Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 259 - de 19 de julho a 1 de agosto de 2004
Leia nessa edição
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Estudo inédito da Feagri aponta o potencial
eólico do Estado e destaca a sua importância para a geração de energia elétrica

Os bons ventos
que sopram em São Paulo



MANUEL ALVES FILHO



O Estado de São Paulo apresenta importante potencial eólico para geração deA mestranda Adriana Rocha Ferreira Miguel e o professor Luiz Antonio Rossi: analisando a rugosidade do solo e o relevo do Estado (Foto: Antoninho Perri) energia elétrica, que serviria como complemento à sua matriz energética. A conclusão é de um estudo original desenvolvido para a dissertação de mes-trado de Adriana Rocha Ferreira Miguel, defendida recentemente na Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp. A pesquisadora coletou, sistematizou e interpretou dados sobre freqüência, intensidade e direção dos ventos, fornecidos por 28 estações meteorológicas. Além disso, ela também analisou a rugosidade do solo e o relevo do Estado. “Embora as informações disponíveis não sejam muito confiáveis, por estarem subestimadas, foi possível constatar que a geração de eletricidade a partir da energia eólica pode vir a ser uma alternativa técnica e economicamente viável para auxiliar no atendimento da demanda regional”, afirma.

Dados vieram de 28 estações meteorológicas

Antes do trabalho de Adriana, que foi orientada pelo professor Luiz Antonio Rossi, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), não havia informações disponíveis sobre o potencial eólico paulista, a não ser aquele estimado pelo Atlas Eólico Nacional, com metodologia distinta da usada por ela. A autora da dissertação afirma que encontrou uma série de dificuldades para coletar os dados necessários ao estudo. Primeiro, as estações meteorológicas, como o próprio nome sugere, foram concebidas para fornecer indicadores climatológicos e não sobre o comportamento do vento especificamente, com foco para geração de energia elétrica. Assim, vários de seus instrumentos não são os mais adequados para realizar o tipo de medição que interessava à pesquisa. Os aparelhos específicos que captam a intensidade e a freqüência do vento, por exemplo, operam a uma altura de dez metros.

“A altura recomendada para realizar esse tipo de medição varia de 25 a 50 metros, sendo esta última a melhor”, explica o professor Rossi. Por meio de uma equação matemática e de softwares específicos, que permitem resultados precisos, Adriana extrapolou os dados coletados pelas estações meteorológicas para 50 metros e estendeu a cobertura para todo o Estado. Assim, ela obteve o potencial eólico geral de São Paulo. Paralelamente, como já foi mencionado, a autora do trabalho analisou a rugosidade do solo e as diferenças de relevo, variáveis que interferem decisivamente no comportamento do vento. Com isso, ela desenvolveu uma metodologia que pode ser aplicada a qualquer Estado, de modo a promover o levantamento da sua potencialidade eólica.

Durante investigação, Adriana conta que deparou com um outro sério problema. Como não foram concebidas para considerar a energia eólica como potencial geradora de eletricidade, várias estações meteorológicas estão situadas em pontos desfavoráveis. Uma delas, por exemplo, foi instalada ao lado de um morro. Ou seja, o acidente geográfico funciona como um obstáculo ao vento, impedindo conseqüentemente a sua medição em todos os sentidos. Adicionalmente, queixam-se a pesquisadora e o professor Rossi, muitas instituições que detêm dados sobre o assunto dificultaram o acesso a essas informações, em virtude de procedimentos burocráticos.

Depois de concluir o levantamento, Adriana tratou de estratificar as estações meteorológicas, segundo o seu potencial eólico. Ele dividiu as unidades em três seguimentos: pequeno (22), médio (5) e grande porte (1). A única enquadrada na terceira categoria foi a estação presente na Ilha da Moela, uma concessão da Marinha localizada a dois quilômetros da cidade de Santos. De acordo com o professor Rossi, o potencial eólico não deve ser analisado apenas sob o ponto de vista da geração de eletricidade, embora esta seja a contribuição mais nobre desse tipo de fonte. “O vento também gera potência mecânica, que pode ser usada para o bombeamento de água, irrigação e carregamento de baterias”, destaca. Ou seja, mesmo os locais com pequeno potencial eólico podem contribuir para a redução do consumo de eletricidade ou gerar energia elétrica em volume suficiente para iluminar uma casa ou barracão na zona rural.

Competitividade – O aproveitamento da energia eólica para a geração de energia elétrica é praticamente insignificante no Brasil, se tomados como referência tanto o potencial estimado, quanto o já inventariado e outorgado, de acordo com o professor Rossi, da Feagri. Equivale, em âmbito nacional, a menos de 0,1% da geração de energia e a 0,03% da potência instalada na matriz energética, percentual irrisório se comparado com o da Alemanha, país em que 15% da matriz energética de 12.000MW vêm de usinas eólicas. Um dos principais motivos para que essa fonte seja desconsiderada, na opinião do especialista, é a falta de políticas de governo que a tenham como estratégica para o esforço de crescimento da nação. Como conseqüência da falta de apoio, a energia eólica ainda se mantém pouco competitiva, se comparada com a hidráulica.

Enquanto 1MWh de energia elétrica gerada pelos ventos custa US$ 62, a mesma energia produzida por uma hidrelétrica sai por praticamente a metade, US$ 36. “Por enquanto, a energia eólica, em locais favoráveis, só compete com a hidráulica em relação ao custo de instalação. Para cada MW instalado, a primeira exige gastos médios da ordem de US$ 1,3 mil e a segunda, US$ 1,2 mil”, assegura o professor Rossi. Ele ressalta, entretanto, que o aproveitamento do vento para essa finalidade causa muito menos impacto ao meio ambiente. “Isso só acontece na fase da instalação da usina eólica, quando os equipamentos são transportados por veículos automotores. Depois, na etapa de operação, o impacto é praticamente nulo”, sustenta o docente da Feagri.

Rossi afirma que o momento para o aproveitamento do potencial eólico paulista, assim como o de outros Estados, é a partir de agora. Ele defende a realização de um planejamento estratégico estadual na área energética que contemple fortemente as fontes renováveis de geração de eletricidade. “Penso que o Estado de São Paulo se ressente de um departamento que converse com as instituições que trabalham ou desenvolvem pesquisas nessa área. Faltam-nos gestores para promover o consórcio entre esses atores, de forma a instalar uma rede dedicada para a geração de energia limpa”, propõe o docente da Feagri.

Desenvolvendo atualmente a sua tese de doutorado, Adriana Miguel investiga o potencial de arrecadação do Brasil em créditos de carbono, a partir do uso de fontes renováveis, especialmente a energia dos ventos. Por meio do Protocolo de Kyoto, firmado em 1997, os países industrializados se comprometeram em investir em projetos executados por nações em desenvolvimento ou subdesenvolvidas que promovam a redução das emissões de gases de efeito estufa. Algumas estimativas dão conta de que cada tonelada de carbono que deixa de ser jogada na atmosfera possa reverter aos cofres brasileiros recursos que variam de US$ 10 a US$ 100.

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