Jornal da Unicamp 182 -  29 de julho a 4 de agosto de 2002
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Embraer busca parceria acadêmica

Com os negócios em expansão, empresa anuncia que vai precisar
de 1.400 engenheiros até 2006

EUSTÁQUIO GOMES

No costado de 20 aviões por mês e com encomendas fechadas até 2006, a Embraer não tem mais onde buscar engenheiros para suprir seu crescente volume de produção em sua unidade de São José dos Campos. As turmas anuais religiosamente fornecidas pelo ITA e pela Poli já não são suficientes para cobrir a demanda da empresa, que recentemente inaugurou uma nova fábrica e uma pista de ensaio em vôo no município de Gavião Peixoto, interior de São Paulo.

Embora tenha buscado resolver o problema implantando um programa de especialização em engenharia (PEE) que, nos últimos dois anos, “adaptou” cerca de 350 engenheiros aeronáuticos, a Embraer concluiu que para atingir o patamar de 1.400 novos engenheiros nos próximos quatro anos, numa média de 300 por ano, vai precisar da ajuda das universidades que contam com cursos de engenharia — civil, elétrica, mecânica, química — de primeira linha.

É o caso da Unicamp, cuja tradição e excelência nas engenharias é um caso comprovado até pelas notas máximas obtidas por seus formandos no Exame Nacional de Cursos — o Provão — do Ministério da Educação. O Provão tem sido, aliás, um dos critérios usados pela Embraer para captar os melhores onde eles estiverem. Já há vários engenheiros formados pela Unicamp atuando nas linhas de produção e de desenvolvimento da empresa de São José dos Campos. Mas agora a Embraer quer ir mais longe: deseja “seduzir” a Unicamp para que ela própria se envolva no processo de “formatação” de seus engenheiros civis, eletricistas, mecânicos e químicos em engenheiros aeronáuticos.

No dia 2 de julho, um grupo* encabeçado pelo reitor Carlos Henrique de Brito Cruz foi ouvir pessoalmente da direção da Embraer os termos dessa proposta de parceria. Soube que a empresa investiu US$ 4,8 milhões em formação de pessoal no ano passado e vai investir US$ 6 milhões em 2002. Os investimentos dos anos seguintes serão ainda maiores. Mas isso não é tudo. “Só neste ano estamos investindo US$ 350 milhões de dólares em desenvolvimento de produtos”, informou o diretor vice-presidente industrial da empresa, Satoshi Yokota. “Em termos de tecnologia aplicada, estamos ombro a ombro com as grandes companhias internacionais”.

E é no desenvolvimento de produtos que a Embraer mais precisa de engenheiros competentes (veja entrevista abaixo). O reitor Brito Cruz confirmou o interesse da Unicamp “em ajudar a aumentar a taxa de formação de engenheiros de que a Embraer precisa”. Para “determinar focos e pontos de interesse”, segundo a expressão do reitor, está-se pensando já na organização de um workshop para definir áreas e projetos comuns. Até porque, cursos à parte, a Unicamp já vem se mobilizando para participar do programa de Parceria para Inovação em Ciência e Tecnologia Aeroespaciais (PICTA), criado pela Fapesp para apoiar projetos desenvolvidos por universidades e instituições de pesquisas em conjunto com empresas do setor aeroespacial, das quais a principal é, de longe, a Embraer. O programa conta com recursos de R$ 18 milhões anuais para o financiamento de pesquisas na área, mais a contrapartida das empresas envolvidas.

* Além do reitor Carlos Henrique de Brito Cruz, integraram a comitiva os pró-reitores Rubens Maciel Filho (Extensão), Paulo Eduardo M. R. da Silva (Desenvolvimento), José Luiz Boldrini (Graduação), Fernando Costa (Pós-Graduação), os diretores Kamal Abdel R. Ismail (Faculdade de Engenharia Mecânica) e sua diretora associada Maria Helena Robert, Leo Pini Magalhães (Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação), Milton Mori (Faculdade de Engenharia Química) e Carola Dobrigkeit Chinellato (Instituto de Física); os professores Euclides de Mesquita Neto (FEM), Antonio Vanderlei de Quintal e Luiz Carlos Zacharias (Cotil), Roberto Feijó de Figueiredo (FEC), Franco Giuseppe Dedini (FEM), Luiz Carlos Zacharias (Cotil), Jaime Cheque Júnior (Ceset) e Oscar Ferreira de Lima, da Pró-Reitoria de Pós-Graduação.

UM NAMORO QUE PODE DAR EM CASAMENTO

O engenheiro Sidney Lage Nogueira, gerente do Programa de Especialização em Engenharia da Embraer, sempre teve excelentes relações com a Unicamp. De algum tempo para cá, Lage tem convivido com vários ex-alunos dos cursos de engenharia da Unicamp que buscaram a especialização em aeronáutica em seus cursos profissionalizantes. “São engenheiros excelentes”, diz Lage. Agora a Embraer quer ir mais longe: pretende “reformatá-los” dentro da própria universidade através de uma parceria entre ambas as instituições.

Qual a expectativa da Embraer em relação à Unicamp?

O que esperamos é que a Unicamp se envolva num programa integrado de formação ou de especialização de engenheiros com foco aeronáutico. Em resumo, estamos interessados em mestrados profissionalizantes diretamente voltados para as áreas de interesse da indústria aeronáutica. Sabemos que, por ser uma universidade de ponta, a Unicamp está em condições de fornecer engenheiros também de ponta. Temos vários ex-alunos da Unicamp tanto da primeira quanto da segunda turma de nossos cursos internos. A qualidade deles é um de nossos pontos de aferição. Outro é o excelente desempenho dos engenheiros da Unicamp no Provão do MEC.

Quais são as linhas de desenvolvimento da Embraer que mais necessitam de engenheiros?

Estruturas aeronáuticas, aerodinâmicas, sistemas aviônicos, sistemas de comando, interiores ambientais etc. Estas são apenas exemplificações, pois estamos formando gente em 16 diferentes especialidades. E quando digo formar, estou falando de uma “reformatação” de engenheiros de outra formação — civis, eletricistas, mecânicos — sem que percam os dados antigos, para atuar na área de desenvolvimento de novos produtos. Na área de projetos a Embraer já tem uma experiência agregada, mas em algumas outras áreas nós precisamos fazer parcerias e somar forças.

Nessa parceria, que tipo de conteúdo caberia à universidade fornecer?

A Embraer necessita de cursos na área de estrutura, por exemplo. Nós achamos que um curso de análise estrutural ministrado numa universidade vai funcionar melhor didaticamente, mesmo que a universidade tenha que partir, num primeiro momento, do conteúdo aeronáutico repassado pela Embraer. Digamos que nós sabemos “resolver” o avião, mas não temos a didática de um professor universitário. A análise estrutural é só um exemplo. Muitos outros cursos da área fundamental da engenharia — é de todo conveniente que sejam dados pela universidade.

A Embraer já tem parcerias firmadas com outras universidades?

No Nordeste, com a Universidade Federal de Pernambuco. No Sul, estamos discutindo parcerias com as universidades federais do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Em São José dos Campos, há uma parceria já antiga com o ITA. E agora estamos “namorando” a Unicamp.