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Intelectual tem duas de suas facetas intelectuais
estudadas em dissertação de mestrado do IEL

Alexandre Eulalio, do
crítico ao historiador


LUIZ SUGIMOTO


Eulalio em dois momentos: em Veneza, onde ensinou literatura brasileira entre 1966 e 1972, e na redação da Folha de S.Paulo: representante da crítica moderna (Foto: Cedae)Alexandre Eulalio, o crítico e o historiador. Por causa do pouco tempo para o mestrado, Luciane Reynaldo teve de se ater a essas duas facetas do autodidata que deixou uma vasta produção intelectual como crítico, teórico e historiador de literatura, e de outras áreas de seu interesse como história da monarquia no Brasil, artes plásticas, arquitetura, música e cinema, além de experiências e projetos enquanto ocupou cargos na burocracia estatal do setor cultural. “Fui obrigada a fazer um grande corte. Seria extensa demais a abordagem de toda a obra de alguém que atuou em tantos lugares como jornalista, editor, tradutor, redator responsável pela revista do INL, professor da Unicamp e funcionário de órgãos públicos”, justifica a mestranda, que foi orientada pelo professor Antonio Arnoni Prado, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL).

Intelectual atuou como professor do IEL

De fato. Quem visitar a página pessoal da professora Maria Eugênia Boaventura (www.unicamp.br/~boaventu), do Departamento de Teoria Literária, vai se surpreender com as peripécias descritas na “biografia discreta” de Alexandre Eulalio. Nascido carioca em 1932, ele sempre se apresentou como um mineiro de Diamantina. Batizado Alexandre Magitot Pimenta da Cunha, trocou Magitot por Eulalio, nome materno que julgava “mais condizente com seu culto à ancestralidade mineira”. Estudante de filosofia, desistiu do diploma acadêmico “após uma crise típica de jovem filho-família na América Latina”.

Luciane Reynaldo, autora do estudo: "Críticas traziam o rigor da pesquisa" (Foto: Antoninho Perri)Dois parágrafos permitem apenas pinçar da “biografia discreta” algumas informações sobre Alexandre Eulálio. Desde o início dos anos 1950, ele fez reportagens de interesse histórico-cultural e manteve colunas em veículos da imprensa mineira e carioca. Viveu nos Estados Unidos em 1964-65, a convite do Departamento de Estado e produzindo textos para O Globo, e em 1967-69, pela Fundação Guggenheim. Escreveu enorme quantidade de artigos, ensaios, prefácios, introduções e apresentações, mas publicou apenas um livro, A Aventura Brasileira de Blaise Centrars (1978), premiado pelo Pen Club do Brasil. O intelectual traduziu O Belo Antonio (1962), Nathanael West (1964), Isadora (1985), uma coleção de textos de Borges (quando o escritor argentino era ainda um desconhecido) e a íntegra de O Congresso do Mundo (1983). Seu O Ensaio Literário no Brasil (1962) ganhou o Prêmio Brito Broca.

Sendo redator-chefe por quase dez anos da Revista do Livro, do Instituto Nacional do Livro (INL), Alexandre Eulalio publicou inéditos de renomados autores brasileiros e, mais importante, divulgou nomes desconhecidos do grande público. Deu palestras por todo o mundo, falando de ícones como Machado de Assis e Sérgio Buarque de Holanda. Ensinou língua portuguesa e literatura brasileira na Universidade de Veneza entre 1966 e 1972, período em que também atuou como professor visitante nas universidades de Harvard, Princeton, Cambridge e Massachussets. Assessor do MEC de 1972 a 1975, organizou exposições e dirigiu filmes. Foi chefe de gabinete da Secretaria de Cultura de São Paulo. Por seu desempenho como embaixador junto ao programa França-Brasil (1984-85), recebeu uma comenda do governo francês. Participou ainda dos conselhos do MASP e do MAM.

O crítico – “Alexandre Eulalio foi um típico representante da crítica moderna que surgiu no Brasil em meados dos anos 1930, resultante da confluência entre a crítica associada ao jornalismo e a crítica acadêmica que ocupava espaço com a criação das universidades”, observa Luciane Reynaldo. Sobre isso, ela cita o artigo Imaginação do Passado, onde Eulálio comenta que a crítica literária brasileira não consistia apenas daquela praticada na universidade, que exigia especialização, mas também daquela praticada por meio da imprensa, cujo papel era de um “foro animado e apaixonado de debates literários e intelectuais”, com a participação de autodidatas e curiosos. “A crítica de Alexandre Eulálio não era tão teórica, mas mesmo aquelas publicadas em jornais traziam por trás o rigor da pesquisa. Aparentemente despretensiosa, a crítica tinha a teoria embutida. Acho que sua contribuição foi a de mostrar esse meio termo”, acrescenta a mestranda.

Na dissertação, Luciane Reynaldo também ressalta o trabalho de Eulalio à frente da Revista do Livro, e sua escolha por trabalhar preferencialmente com determinados textos, muitos relacionados com a infância e com Diamantina, onde passava suas férias. “Não é possível entender sua obra sem compreender a formação que ele teve, mesmo porque sua crítica foi se tornando cada vez mais pessoal”, observa a pesquisadora. De acordo com a mestranda, o ensaísta sofreu influência decisiva de nomes como Antonio Candido, de quem apreendeu a tese sobre interação entre autor, obra e leitor, e de Brito Broca.

Alexandre Eulálio, que abandonou a Faculdade Nacional de Filosofia em 1955, voltaria à universidade em 1979, então como docente de notório saber no IEL da Unicamp. “Na calma da província aquela figura alegre, irrequieta, participativa, de erudição espantosa quase ofuscava”, testemunha Maria Eugênia Boaventura. Em 1989, ano seguinte à sua morte, a Unicamp adquiriu o acervo do professor e ensaísta composto por uma biblioteca de 12 mil volumes e um arquivo pessoal com mais de 8 mil documentos, entre textos originais de outros autores e uma grande quantidade de artigos jornalísticos e críticos. Este fundo, somado ao de Oswald de Andrade, deu origem ao acervo do CEDAE, que é a sigla do Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulalio.

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Foto: Antoninho PerriFoto: Neldo CantantiFoto: Antoninho PerriFoto: Gustavo Miranda/Agência O GloboFoto: Antoninho Perri