Jornal da Unicamp 181 -  22 a 28 de julho de 2002
Jornais anteriores
Unicamp Hoje
PDF
Acrobat Reader
Unicamp
4
 
Capa
Risco
Insulina
Candidíase
Subemprego
Terapia
Medicina
Pesquisas
Vida
Qualidade
Casa-abrigo
Na Imprensa
Calor
Memória
Prêmio
Música
SBPC
Caminha

O Economista Carlos Alves do Nascimento: "Modernização da agricultura reduziu as ofertas de emprego"De volta ao subemprego (no campo)

Estudo revela como ficaram as atividades agrícolas depois que milhões de brasileiros migraram para as cidades

ANTÔNIO ROBERTO FAVA

Grande parte da população que reside no meio rural já não se ocupa de atividades puramente agrícolas. Pressionadas pelo processo de modernização da agricultura e pela expulsão da mão-de-obra para o meio urbano, milhões de pessoas, nas décadas de 60 e 70, deixaram o campo. O que poderia representar o sonho de uma vida melhor e mais tranqüila, começa então a transformar-se em algo incômodo, quase um pesadelo, provocado pela retração econômica dos anos 80, culminando com o desemprego em massa dos anos 90.

A dissertação de mestrado do economista Carlos Alves do Nascimento – Evolução das Famílias Rurais no Brasil e Grandes Regiões: Pruriatividade e Trabalho Doméstico: 1992-1999 —, apresentada ao Instituto de Economia (IC) da Unicamp, sob a orientação do professor José Graziano da Silva, mostra como ficaram as atividades agrícolas depois desse êxodo rural no Brasil.

“A modernização da agricultura reduziu as ofertas de emprego de grande parte da população residente hoje em fazendas, chácaras e sítios, que acabou sendo alijada de qualquer atividade agrícola. Essa modernização significa o emprego de máquinas, de tratores, a aplicação de defensivos agrícolas e fertilizantes, que elevaram a produtividade e o preço da terra, mas acabaram por reduzir o trabalho braçal”, avalia. Conseqüência: esse processo leva a agricultura a abrir mão do trabalhador.

Se por um lado, segundo o pesquisador, esse fenômeno acabou provocando um inchaço considerável nas cidades, provocando a violência do meio urbano, entre outros fatores, por outro lado começa a ocorrer um outro fenômeno: famílias de classe média deslocam-se para o meio rural. Isso faz com que cresça no campo um outro tipo de emprego: de empregadas domésticas, de jardineiros e de uma série de outras atividades. Todas de baixa qualificação, em virtude também da estagnação econômica, registrada nas últimas décadas, e que não tem gerado ocupações produtivas. Muitas dessas pessoas ocuparam também funções em serviços públicos, escolas, postos de saúde, hospitais e agência de correios, por exemplo.

Essas ocupações não-agrícolas que estão se proliferando entre os residentes no meio rural brasileiro, não necessariamente estão todas sendo geradas no campo, mas podem estar se desenvolvendo nas pequenas cidades do entorno. Mas o que importa, segundo observação de Carlos Nascimento, é que essas pessoas estão ‘voltando’ a residir no espaço rural, independentemente da sua ocupação ser no campo ou na cidade”.

Em termos de renda, o pesquisador da Unicamp chegou à conclusão de que as famílias residentes no meio rural, que combinam atividades agrícolas com trabalho doméstico remunerado, apresentam renda superior às daquelas em atividades estritamente agrícolas.