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Geógrafo mostra relação
da história da urbanização
com enchentes em Campinas

RAQUEL DO CARMO SANTOS

O geógrafo Luís Vilela Filho e o orientador Antonio Carlos Vitte: pesquisa mostra que obras pontuais não bastam (Foto: Antoninho Perri)Em fevereiro de 2003, Campinas sofreu com uma das piores enchentes de sua história. As avenidas marginais ao córrego Proença – Princesa D’Oeste e José de Souza Campos (Norte-Sul) – ficaram completamente tomadas pelas águas. Foram aproximadamente 104 milímetros de chuva em 40 minutos, o que resultou em graves conseqüências sócio-ambientais para o município, algumas delas de caráter irreversível. Por que acontece uma calamidade desta proporção numa área densamente urbanizada? A fim de obter respostas para as enchentes naquela região, o geógrafo Luis Ribeiro Vilela Filho realizou pesquisa associando a história da urbanização de Campinas com as características e propriedades do espaço natural da bacia de drenagem do córrego Proença.

Obras de engenharia deram acesso aos fundos de vale

Em dissertação de mestrado orientada pelo professor Antonio Carlos Vitte e apresentada no Instituto de Geociências, Vilela Filho conclui que não bastam obras de engenharia pontuais, havendo a necessidade da implantação de políticas públicas que contemplem ações integradas no aspecto da intervenção da gestão urbana e ambiental. O geógrafo ressalta a importância de considerar as ocorrências que envolvem a circulação hídrica dos canais e as conseqüências ambientais advindas do tipo de urbanização. “É preciso planejar outro modelo de cidade, com corredores verdes, projetos com concepções modernas de sistemas de drenagem e programa de conservação de cabeceiras. Nesse aspecto, caberiam grandes discussões antes que fosse aprovado o plano diretor da cidade”, defende.

De acordo com Luis Vilela, foi no trecho entre o estádio Brinco de Ouro e o viaduto Lauro Péricles Gonçalves (“Laurão”) que se instalaram os povoados que deram origem à cidade. A partir deste local surgiram as grandes fazendas, que futuramente seriam loteadas para dar início ao processo de expansão urbana. O levantamento sistemático de plantas históricas, leis, decretos, atos e notícias de jornais, nos acervos sob guarda do Arquivo Histórico da Câmara Municipal, Centro de Memória da Unicamp e Arquivo Municipal de Campinas, o geógrafo identificou aspectos curiosos. Por exemplo, que os proprietários das áreas rurais, em certos casos, eram também donos das companhias locadoras e membros do poder público municipal.

O grande marco do processo de expansão urbana de Campinas, segundo Vilela, foi a crise do café em 1929, quando intensificou-se a transferência de capital do setor rural para o ramo imobiliário e da construção civil. Até aquele período a área urbana era constituída pelo centro e outros subúrbios. “Não havia conexões. Os córregos Orosimbo Maia, Proença e Piçarrão eram várzeas não ocupadas. O espaço urbano englobava as áreas do topo. Já os fundos de vale não eram habitáveis”, explica. Ocorre, nesta época, um enfraquecimento dos fazendeiros, dando lugar a novos atores políticos na cidade, representados pelas figuras dos profissionais da arquitetura e engenharia.

Transformação – Na década de 1930, a configuração da cidade sofreu uma transformação a partir do Plano de Melhoramentos Urbanos de Campinas, idealizado por Francisco Prestes Maia. A iniciativa, que previa o início da canalização dos córregos, acabou facilitando o acesso aos fundos de vale e incorporação das várzeas ao espaço urbano. “Antes, o canal do córrego Proença era a limitação para a região leste da cidade. Mas, entre 1940 e 1950, ocorre uma expansão em direção aos fundos de vale e ao leste, com o surgimento de bairros como Nova Campinas, Jardim Proença, Vila Lemos, São Fernando, Jardim Baronesa, entre outros, que começam a se estruturar na década de 1970 – e as primeiras enchentes ganham as páginas dos jornais”, relata.

O primeiro conjunto de obras vem em 1975 e 1976, na gestão do prefeito Lauro Péricles Gonçalves. Entre 1980 e 1990, nas duas gestões de Magalhães Teixeira e na de Jacó Bittar, outros programas de combate a enchentes foram implantados, mas novamente as obras não solucionaram o problema. O projeto mais recente foi anunciado em pelo prefeito Hélio de Oliveira Santos, em janeiro de 2006. As obras estão em andamento, mas Luis Vilela afirma que sua eficácia só será testada na próxima estação das chuvas, de outubro a março, quando os valores pluviométricos para o município atingem as maiores marcas. As análises que realizou sobre o sítio urbano e sua historicidade, diz o geógrafo, podem fornecer subsídios para programas de planejamento e orientar intervenções urbanas.

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