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Língua de sinais
Ilha dos hermafroditas
 

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Estudo aponta
falhas em publicações
sobre língua de sinais

RAQUEL DO CARMO SANTOS

A pedagoga Cássia Geciauskas Sofiato: "O ouvinte encontra sérias dificuldades par aprender os sinais" (Foto: Antoninho Perri)A forma de apresentação dos materiais destinados à instrução da Língua de Sinais Brasileiras (Libras), utilizada por surdos-mudos, dificulta o acesso à língua por parte da sociedade de uma maneira geral. As imagens contidas nos dicionários, livros e apostilas necessitam da mediação de um instrutor ouvinte ou surdo para que a compreensão dos sinais seja adequada. Esta foi a conclusão a que chegou a pedagoga e mestre em Artes pela Unicamp Cássia Geciauskas Sofiato depois de analisar alguns materiais disponíveis no mercado brasileiro. Para a pedagoga, o ideal seria que os materiais fornecessem elementos para que a pessoa pudesse aprender de uma maneira autônoma, sem precisar recorrer a um instrutor. Isto facilitaria, inclusive, a comunicação entre ouvintes e surdos-mudos de uma forma mais ampla. Atualmente, a língua é compartilhada apenas por familiares ou amigos próximos, ou fica restrita ao ambiente educacional.

Análise contemplou publicação de 1875

Em sua opinião, existem aspectos a serem melhorados. A produção de obras dessa natureza, por exemplo, deveria privilegiar a participação dos surdos no momento da criação. Outra proposta seria que os desenhos fossem feitos por ilustradores com conhecimento das características peculiares da língua. Em 2002, a Libras foi reconhecida como língua oficial dos surdos-mudos. Por isso, ela tem uma série de características, diferentes do Português, que se constitui uma língua oral. Como ocorre em todo aprendizado, é necessário o envolvimento e a dedicação da pessoa que deseja aprender um idioma. "No caso da Libras, não é diferente. O surdo está acostumado a se expressar de forma diferenciada. Já o ouvinte encontra sérias dificuldades para aprender os sinais", explica Cássia.

A análise foi feita desde as primeiras publicações do gênero, em 1875, e faz parte da dissertação de mestrado "O Desafio da Representação Pictórica da Língua de Sinais Brasileiras", orientada pela professora Lucia Helena Reily e apresentada junto ao Instituto de Artes da Unicamp, em fevereiro. O interesse de Cássia pelo assunto surgiu a partir de sua experiência de 15 anos com os surdos. Como professora na PUC-Campinas, ela notou o quanto era difícil o aprendizado da língua pelas alunas apenas com o livro, sem a mediação do professor.

Tridimensional - A Libras é uma língua espaço-visual e com movimentos. "Não é algo estático como demonstram as fotos e figuras contidas nos materiais", explica Cássia. Segundo a pedagoga, os fotógrafos e ilustradores tentam representá-la de forma bidimensional quando a língua é tridimensional. Com isso, os desenhos eliminam alguns elementos de movimento que são intrínsecos à estrutura da língua. As imagens também não são valorizadas. São pequenas e muitos dos sinais que o ouvinte tenta fazer sozinho não consegue. Nos materiais que têm como suporte a fotografia, a qualidade não é boa e dificilmente se consegue visualizar exatamente o movimento das mãos.

Para o surdo, a forma como são estruturados os dicionários não é adequada. A indexação é feita por ordem alfabética. O ouvinte que quiser procurar uma palavra saberá onde encontrá-la por causa da sonoridade. Quanto ao surdo que não tem leitura não saberá como fazer essa procura. As publicações trazem palavras isoladas. Não há frases e estruturas que faça a relação entre as palavras. Segundo Cássia, é como se tivesse que aprender a palavra isolada. Eles trazem o sinal e a palavra correspondente. "A forma é particular para as pessoas que ouvem. A língua de sinais tem gramática, aspectos sintáticos, fonológicos, morfológicos e semânticos. Me pergunto como seria se um surdo tivesse que elaborar um dicionário dessa natureza", argumenta.

Até mesmo alguns livros infantis carregam um enfoque distorcido ao utilizar a mesma estrutura do Português para contar uma história. "Trata-se do Português sinalizado e não da Língua de Sinais propriamente dita", avalia Cássia. Estes aspectos demonstram que os autores não têm contato com a comunidade de surdos e não possuem conhecimento específico da área. Na elaboração, são necessários pesquisa e estudo para que o material atenda à sua finalidade.

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