresa de produção de bens, de sabonetes, de engrenagens de câmbio, de barcos à vela, porque podem ser quantificados todos os dados do problema da produção de bens. Mas a universidade é uma empresa de produção de cultura, do produto mais nobre do espírito humano, e nós não podemos quantificar e pôr na memória do computador a qualidade do trabalho de pesquisa realizado, ou a qualidade da aula administrada, ou a qualidade do serviço prestado à comunidade. O controle tem que ser humano, tem que ser apreciado por homens capazes e a capacidade de homens para controlar a qualidade do corpo docente e discente é limitado. O gigantismo é patológico para indivíduos como para instituições. Crie o Estado uma nova universidade; se há necessidade, se há premência, se há solicitação, o Estado deve criar uma nova universidade ao invés de estar ampliando indiscriminadamente o número de estudantes de uma só universidade.***

Mas, mesmo considerando esses limites, ainda havia bastante espaço para crescer. Um dos pontos altos de 1976 foi a criação do Instituto de Estudos da Linguagem a partir do embrião que era o Departamento de Lingüística formado por Fausto Castilho a partir de 1969 e até então agregado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Como o grupo de professores que formava a base da futura unidade se opusesse à criação de um instituto clássico****, nos moldes do “modelo-tênia” escolhido pela USP, que conjugava o ensino de línguas ao de suas respectivas literaturas, preferindo, em vez disso, uma estrutura que juntasse a lingüística à teoria literária, Zeferino aproveitou o impasse para reavivar um velho sonho: apoiaria o novo projeto desde que fosse Antonio Candido a implementá-lo. Há muito Zeferino nutria uma irrestrita admiração por Candido e a recíproca era verdadeira, apesar das diferenças que havia entre ambos. Zeferino era um homem do sistema e Candido um socialista que via com simpatia o ressurgimento do movimento operário brasileiro e que, menos de quatro anos depois, assinaria o documento de fundação do Partido dos Trabalhadores ao lado de Sérgio Buarque de Holanda, Paulo Freire, Mário Pedrosa e outros intelectuais. Candido, cuja influência sobre a escolha do corpo de lingüistas da Unicamp vinha sendo notória desde 1970, aceitou a tarefa e tornou-se um dos principais interlocutores de Zeferino até o fim de seu mandato, em 1978.

Zeferino reúne-se com autoridades após inauguração do centro de saúde-escola de Paulínia, criado com apoio da Fundação KellogsA pesquisa ia bem e mantinha um ar de emparelhamento internacional – sobretudo na física e na química – que pouquíssimas universidades brasileiras conseguiam ostentar. Um convênio com a Telebrás – empresa estatal que, em função da Unicamp e de sua alta densidade de engenheiros e físicos, decidiu instalar em Campinas seu centro de pesquisas – levou ao desenvolvimento do primeiro programa nacional de comunicações por laser a partir de 1976. Surgiram os primeiros lasers de semicondutores e um laser de argônio feito no Instituto de Física chegou, pela primeira vez, à prática cirúrgica, permitindo o desenvolvimento de uma nova técnica para reparação de deficiências auditivas. Os laboratórios do Centro de Tecnologia desenvolviam componentes ferroviários para o metrô de São Paulo, cuja primeira linha entrara em operação dois anos antes. Mediante o cruzamento de duas variedades de milho americano, o geneticista William José da Silva obteve um tipo de milho doce de alto teor nutritivo, o Nutrimaiz. E as pesquisas com energia solar e hidrogênio, das quais Zeferino adorava jactar-se, como se ele próprio as tivesse desenvolvido, mereceram por essa época duas páginas na prestigiosa revista Science.

A imprensa ressoava esses feitos com orgulho nacionalista (paulista, dir-se-ia) e alto grau de triunfalismo. Em 1975, quando Sérgio Porto persuadiu o Ministério da Aeronáutica a financiar um projeto de separação de isótopos com laser, em paralelo ao desenvolvimento de um laser de gás carbônico com descarga transversal à pressão atmosférica, muitos foram levados a acreditar que esta era a chave que abriria ao país o controle da energia atômica e à bomba. Porto, um anticomunista que sonhava suceder Zeferino e chegou a pressioná-lo nesse sentido, morreria de enfarte dois anos depois, durante um congresso em Moscou, pondo fim às pesquisas com urânio. Embora o país estivesse longe da tecnologia da bomba, o próprio Zeferino não se furtava a engrossar certa fanfarronice cujo resultado, de um lado, era produzir marketing e, de outro, irritar os militares argentinos. Em 8 de junho de 1975, declarou com todas as letras à Folha de S. Paulo:

— Nós podemos e cogitamos preparar nossa bomba atômica com tecnologia própria e desenvolvendo métodos físicos inusitados.

Zeferino testa linha telefônica internacional em novembro de 1974: instrumento a serviço das relações com o exteriorPor vezes essa fanfarra midiática transpunha as fronteiras do país. Não era raro que correspondentes estrangeiros viessem a Campinas para comprovar o que se dizia da nova universidade. Em geral saíam impressionados com o entusiasmo de Zeferino e com sua capacidade de inserir a Unicamp num contexto estratégico do chamado projeto de desenvolvimento do governo militar. Ao editorialista Martín Yriart, do La Opinión, jornal argentino que a repressão do general Jorge Rafael Videla fecharia em 1977 com a prisão de seu diretor e fundador, o lendário Jacobo Timmerman, Zeferino fez um prognóstico otimista do horizonte científico do país para a década de 80 e desenhou um cenário no qual sua universidade viria a desempenhar um papel preponderante na produção de conhecimento novo e na formação de lideranças. Yriart destaca a singularidade do projeto da Unicamp e chama a atenção para a densidade e o caráter multidisciplinar de suas linhas investigativas, um fato novo na pesquisa latino-americana.***** Não era raro que notícias como essa pousassem nas mãos de acadêmicos interessados ou mesmo premidos a mudar de paisagem. A notícia do La Opinión foi responsável, por exemplo, pela vinda para a Unicamp do jovem economista Miguel Juan Bacic, que ao lê-la deteve-se particularmente num parágrafo que mencionava o Centro Técnico-Econômico de Assessoria Empresarial, o CTAE, órgão voltado para o oferecimento de cursos a dirigentes de pequenas e médias empresas. Bacic inscreveu-se para um desses cursos e acabou contratado pela universidade, que já contava com meia centena de professores argentinos em seus quadros.

Nos meses finais de 1977 e no começo de 1978, ano sucessório na Unicamp, as entrevistas com Zeferino ganharam um tom de balanço final e de panegírico. O reitor, por sua vez, não se esquivou de entoar uma espécie de canto do cisne, embora continuasse a fazer planos para um futuro mais ou menos longínquo, como era hábito seu. Nos dois jornais da família Mesquita – O Estado de S. Paulo e o Jornal da Tarde – havia desaparecido por completo toda prevenção contra ele, graças, sobretudo, ao empenho de Roberto Godoy, o chefe da sucursal do jornal em Campinas. “Unicamp – perfil da mais discutida universidade brasileira do momento”, dizia o título que encabeçava uma página inteira do JT em 14 de julho de 1977. “No êxito da Unicamp, o exemplo inicial da USP”, proclamava o Estadão em março de 1978, a um mês de sua retirada, numa ampla reportagem que traçava o perfil do “semeador de universidades”, elencava suas realizações e especulava sobre o papel que desempenharia dali por diante. Seria ministro?
— Não fui convidado. No dia em que eu aceitar um cargo desses, podem me internar que o diagnóstico é simples: estarei de miolo mole ou esclerosado. Quero viver em Campinas. Eu me sinto na universidade como um peixe na água. E todos sabem o que acontece com os peixes quando saem da água.
Tinha planos de retomar antigos trabalhos de pesquisa veterinária, interrompidos um quarto de século antes, e também sonhava escrever uma memória sobre os quatro grandes eixos de sua trajetória de educador – a USP, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, a Universidade de Brasília e a Unicamp.
— Coisas assim, bem sossegadas. Mas não quero fazer o papel de Rebeca, a mulher inesquecível. O que posso prometer é que estarei ao lado do novo reitor, humildemente, como subalterno, dando-lhe, quando preciso, a experiência de 50 anos de vida universitária. Mas me agrada muito assumir, agora, a função de subalterno.

