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Mortes mascaram
incidência de
câncer de próstata

Análise de material coletado em autópsias revela que
muitos homens morrem antes de a doença manifestar-se

ANTÔNIO ROBERTO FAVA

O médico patologista Carlos Alberto Fontes de Souza: das 150 amostras investigadas, 55 (36,6%) delas revelaram-se positivasDepois de quase quatro anos de pesquisa, o médico patologista e professor Carlos Alberto Fontes de Souza conclui que o número de indivíduos portadores de câncer de próstata pode ser mais elevado do que se imagina. Ele chegou a essa conclusão depois de estudar, nos laboratórios da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, a próstata de 150 indivíduos, com mais de 40 anos de idade, que haviam morrido "com a doença e não dela", como observa o pesquisador.

As análises foram feitas com base nas amostras que o professor Athanase Billis, da FCM, coletou das autópsias realizadas na Unicamp durante o período de 1974 a 1980. O que Carlos Alberto se propôs foi desenvolver análise sobre o material coletado com o objetivo de se obter um estudo científico das 150 autópsias analisadas.

"E o resultado a que cheguei foi determinar que das 150 amostras investigadas, 55 (36,6%) delas revelaram-se positivas. Quer dizer, os indivíduos eram portadores de carcinoma de próstata e não sabiam, porque morreram antes, de outras doenças, como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, pneumonias, trombolismo pulmonar e tantas outras", diz o professor. Esse índice de 36,6% atinge de modo significativo pacientes mais idosos (60 anos), não havendo predileção quanto à cor do indivíduo. Dos 55 carcinomas encontrados, após dividir a próstata por regiões anatômicas, observou-se que 56,36% estavam localizados em ambas as regiões (zonas de transição e periférica da glândula) e podiam ser pouco ou moderadamente extensos em sua maioria, e 25,45% quando restritos apenas à zona de transição e 18,18%, somente na zona periférica, eram de baixo grau e pouco extensos.

Os estudos de Carlos Alberto resultaram na dissertação de mestrado Carcinoma histológico da próstata em autópsias: freqüência, origem, extensão, graduação e nomenclatura, defendida recentemente na Faculdade de Ciências Médica da Unicamp, sob a orientação do professor Athanase Billis.

De acordo com o pesquisador, no Brasil, o índice de pessoas vítimas de carcinoma histológico incidentalmente observado na próstata é semelhante às cifras de outros países. Um dado que chama a atenção na pesquisa de Carlos Alberto é que esses indivíduos morreram em decorrência de outras doenças, exceto o câncer de próstata propriamente dito. "Isso significa que o indivíduo morre com o carcinoma, mas não dos efeitos provocados diretamente pela doença. De 180 mil casos diagnosticados anualmente nos Estados Unidos, por exemplo, em 31 mil os pacientes morrem", explica.

Sintomas estão relacionados com a micção

A próstata é uma glândula auxiliar do sistema genital e é responsável pelo fornecimento de nutrientes para os espermatozóides. Tem estreita relação anatômica com a bexiga. Por causa disso, os sintomas das doenças prostáticas apresentam-se diretamente relacionados com a micção. Carlos Souza explica que é muito comum o surgimento da doença após os 60 anos de idade. No entanto, há casos diagnosticados em indivíduos mais jovens, com até 40 anos. Há estudos relacionando seu aparecimento com características raciais, genéticas e com doenças venéreas.

"Os fatores raciais parecem ser importantes, pelo menos no câncer de próstata, de manifestação clínica. Os indivíduos negros têm maior propensão para desenvolver a doença. Acredita-se que isso ocorra por questões de ordem genética. Em contrapartida, o câncer de próstata é menos prevalente nos indivíduos asiáticos", acentua o pesquisador. Acredita-se que há efeitos ambientais, além dos genéticos, que influenciam nos genes desse carcinoma (leia texto nesta página).

Alguns pesquisadores consideram que os hábitos alimentares e ambientais tenham importante implicação com a doença. É uma relação direta, desfavorável, atribuída ao alto consumo de gordura animal, principalmente carne vermelha e laticínios. "Mas há alguns alimentos que protegem o homem contra o desenvolvimento desses tumores, como os ácidos graxos do tipo ômega 3, presentes nos peixes de água fria, substâncias como o licopeno, encontrados no tomate, e outras verduras, além de produtos que contenham a vitamina E, como milho, abacate e nozes"


Diagnóstico precoce aumenta chances de cura

O câncer de próstata acomete homens maduros. Apresenta crescimento lento, com tempo de duplicação de 2 a 4 anos. Portadores desse tipo de câncer podem morrer de outras causas, sem que apresentem sintomas ou que ele seja diagnosticado. A próstata é uma glândula do aparelho genital, localizado abaixo da bexiga e à frente do reto. Tem tamanho e formato aproximado de uma noz e circunda a parte da uretra. A próstata é responsável pela produção do líquido seminal.

A incidência de câncer de próstata vem aumentando em várias regiões do mundo, como nos Estados Unidos, Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia e Islândia. O diagnóstico precoce favorece a sua detecção. "Chama a atenção que nos estágios iniciais a doença pode não apresentar sintomas; quando são diagnosticados muitas vezes se encontram em estágios já avançados. Aí está a importância da realização de exames preventivos que devem ser realizados periodicamente", alerta o médico. No entanto, quando descoberto, se tratado no início, o câncer de próstata pode obter êxito de cura.

Fatores genéticos têm peso

Não se conhece a verdadeira causa desse tipo de câncer; porém, sabe-se da influência dos hormônios masculinos na sua proliferação. Negros americanos têm maior incidência mundial, isto é, duas vezes maior que em brancos. Em contrapartida, os japoneses têm uma das menores incidências. Estudos de autópsias mostram a mesma taxa de incidência da doença entre japoneses e brancos americanos. Entretanto, quando os japoneses migram para os Estados Unidos, sua prevalência clínica torna-se a mesma do americano. Provavelmente, o meio ambiente seja responsável por essa transformação clínica. "Esse perfil é praticamente o mesmo da Brasil", ressalta Carlos Souza.

Alguns fatores genéticos têm importância na sua predisposição. Por exemplo, o filho, cujo pai tem a doença, apresenta de duas a três vezes mais chances de desenvolvê-la. Se há dois parentes com a doença, o risco aumenta de cinco a onze vezes. Geralmente, os sintomas da doença estão relacionados à obstrução urinária, podendo estar também associada à infecção urinária. Entre os sintomas mais freqüentes estão a dificuldade de iniciar a micção, várias micções noturnas, perda da forma e do calibre do jato urinário, dor ao urinar, retenção da urina, dores na coluna, fêmur e bacia, sinais de sangue na urina (hematúria) e perda de peso.

A melhor maneira de prevenir-se é consultar um urologista, a partir de 45 anos de idade, uma vez que o especialista terá meios de identificar a doença em seu estágio inicial, e buscar a cura e tratamento adequado nos estágios posteriores da doença.

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