Leia nesta edição
Capa
Artigo: Hilda Hilst hoje
Cartas
Apoio à OMS
Leucemia aguda
Falta de vitamina B-12
Mandarim 27
Esporte para idosos
Drogas nas escolas
FOP 49 anos
Programa do Artista Residente
Painel da semana
Teses
Livro da semana
Cinema anarquista
Concurso de contos e ensaios
 

9

Conheça a história de uma faculdade que
construiu uma estreita relação com a comunidade

FOP, 49 anos na boca do público

Zeferino Vaz profere aula inaugural na Faculdade de Farmácia e Odontologia, em 1959: depois teria de vencer a resistência à incorporação da UnicampUma incursão pelos corredores da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) revela a importância da unidade da Unicamp para os habitantes da cidade que a abriga e para os municípios vizinhos. Uma referência que ultrapassa em muito os limites das salas de aulas e das dezenas de laboratórios nos quais são desenvolvidas pesquisas premiadas nacional e internacionalmente. Constata-se a materialização dessa excelência numa rápida olhada no amplo saguão que faz as vezes de ante-sala da Clínica de Graduação e Pós-Graduação da FOP. Ali, entre o vaivém incessante de docentes, alunos e funcionários, circulam os personagens que formam a massa anônima que se convenciona chamar de público. É ele um dos protagonistas de uma história que completa no ano que vem seu cinqüentenário. Os números comprovam: a média anual de procedimentos odontológicos está batendo na casa dos 200 mil.

Unicamp vence resistência à incorporação e impulsiona a unidade

O diretor Carlos Henrique Liberalli (esq) com Juscelino Kubitscheck (centro) e Ulysses Guimarães (dir), em 1957A relação entre a FOP e a comunidade teve início na década de 1950, quando setores liderados pelo médico Fortunato Posso Netto, também proprietário do Jornal de Piracicaba, passaram a reivindicar a instalação de uma faculdade de odontologia na cidade. Uma lei promulgada pelo governo do Estado em janeiro de 1955 criava enfim a Faculdade de Farmácia e Odontologia de Piracicaba, que seria instalada em julho de 1957 no prédio do Externato São José, localizado no centro da cidade. A direção e a instalação ficaram a cargo do professor Carlos Henrique Robertson Liberalli.

A unidade, então funcionando na condição de instituto isolado de ensino superior, seria incorporada em 1967, com o nome de Faculdade de Odontologia de Piracicaba, pela recém-fundada Unicamp. Piracicaba, que contava à época com pouco mais de 100 mil habitantes, abrigava também a Esalq e se firmara como pólo universitário. A estudantada se dividia entre as sessões nos cines Rivoli, Colonial e Plaza, os rega-bofes nas repúblicas e os encontros nos restaurantes Ortiz – cujo filé à parmeggiana era o forte da casa –, Brasserie – o chopp mais bem-tirado da cidade – e no bar do Japonês, todos localizados nas cercanias do prédio da “escola das freiras”, onde funcionava a faculdade de odontologia. Os bailes eram abrilhantados pelas orquestras regidas por Severino Araújo (Tabajara) e Nelson de Tupã. Congraçamento e noitadas à parte, a rivalidade saudável entre os futuros dentistas e agrônomos encontrava um campo fértil na competição “Agro-Odonto”. Os embates reuniam oponentes que “envergavam as jaquetas” do XV de Piracicaba ou as camisetas do quinteto de bola ao cesto, dois dos orgulhos da cidade e não por acaso em alta, na época, no cenário esportivo estadual e nacional.

O reitor da Unicamp e o diretor José Merzel durante a inauguração do prédio da FOPSe os estudantes pouco se manifestavam sobre a anexação da FOP, o mesmo não acontecia com relação à parte da sociedade piracicabana. Setores achavam que a cidade perderia a instituição para Campinas. De quebra, não eram poucos que viam na incorporação o fim de um sonho acalentado publicamente: o de erguer uma universidade estadual na cidade. A Câmara Municipal e os clubes de serviço – Rotary Club à frente – promoviam reuniões para discutir o assunto. A movimentação fez com que Zeferino Vaz intensificasse suas visitas ao município. O fundador e reitor da Unicamp temia que a resistência, ainda embrionária, ganhasse corpo.

Zeferino tinha um aliado de peso: o professor Carlos Henrique Robertson Liberalli, instalador e diretor da faculdade entre 1957 e 1968. O reitor e o diretor haviam sido companheiros no Conselho Estadual de Educação, eram muito amigos e concordavam num ponto: pelo andar da carruagem, eram mínimas as chances de prosperar um instituto isolado. Ademais, a maioria do corpo docente da faculdade era favorável à integração. Com a retaguarda de Liberalli, Zeferino participou de encontros e conferências nos quais explicitava as vantagens da anexação e os benefícios que ela traria à faculdade e ao município. O reitor da Unicamp acenava, no bojo do seu pacote de convencimento, com investimentos em pesquisa, ensino e em novas instalações. A resistência bairrista havia sido vencida.