O governador Paulo Egydio Martins, ao lado de Zeferino, em visita ao Laboratório de Física Quântica do Instituto de Física da Unicamp A rigor, seu principal projeto para a “inatividade” era de uma objetividade prosaica. Seus anos de prática administrativa e sua experiência com os limites impostos pelo emaranhado de leis que regiam licitações e contratos na esfera pública – das quais, muitas vezes, ele solenemente passava ao largo – haviam convencido Zeferino de que a existência de uma fundação era de todo conveniente para mediar as relações com as agências de fomento à pesquisa e gerir os convênios de prestação de serviços à sociedade. Já não era nada desprezível, nessa altura, o volume de contratos que a Unicamp mantinha com empresas e sobretudo com agências federais como CNPq, Capes, Finep, com a agência paulista de amparo à pesquisa, a Fapesp, e com fundações estrangeiras como a Kellogs e a Rockfeller. Pois bem, Zeferino contentava-se com a presidência da Funcamp — a já cognominada por ele, nos seus devaneios com auxiliares diretos, Fundação de Desenvolvimento da Unicamp. Ela se instalaria nos baixos do gabinete da Reitoria, para onde afluiriam, individualmente ou em grupo, os docentes que executavam contratos com quaisquer agências do estado, do país ou do mundo. Por acréscimo, num clima ameno e de alta cordialidade, ele poderia também opinar, assessorar e até mesmo dirigir os primeiros passos de seu sucessor, fosse ele quem fosse, pois não era razoável que alguém pretendesse dispensar sua experiência ou rivalizar com ele. E, claro, não ficaria mal se continuasse a ter um assento no conselho da universidade, “não para votar, apenas para transmitir minhas ponderações”. Falou dos “inúmeros apelos” de professores que queriam sua permanência na universidade e que “consideravam essa presença uma garantia de que o caminho não será interrompido ou alterado”. Embora achasse que sua linha administrativa estava bem plantada no tempo e no espaço, “poderia haver um traumatismo muito grande com uma mudança de rumo”.

— No fundo, essa inquietude pela mudança do reitor deriva mais de um fator emocional e psicológico do que de um fator real. Porque o reitor é a réplica psicológica do pai, e a mudança do pai traumatiza os filhos, pelo menos até que o novo demonstre que é bom também, que gosta deles.

E o que mais faria o velho reitor durante o ócio que se aproximava? Homem do sistema, fiador do AI-5 quando conveniente, libertador de presos políticos quando necessário, pensava dedicar parte de seu tempo a engrossar a luta pela anistia de cientistas cassados ou aposentados pelo ato institucional. Mais de uma vez referiu-se particularmente à aposentadoria forçada e precoce do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, a quem qualificava de “um rapaz diabolicamente inteligente”.

— Punições muitas vezes injustas, como as que conheço. Homens que são inteligentes, cuja formação custou dinheiro ao país e que podem ser úteis à comunidade. Homens que foram punidos muitas vezes por causa de acusações infundadas de terceiros, ou medíocres, ou invejosos. Aliás, a mediocridade e a inveja são duas forças que freqüentemente se unem com investidas sólidas na luta contra o talento.

O fato de que Zeferino tenha se deixado contaminar pelo tema predominante na época, a anistia, mostra que ele procurava atenuar antigas posições e ajustar-se à lenta mas efetiva mudança na agenda política dos militares. O movimento estudantil tinha agora uma bandeira palatável e seus protestos de rua cresciam à medida que ganhavam a simpatia da população. Em 5 de maio de 1977, sete mil estudantes marcharam do Largo de São Francisco até o Viaduto do Chá, em São Paulo, onde entraram em confronto com forças policiais comandadas pessoalmente pelo coronel Erasmo Dias. E quando, em setembro, o governo respondeu com prisões em massa nas dependências da PUC-São Paulo, onde se realizava o III Encontro Nacional dos Estudantes, as vozes de protesto que se levantaram de vários setores da sociedade – de par com a fermentação nos sindicatos e a recomposição de associações de classe antes reprimidas – eram um sinal de que o repúdio à ditadura vinha agora de muitas direções. Data daí o início, no interior do governo, de um movimento de abertura política que ganharia velocidade e musculatura com a eleição do general João Baptista Figueiredo à Presidência, no ano seguinte. Em junho de 1977, quando os jornais noticiaram a criação de uma Comissão de Mães em Defesa dos Direitos Humanos em São Paulo, parecia claro que o sistema estava perdendo, se não o controle da situação, ao menos o apetite da repressão continuada. Isso ficou claro quando Geisel, descontente com a oposição que seu ministro do Exército, Sílvio Frota, fazia ao projeto de distensão, exonerou-o do cargo e pôs fim a suas pretensões de sucedê-lo.

O governador Laudo Natel em visita ao Centro de Tecnologia da Unicamp em 28 de fevereiro de 1975. A seu lado, o superintendente do CT, Dino FerraresiA Unicamp estava profundamente imersa nessa atmosfera de resistência ao regime. A criação da Associação de Docentes, a Adunicamp, em 12 de maio de 1977, não deixa dúvidas quanto a isso. Uma das primeiras providências da entidade foi engajar-se no movimento pela anistia com a convocação de um ato público no centro de Campinas. A Adunicamp não foi uma iniciativa isolada dos docentes da Unicamp: seu surgimento coincidiu com a organização, naquele ano, de várias outras entidades docentes pelo país, encorajadas pelo processo de abertura política e pela necessidade de retomar uma pauta de interesses obstada ou desmontada pela ditadura. Quase quatro centenas de professores – pouco menos que a metade do corpo docente da universidade na época – assinaram o livro de fundação.******
Zeferino não estava alheio aos ventos que sopravam de várias direções e tampouco ignorava que a universidade era um microcosmo que freqüentemente antecipava, graças a sua peculiaridade de laboratório, o que mais tarde seria experimentado pela sociedade. Daí que resolveu flexibilizar seus conceitos políticos, rever posições antes irredutíveis. O que não o impediu de viajar à capital do Paraguai, em junho daquele ano, para assinar uma batelada de convênios e oferecer seus serviços ao ditador Alfredo Stroessner.



* O Estado de S. Paulo, 4 de abril de 1978.

** Carta datada de 8 de outubro de 1976.

*** Conferência pronunciada em 18 de março de1978.

**** Entre estes estavam Roberto Schwarz, Modesto Carone, João Lafetá, José Miguel Wisnick, Carlos Vogt, Berta Waldman, Marisa Lajolo, Antonio Arnoni Prado, Adélia Bezerra de Meneses, Suzi Frankl Sperber.

***** “Ciencia y técnica: la reserva científica de Brasil”, La Opinión, Buenos Aires, 9 de setembro de 1976. O artigo de Martín Yriart conclui com uma assertiva de Zeferino: “La explosión de talento brasileña, es um hecho. Sin embargo, puede decirse que hasta ahora siguió un modelo mas orientado a adquirir que a crear. Campinas, en este sentido, representa un esfuerzo excepcional para revertir esa tendencia. Si Brasil se propone a alcanzar las cifras previstas para fin de la década del 80, el ejemplo de Campinas deberá multiplicarse por tres o por cinco, en los próximos cinco años”.

****** Integravam a diretoria fundadora da Adunicamp os seguintes professores: presidente, José Vitório Zago; primeiro vice-presidente, Maria Antonia M. Galeazzi; segundo vice-presidente, Hermógenes de Freitas Leitão Filho; primeiro secretário, Eliézer Rizzo de Oliveira; segundo secretario, Júlio Hadler; primeiro tesoureiro, Ulysses Cidade Semeghini; segundo tesoureiro, José Ricardo Figueiredo.


Continua na próxima edição.

 

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