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Jornal da Unicamp - Março/Abril de 2000


Página 7

ENTREVISTA
Visão de futuro

O geneticista Paulo Arruda, professor do Departamento de Genética (IB) e também coordenador do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética da Unicamp (Cbmeg), foi um dos primeiros a acreditar na idéia quase visionária do professor Fernando Reinach de elaborar e desenvolver um projeto genômico no Brasil. Convidado pelo professor José Fernando Perez, da Fapesp, para ajudá-los a viabilizar o projeto, Paulo Arruda passou a fazer parte do trio que daria o início no projeto.

Embora faça questão de frisar que a rede Onsa funcionou mais por mérito dos envolvidos do que por um planejamento prévio daqueles que discutiram inicialmente o projeto, Paulo Arruda teve, sem dúvida, uma participação importante no sucesso da rede, uma vez que coube a ele e ao professor Reinach a tarefa de coordenação central, incluindo aí o treinamento de pessoal e a resolução dos problemas mais sérios que surgiram logo no início do projeto, quando os genes começaram a ser seqüenciados.

Jornal da Unicamp – Quando e por que surgiu a idéia de se fazer um projeto Genoma no Brasil?

Paulo Arruda – Esse projeto começou a ser discutido por um pequeno grupo, muito pequeno mesmo. Foi o professor Fernando Reinach, da USP, quem levou à Fapesp a primeira proposta de se fazer um projeto que causaria grande impacto na Biologia. Para o professor Reinach, o grande mérito do projeto que ele propunha seria não apenas o da descoberta, o do trabalho em si, mas principalmente o da formação de pessoal. Era o projeto Genoma.

Jornal da Unicamp – E como o senhor acabou entrando nessa história?

Paulo Arruda - O professor Fernando Reinach procurou o professor José Fernando Perez para apresentar sua idéia. Foi então que o professor Perez me convidou para participar dessas discussões e ajudar a bolar como esse projeto poderia ser viabilizado. Algum tempo depois, foram chamados outros professores, tanto da Unicamp quanto de outras universidades, e alguns pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas, porque a idéia central desse projeto era mesmo fazer algo que impactasse a biologia na área vegetal.

Jornal da Unicamp – Por que motivo?

Paulo Arruda - Há muitos anos, vínhamos discutindo na Fapesp que a área de plantas no Brasil estava muito defasada em termos de tecnologia e isso era preocupante, uma vez que a área é muito importante para o Brasil. Afinal de contas, a agricultura tem papéis econômico e social muito destacados. Eu mesmo tive oportunidade de participar de vários encontros na Fapesp e sempre fiz uma defesa nesse sentido, porque acho realmente importante investir nessa área.

Jornal da Unicamp – Quanto tempo se passou entre as primeiras reuniões e o início efetivo do projeto?

Paulo Arruda - Muito pouco. Seis meses depois dos primeiros encontros, nós estávamos com o projeto pronto, com uma idéia bastante clara do que deveria ser feito com o corpo do projeto redigido e com o pessoal em fase de seleção.

Jornal da Unicamp – Por que a pressa?

Paulo Arruda - É que a percebemos logo que a genômica estava evoluindo numa velocidade tal na Europa, nos Estados Unidos e no Japão. Se a gente não tomasse uma atitude rápida, talvez ficássemos para trás. Nós nos impusemos uma atitude: vamos fazer, vamos fazer rápido e vamos botar esse negócio pra funcionar! Mas ninguém tinha idéia de que isso iria se transformar no que se transformou a rede Onsa. Ninguém sentou-se para discutir, por exemplo, a formação da rede. Cada grupo foi providenciando coisas necessárias ao bom andamento do projeto: criou-se uma rede através da Web, a comunicação passou a ficar mais fácil, os contatos começaram a fluir, os dados começaram a ser gerados e tudo isso cresceu sem que alguém tivesse planejado um formato prévio.

Jornal da Unicamp – Qual era a função dos laboratórios centrais?

Paulo Arruda - Uma das recomendações do Comitê Internacional montado pela Fapesp para supervisionar o projeto era que fossem escolhidos alguns laboratórios para se responsabilizar pelo treinamento de pessoal. Então, criou-se essa denominação de Laboratório Central. No projeto Xylella, o Cbmeg funcionou, ao lado do laboratório do professor Reinach, como laboratório central do projeto. Logo no início, nós organizamos cursos na Unicamp onde havia uma parte de informática, dada pelo pessoal da Bioinformática, e uma parte de biologia molecular dada no Cbmeg para todos aqueles que se interessassem em aprender as técnicas. Construímos também uma biblioteca com o genoma da Xylella, em colaboração com um laboratório da Alemanha.

Jornal da Unicamp – Além de realizar o treinamento de pessoal, o Cbmeg tinha alguma outra atribuição?

Paulo Arruda - Enquanto laboratório central do projeto, nós nos incumbimos de fazer também a maior parte do trabalho de seqüenciamento e resolver os pontos críticos. E isso realmente ocorreu no início. Mas, ao final, aconteceu algo extremamente positivo: outros laboratórios começaram a desempenhar papel fundamental na resolução dos problemas críticos. Quando a rede chegou a esse ponto, nós passamos a nos dedicar à produção de novas bibliotecas com o intuito de encontrar regiões do genoma que ainda não tinham sido encontradas e não iriam ser encontradas com as bibliotecas existentes.

Jornal da Unicamp - Houve alguma conquista importante do Cbmeg?

Paulo Arruda - Sim. Foi o Cebmeg quem fez a descoberta que levou à primeira patente do projeto Xylella ... uma patente internacional.

Jornal da Unicamp – Que descoberta foi essa?

Paulo Arruda - Grosso modo, a coisa funciona mais ou menos assim: a bactéria é transmitida às laranjeiras por meio de um inseto. Esse inseto, quando vai sugar a seiva da planta, transmite a bactéria que, por sua vez, se aloja no feixe vascular, por onde circula a seiva da planta. E nesse local, de algum modo, a bactéria consegue fixar-se. O que nós descobrimos foi a substância que permite a bactéria fixar-se à planta.

Jornal da Unicamp – O Cbmeg está envolvido em algum dos outros projetos genoma?

Paulo Arruda - Antes mesmo de terminarmos o projeto Xylella, nós já iniciamos o trabalho no projeto Genoma-Cana. O Cbmeg está coordenando esse projeto, que engloba 28 laboratórios. Como coordenadores, somos responsáveis por toda a estratégia de seqüenciamento. E estamos conseguindo bons resultados justamente porque incorporamos boa parte das tecnologias desenvolvidas no projeto Xylella. Não apenas para nós, enquanto pesquisadores, mas também para a universidade, é superimportante que hoje nós estejamos participando de um projeto dessa magnitude e liderando nessa área. (M.T.S.)


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