Os contadores da história

Simonides Consani


José Ranalli


Thales Rocha de Mattos Filho


A história acima foi contada a partir de relatos feitos pelos seguintes docentes: José Merzel, primeiro professor da FOP (contratado em 1957) e diretor da instituição no período 1973-1978; professor Simonides Consani, diretor da faculdade entre 1986 e 1990; professor José Ranalli, diretor da FOP entre 1994 e 1998 e chefe de gabinete da Reitoria; e professor Thales Rocha de Mattos Filho, atual diretor da unidade.
O impulso – A anexação impulsionou o ensino e a pesquisa. No mesmo ano da integração – 1967 –, começou a funcionar o curso de mestrado em ortodontia; em 1973 seria implantado o mestrado em farmacologia, abrindo definitivamente o campo para ampliação da pós-graduação, que gradativamente incorporaria outras disciplinas, delineando seu perfil pioneiro no país. Em 1972 foi lançada a pedra fundamental do futuro edifício. As promessas de Zeferino Vaz foram sendo cumpridas. Novos equipamentos foram adquiridos e registrou-se um incremento no aumento do número de vagas e do corpo docente, até então formado, em sua maioria, por jovens pesquisadores ou por professores egressos de outras universidades, sobretudo da USP.

A mudança mais significativa, porém, ocorreria em 1978, com a inauguração do prédio onde funciona atualmente a FOP. O velho prédio central da Rua Dom Pedro II, onde são mantidos hoje pela faculdade os cursos profissionalizantes de Técnico em Higiene Dentária, Técnico em Prótese Dentária e Auxiliar de Consultório Dentário, foi aos poucos sendo esvaziado. As antigas instalações já estavam pequenas para a crescente demanda e para as exigências dos corpos docente e discente.

Paralelamente à instalação de laboratórios, clínicas e da adequação de departamentos, houve um forte incremento das atividades relacionadas ao ensino e à pesquisa, que até então se concentravam em áreas básicas e eram praticamente circunscritas à graduação. Concomitantemente à reforma do ensino do início da década de 70, por exemplo, a comunidade acadêmica da instituição debruçou-se, a partir de 1973, na formulação de um currículo centrado no aluno que contemplasse as necessidades da instituição e se modernizasse a fim de atender a demanda social. A iniciativa contou com o apoio de empresas e fundações. Foram oito anos de debates e seminários que resultaram numa melhora sensível nos indicadores e no funcionamento da FOP.

Alto nível – O sistema, que sofreu ajustes mas serve de parâmetro ainda hoje, privilegiava objetivos, baseados em tarefas e seus respectivos passos . Por meio do programa curricular, a formação do aluno passou a ser mais abrangente, de tal forma que o futuro profissional tivesse condições de tratar, com qualidade, tanto de pacientes de uma clínica de luxo como também de pessoas menos favorecidas, em pequenas, médias ou grandes cidades. Outra mudança significativa foi a ampliação do período de clínica integrada, que passou de um semestre, conforme a exigência do currículo mínimo, para dois anos. O tempo mostrou que as mudanças, introduzidas gradativamente, forjaram uma faculdade de odontologia cujo perfil abriu caminho para outras instituições do país.

Os números corroboram essa tese. São da FOP três dos quatro programas (75%) de pós-graduação do país na área de Odontologia avaliados como excelentes pela Capes. Os outros quatro programas mantidos pela faculdade também são considerados de alto nível acadêmico. Até o ano de 2004, a faculdade formou 2.816 alunos de graduação e foram apresentadas e defendidas 541 teses e apresentadas 1.034 dissertações. Instalada numa área de 85 mil metros quadrados, a instituição conta com sete departamentos e 33 laboratórios. As dezenas linhas de pesquisa desenvolvidas na FOP são reconhecidas por sua qualidade e abrangência no país e no exterior. Os trabalhos delas derivados são publicados em renomadas revistas internacionais e são referências nas mais diversas áreas da odontologia.

Imagem atual da FOP com seus alunos mobilizados no atendimento à comunidade de Piracicaba e região: 200 mil procedimentos por ano Atualmente, a faculdade conta com 83 professores doutores, dos quais 35% com pós-doutorado. A FOP conta hoje com 331 alunos no curso de graduação; 382 na pós-graduação, além de 464 estudantes em Especialização e Atualização e outros 60 no curso técnico.

Atendimento – Boa parte desse contingente está mobilizada no atendimento oferecido em várias áreas à comunidade. Entre os serviços destacam-se a Clínica de Graduação e Pós-Graduação, responsável por 200.000 procedimentos por ano; o Centro Cirúrgico e o Serviço de Radiologia Odontológica; o Cepae (Centro de Pesquisa e Atendimento para Pacientes Especiais), que atende crianças de 0 a 5 anos, além de oferecer orientação às gestantes; o Orocentro (Centro de Diagnóstico e Tratamento de Lesões Bucais) que atende a doentes de câncer e portadores de HIV, entre outras doenças. Esses serviços são prestados nas dependências da faculdade.

A instituição desenvolve também, nesse contexto, atividades extra-muros, destacando-se o programa “Sempre Sorrindo”, que presta atendimento preventivo e curativo a crianças da rede municipal de ensino de Piracicaba, e o programa “Assistência Mariana”, cujo público-alvo é a população de baixa renda do município.

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2005 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP