| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 313 - 20 de fevereiro a 5 de março de 2006
Leia nesta edição
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Rediscutir a creatina
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Flora Brasiliensis
 

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Pesquisa aponta que Estado recuou na obrigação de
oferecer o direito à diversão para a população

Nos tempos em que o
lazer virou mercadoria

JEVERSON BARBIERI

Alunos praticam escalada na FEF: espaços de lazer gratuitos estão ficando raros (Foto: Neldo Cantanti)A relação entre as mudanças nas atividades de lazer e as mudanças econômicas, políticas e culturais, ocorridas nos últimos 15 anos no Brasil, foi objeto de estudo do pesquisador Fernando Mascarenhas em seu trabalho de doutorado junto ao Departamento de Estudos do Lazer, da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp. Segundo Mascarenhas, o trabalho contribui para a compreensão das novas práticas de divertimento e de manifestações da cultura lúdica emergentes no Brasil a partir dos anos 1990. Para ele, o debate conceitual entre pesquisadores e intelectuais já não vem dando conta de refletir a realidade sobre a temática do lazer.

A pesquisa teve a orientação do professor Lino Castellani Filho, que atualmente também ocupa o cargo de secretário nacional de Desenvolvimento de Esportes e Lazer, do Ministério dos Esportes. Fernando Mascarenhas explica que seu objetivo foi produzir um apanhado do que é o lazer hoje, diante das transformações significativas por que passou ao longo das últimas décadas. Foi especialmente nos anos 1990, lembra o pesquisador, que o Brasil se subordinou à lógica da globalização com suas práticas políticas, econômicas e culturais que atribuíram ao lazer uma nova forma.

“O estado recuou em sua obrigação de assegurar este direito ao conjunto da população, verificando-se então um avanço da mercantilização do lazer. O estado já não financia mais este acesso, o que significa dizer que o lazer sai da esfera do direito social para ser tratado conforme a lógica do direito ao consumo. Hoje só tem acesso ao divertimento quem pode pagar por ele”, observa Mascarenhas

Para ilustrar a atual situação, Mascarenhas desenha uma pirâmide onde o lazer transformado em mercadoria é por ele apelidado de “mercolazer”. Na ponta da pirâmide, o que existe para uma pequena parcela da população é o lazer-mercadoria. Havendo cada vez menos tempo livre e um ritmo de vida cada vez mais acelerado, busca-se justamente o prazer imediato, a compensação concentrada para o estresse provocado pelo dia-a-dia intenso. “Daí, que a forma mais avançada que construíram de ‘mercolazer’ foi apelidada de ‘êxtase-lazer’. Trata-se do esporte de aventura, como o body-jump, onde o indivíduo dá vazão à adrenalina de forma bastante rápida”, exemplifica.

No nível intermediário da pirâmide, uma classe média da população que não tem acesso ao lazer-mercadoria sofisticado, recorre a versões mais baratas de “êxtase-lazer”. Já para a grande maioria da população, o que sobra é o pouco de lazer gratuito, principalmente a televisão. “Outra forma de lazer que chega a esta população é o filantrópico, como por exemplo, dentro de políticas sociais voltadas para afastá-la das drogas e da violência”, observa.

O pesquisador também faz sua leitura de outro segmento do lazer, o mundo do fitness. Segundo ele, há uma parcela da população que procura a academia como espaço não só para exercícios que lhe permitam suportar o ritmo de vida acelerado, mas também de respostas para frustrações despertadas pelos veículos midiáticos. “A academia opera hoje como uma espécie de fast food das práticas corporais, prometendo respostas rápidas e aquilo que não é capaz de cumprir”, afirma. Na opinião de Mascarenhas, essas empresas trabalham com a lógica da “descartabilidade das práticas corporais”, possuindo capacidade de investimento para lançar sempre uma nova mercadoria (outra prática corporal), sem preocupação com a fidelidade do cliente.

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