Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 259 - de 19 de julho a 1 de agosto de 2004
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RMC ilustrada
 

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Resultado de cooperação entre Nepo
e Nesur, atlas permite leitura qualificada dos problemas da RMC

RMC ilustrada

MANUEL ALVES FILHO



Um atlas que promove a distribuição espacial de dados demográficos, econômicos O professor José Marcos Pinto da Cunha, coordenador do Nepo: problemas assumem dimensão metropolitanae sociais relativos à Região Metropolitana de Campinas (RMC) acaba de ser concebido em conjunto pelo Núcleo de Estudo de População (Nepo) e Núcleo Interno de Economia Social Urbano e Regional (Nesur), ambos da Unicamp. O objetivo do trabalho, primeiro resultado concreto de uma pesquisa mais ampla que os dois órgãos pretendem realizar sobre a RMC, é oferecer uma ferramenta auxiliar de planejamento para as instituições e pessoas responsáveis pelo destino da jovem instância político-administrativa, formada por 19 municípios e um contingente de 2,3 milhões de pessoas. Por meio da leitura de mapas e gráficos, conforme os autores, é possível compreender que vários dos problemas tratados apenas na esfera local são, na verdade, de ordem regional. “O atlas mostra claramente os pontos de complementaridade entre as cidades. Esta constatação abre perspectiva para a organização de um conjunto de interações a partir do espaço metropolitano, tendo como meta o melhor ordenamento da RMC”, afirma o professor José Marcos Pinto da Cunha, coordenador do Nepo e um dos executores do estudo.

As pesquisadoras Áurea Davanzo e Maria Conceição Silvério: ferramenta para gestoresPara conceber o atlas, os pesquisadores do Nepo e Nesur lançaram mão basicamente dos dados dos censos de 1991 e 2000, realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Indicadores demográficos, econômicos e sociais foram espacializados tendo como referência a mancha urbana, gerada a partir de imagens de satélite. Esta foi sobreposta ao mapa da RMC, de modo a delimitar as áreas que concentram aspectos positivos e negativos, bem como as que indicam a interação entre os municípios. “Ao observarmos os vários mapas gerados por essa metodologia, percebemos que os problemas não respeitam as fronteiras municipais, ou seja, assumem uma dimensão metropolitana. Sendo assim, fica claro que não podem continuar sendo enfrentados apenas sob a ótica e pelo esforço local”, explica o professor José Marcos.

De acordo com os especialistas da Unicamp, ao distribuir espacialmente as informações, o atlas permite uma leitura mais qualificada sobre a realidade da Região Metropolitana, dado que as cidades não têm um desenvolvimento harmonioso. “Por meio dessa técnica, nós conseguimos criar um gradiente da situação da RMC, como se ela fosse uma superfície contínua”, esclarece Áurea Davanzo, pesquisadora do Nesur. Tal cenário fica mais claro quando observados, por exemplo, os mapas que exibem as condições de renda e escolaridade dos chefes de família. Ambos revelam a existência do que os autores do trabalho classificaram de “cordilheiras de riqueza e pobreza”.

Conforme os pesquisadores, é possível perceber a relação direta entre renda e escolaridade, em termos de localização espacial. Assim, o eixo formado por áreas de Campinas, Valinhos e Vinhedo (cordilheira da riqueza) é o que apresenta maior concentração de chefes de família com renda superior a 10 salários mínimos e com 12 anos de estudo ou mais. Já o eixo que segue em direção oposta, constituído por bairros de Campinas, Hortolândia e Sumaré (cordilheira da pobreza), detém elevadas proporções de chefes de domicílios sem ou com baixa escolaridade e renda. No entender de Maria Conceição Silvério, também pesquisadora do Nesur, o atlas poderá vir a ser uma ferramenta muito útil aos gestores públicos.

Ela lembra que, atualmente, tanto as prefeituras quanto os órgãos metropolitanos têm dificuldade em fazer uma leitura mais precisa dos dados sobre a RMC. “Acredito que a espacialização das informações e a comparação entre os períodos de 1991 e 2000 facilitarão a compreensão dos problemas comuns aos municípios, podendo inclusive ajudar na definição de uma agenda regional”, imagina. “O atlas, a nosso juízo, é uma provocação para que deixemos de pensar em soluções isoladas para refletirmos sobre alternativas regionais. O foco, mais do que nunca, deve deixar de ser o cidadão campineiro, por exemplo, mas sim o cidadão metropolitano”, acrescenta o professor José Marcos, para quem a situação da RMC ainda é “manejável”.

De acordo com coordenador do Nepo, o atlas será divulgado publicamente nas próximas semanas. O material não será publicado na forma de livro, pelo menos inicialmente. A idéia, diz, é distribuir o produto em CDs e divulgar o conteúdo nas páginas do Nepo (www.unicamp.br/nepo) e do Instituto de Economia (www.eco.unicamp.br). O professor José Marcos destaca que este trabalho é o primeiro resultado de uma pesquisa mais ampla que o Nepo e o Nesur pretendem desenvolver sobre a Região Metropolitana de Campinas, intitulado “Dinâmica Intrametropolitana e Vulnerabilidade Sócio-Demográfica nas Metrópoles do Interior Paulista: Campinas e Santos”. O pedido de financiamento do estudo está sendo analisado pela Fapesp, mas o docente afirma que está otimista quando à sua liberação.

Na década de 90 amplia-se a área de concentração de chefes com renda superior a 10 sm, bastante concentrada na região centro-leste e norte de Campinas. Em 2.000, além da grande expansão em Campinas, há uma grande concentração expressiva dessa categoria de renda especialmente em Valinhos e Vinhedo, começando a delinear na TMC uma “cordilheira” da riqueza, contrapondo-se a uma “cordilheira” da pobreza, explicitado no cartograma superior. Enquanto em Campinas regiões como o Cambuí, Nova Campinas e parte de Barão Geraldo e, em Valinhos e Vinhedo, áreas como os condomínios localizados às margens da Via Anhanguera, mais de 70% dos chefes do domicílio têm renda superior a 10 sm, este percentual é inferior a 50% dos domicílios em bairros como o Jd. São Domingos, Vida Nova e Vila Vitória, em Campinas, e Jd. Santiago, Aline, Coceição e Vila Guedes, em Hortolândia.“Enquanto o dinheiro não sai, nós vamos fazendo o que for possível, com os recursos já disponíveis. O atlas sobre a RMC, por exemplo, foi concebido com dinheiro obtido junto ao CNPq, assim como recursos próprios do Nesur. Nos próximos meses, esperamos fazer um atlas também da Região Metropolitana de Santos”, adianta. O coordenador do Nepo afirma, ainda, que o estudo mais amplo sobre as metrópoles paulistas analisará a vulnerabilidade dessas áreas não apenas sob o enfoque da pobreza. “Existem outros elementos que podem contribuir para uma maior ou menor vulnerabilidade das famílias no espaço metropolitano, como o mercado de trabalho, a questão ambiental etc”, assinala. A intenção, segundo ele, é agregar ao estudo outros indicadores além dos fornecidos pelo censo do IBGE, de modo a construir um banco de dados qualificado. “Depois, fica aberta a possibilidade de criarmos uma espécie de Observatório da Metrópole, inclusive com a participação de outros grupos interessados no assunto”.

Para o coordenador do Nesur, professor Rinaldo Barcia Fonseca, a cooperação entre os dois órgãos da Unicamp, que sempre existiu e agora fica aprofundada, amplia a capacidade da Universidade de pensar a RMC. “O atlas é um primeiro resultado desse esforço conjunto de reunir e tratar informações sobre a Região Metropolitana, usando novas técnicas de representação espacial. Estas informações, além de apoiar a reflexão acadêmica sobre o que poderíamos chamar ‘a questão metropolitana’, podem ajudar enormemente os gestores públicos no momento de desenhar políticas para tratar aquilo que a lei de criação da RMC chamou de ‘funções públicas de interesse comum’”.

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