ANTONIO ROBERTO FAVA

O professor, compositor e músico José Eduardo Ribeiro de Paiva, do Departamento de Multimeios do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, encontrou um meio prático e barato de passar aos estudantes de música e profissionais da área de comunicações mais de duas décadas de conhecimentos musicais: gravou um CD-Rom interativo no qual são abordadas questões técnicas, conceitos, exemplos sonoros e terminologias, além de informações sobre recursos eletrônicos aplicados à produção musical de discos e trilhas sonoras.

O material, que culminou com a gravação desse CD, é resultado de sua tese de doutorado – Sonorização em Multimídia: Técnicas Específicas para a Música Digital — defendida recentemente sob orientação da professora Nelly de Camargo, no qual Paiva gastou cerca de dois anos e meio para elaborá-la.

“Na verdade, eu quis produzir um material que abarcasse, de maneira didático-pedagógica, não só as diversas fases de uma produção sonoro-musical, mas que fosse também um painel abrangente de como se dá essa produção. Por ser um CD, o meu principal propósito foi o de atingir, de uma forma evidentemente mais prática, maior número de pessoas interessadas, especialmente estudantes de música e profissionais ligados às áreas de comunicação”, diz o pesquisador.

Paiva explica que basicamente a proposta do trabalho é também discutir a relação e os mecanismos existentes entre produção sonoro-musical e tecnológica, desde os anos 60 até os dias de hoje, de maneira a oferecer ao interessado conhecimentos mínimos necessários que envolvem, além da produção de discos e trilhas sonoras para o cinema, sistemas de som para o rádio e a tevê. O trabalho passa pelos recursos eletrônicos aplicados à produção musical: explica, por exemplo, o que é um sintetizador, ilha de edição, equalizador, ou ainda o que é um sampler ou um sampler play-back. O avanço tecnológico na área, segundo Paiva, revela um pouco da história do transistor e os primeiros circuitos integrados, o surgimento de equipamentos que iriam revolucionar a música, especialmente a popular. E um desses equipamentos é o hoje conhecido gravador multipistas, com vários canais de gravação.

Música e tecnologia caminham juntas há muito tempo, segundo observa o pesquisador. No entanto, com o desenvolvimento miniaturizado dos equipamentos de execução e gravação, os músicos necessitam dominar novas ferramentas para desempenhar bem o seu trabalho, além da simples execução da música. “Caso contrário, pode-se considerar um músico ainda em estado de aprimoramento”, diz. E o computador, por exemplo, é hoje uma ferramenta, se não completa, pelo menos a mais flexível em recursos auxiliares para instrumentos musicais, gravador digital e editor de partitura. Tarefas que a máquina executa quase ao mesmo tempo, e sozinha. “Com isso, conceitos de gravação e edição de timbres passam a fazer parte do seu dia-a-dia, tanto quantos os compassos e acordes, e necessitam de ferramentas de ensino específicas para a sua compreensão”, acentua Paiva.

Para o desenvolvimento dessas ferramentas, a multimídia parece ser “a linguagem mais interessante e completa”, tanto pelos recursos de interatividade e convergência de mídias, quanto por estar intimamente ligada às tecnologias de produção musical. O pesquisador da Unicamp explica ainda que a idéia básica do seu trabalho é criar um produto de ensino multimídia sobre música e tecnologia, com base em experiências práticas de ensino, e verificar sua eficácia junto ao grupo de voluntários, alunos do Instituto de Artes.