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Economista investiga fusões
e aquisições de empresas

MANUEL ALVES FILHO

O economista Marcelo Cano, na Bovespa: interesse focado no setor produtivoO processo de fusões e aquisições de empresas nos setores industrial e de serviços, ocorrido ao longo da década de 90 no Brasil, foi investigada em detalhes na dissertação de mestrado do economista Marcelo Cano, defendida recentemente junto ao Instituto de Economia (IE) da Unicamp. De acordo com o estudo, que analisou 1.342 casos entre 1994 e 2002, as transações promoveram uma forte desnacionalização em alguns setores, principalmente naqueles em que é marcante a presença de grandes conglomerados estrangeiros com atuação global.

Orientado pelo professor Luciano Coutinho, Cano usou como fontes para a sua pesquisa notícias veiculadas pela imprensa, sobretudo o jornal Gazeta Mercantil, além do banco de dados da consultoria Thomson Financial Securities. O objetivo do trabalho foi desvendar as causas das fusões e aquisições. "Como o noticiário econômico e consultorias explicavam o processo apenas pela presença de vantagens gerais na realização de F&As, quis verificar que outros fatores explicam as diferenças setoriais e o grande crescimento do número de operações na década de 1990", esclarece.

O economista, que hoje trabalha na Bolsa de Valores de São Paulo, excluiu do seu estudo o setor financeiro devido às especificidades deste segmento. "Além disso, meu interesse sempre esteve mais focado no setor produtivo", afirma. Cano explica que as fusões - esta em pequeno número - e aquisições ocorreram num cenário bastante propício ao processo. De um lado, a estabilidade econômica, o crescimento do mercado interno e a privatizações motivaram a entrada de empresas estrangeiras. De outro, a valorização cambial, a abertura econômica, a reestruturação produtiva e tecnológica internacional e o custo elevado do crédito colocaram as empresas nacionais em dificuldades competitivas, incentivando a venda ou reestruturação produtiva e aquisição de concorrentes. Aliado a isso tudo, também se verificava, na ocasião, a ausência de uma política industrial que estimulasse os empreendedores nacionais a ampliar ou mesmo manter seus negócios.

Em sua dissertação, o economista dividiu os setores industriais e de serviços brasileiros em três grupos. Assim, Cano verificou que no primeiro deles, denominado "oligopólio internacional estruturado", ocorreu um grande número de transações, que promoveu uma significativa desnacionalização das empresas brasileiras. Ou seja, investidores estrangeiros compraram empresas nacionais para ingressar ou ampliar sua participação no mercado local. Fazem parte desse grupo os segmentos automobilístico, farmacêutico, químico, eletroeletrônico, equipamentos de comunicação e de informática.

"As condições econômicas desfavoráveis e a inexistência de uma política industrial efetiva por parte do governo impediram que as empresas nacionais tentassem competir com as estrangeiras. Isso fez com que muitos empreendedores enxergassem a venda de seus ativos para grupos internacionais como um excelente negócio, muito melhor do que continuar operando", diz Cano. No segundo grupo, classificado pelo economista como "oligopólio internacional em formação", a situação foi um pouco menos complicada para as empresas brasileiras.

Isso aconteceu, segundo o autor da dissertação, justamente porque nesse grupo ainda não existe um oligopólio internacional formado e muitas empresas brasileiras têm escala elevada e acesso a recursos naturais baratos, o que permitiu que resistissem ao assédio estrangeiro. Estão incluídos nesse grupo os principais setores de serviços (eletricidade, gás, telecomunicações e supermercados, entre outros) e os segmentos de autopeças, siderurgia, metalurgia, papel mineração e agrobusiness. "Nesse grupo, a concorrência entre estrangeiras e nacionais foi mais acirrada. Pelo menos 25% das operações se deram entre empresas nacionais", diz. Cano destaca que, originalmente, esses segmentos, com pequenas alterações ao longo do tempo, sempre foram reservados ao Estado ou a grupos nacionais, desde o governo do presidente Juscelino Kubitschek.

O terceiro e último grupo analisado por Cano foi o do "oligopólio internacional não-estruturado", composto por pequenas empresas nas áreas de comércio varejista, têxtil, vestuário, calçados, gráficas e móveis, entre outros. Por guardarem muitas semelhantes entre si, a competitividade entre elas é grande. "Como poucas empresas estrangeiras estão interessas em atuar nesses setores no Brasil, e como as próprias empresas brasileiras não são agressivas, o volume de fusões e aquisições foi muito pequeno e equilibrado entre os grupos nacionais e internacionais", afirma o economista.

Embora não tenha se dedicado a avaliar as conseqüências do processo, o que deve ser feito em sua tese de doutorado, Cano tirou algumas conclusões sobre as transações analisadas por ele. A principal delas diz respeito à necessidade de o Brasil definir, do ponto de vista estratégico, quais setores da indústria devem merecer incentivos para que se tornem competitivos no âmbito internacional. "É preciso criar políticas públicas que auxiliem as empresas nacionais a crescer e, assim, não ficarem tão suscetíveis ao avanço das estrangeiras", aconselha.

A medida, acrescenta, ajudaria o país a buscar um maior equilíbrio em sua balança de pagamentos e também incentivaria o desenvolvimento de novas tecnologias nacionais. "Mas tudo isso tem que ser feito com responsabilidade e contrapartida. Não se trata de dar dinheiro aleatoriamente para o empresariado. É necessário estabelecer metas de exportação, índice de nacionalização e geração de emprego, bem como fiscalizar o cumprimento das mesmas", defende Cano.

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