Jornal da Unicamp 181 -  22 a 28 de julho de 2002
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Fórmula contra a falência

Com base na quebradeira de bancos, pesquisador cria um modelo para detectar empresas em situação de risco

LUIZ SUGIMOTO

As crises bancárias tornaram-se fenômenos freqüentes nas duas últimas décadas. Entre 1980 e 1998, o mundo registrou 105 ocorrências, a maior parte (63) nos anos 90 – índice muito maior que nas décadas anteriores. No Brasil, somente entre 1994 e 1996, dois grandes bancos (Nacional e Econômico) e vários outros menores foram liquidados pelo Banco Central. 

Os estudos que procuram identificar as causas de crises bancárias normalmente se dividem entre os determinantes macroeconômicos e os microeconômicos. Dentre as causas macroeconômicas, destacam-se: vulnerabilidade macroeconômica, explosão creditícia, liberalização financeira, forte presença do setor público no sistema bancário e regimes de taxas cambiais fixas. As causas microeconômicas geralmente se relacionam a problemas de má administração, agravados por práticas de maquiagem de balanço. 

Os bancos, por sua vez, dividem-se em dois segmentos: os atacadistas, que têm como características principais o baixo número de contas mas de grande volume financeiro, poucas agências e quadro enxuto de funcionários – Bozano Simonsen, Chase Manhattan e Multiplic são alguns exemplos. O banco varejista aparece mais próximo da população em geral, com contas bem menores mas grande número de clientes, agências e funcionários – Bradesco, Itaú, Real.

É com as informações acima que Michel Alexandre da Silva contextualiza a proposta de sua dissertação de mestrado: um modelo de early warning (veja explicação na entrevista que segue) para identificar as causas da quebra de bancos atacadistas na década passada, modelo este que pode ser empregado em outros setores da economia. “Microfundamentos de falência de bancos atacadistas: a experiência brasileira nos anos 90” é o título da tese orientada pelo professor Otaviano Canuto e defendida em dezembro de 2001. 

Jornal da Unicamp – O que são modelos de early warning?
Michel da Silva – Eles indicam o grau de fragilidade de uma firma a partir de um conjunto de indicadores, a fim de que esta empresa possa reverter uma situação desfavorável antes que isso lhe traga piores conseqüências. Note-se que os modelos servem não apenas para bancos, mas para qualquer empresa. Nesse meu estudo, montei um modelo de early warning para bancos composto apenas por indicadores microeconômicos, mas nada impede que se trabalhe também com indicadores macroeconômicos (taxa de juros, taxa de câmbio, etc.). Trabalha-se em duas etapas. Primeiramente, dentre uma série de indicadores, identifica-se quais são relevantes para se analisar a saúde de uma firma que atue em determinado segmento. Depois, estima-se uma equação que indique a probabilidade de falência da empresa em função dos valores dos indicadores selecionados previamente. Desse modo, quando os indicadores de uma empresa atingem determinado patamar, o modelo lhe dá um sinal de alerta, indicando que a mesma está mais próxima de quebrar. 
 

P – Poderia citar indicadores microeconômicos bancários relevantes nas falências ocorridas?
R – No caso específico das falências ocorridas no Brasil entre 1995/96, segundo alguns estudos, esses indicadores foram: baixas captações em dólares, altos custos administrativos, baixa rentabilidade, alto crescimento das captações e, para os bancos menores, alta alavancagem (grande proporção de recursos de terceiros em relação aos recursos próprios do banco). Note-se que indicadores de falência estão relacionados ao período e ao local. Provavelmente, falências ocorridas em outro período/local seriam explicadas por outros indicadores. 
 

P - Sua pesquisa aponta a freqüência das crises bancárias nas duas últimas décadas. A incidência de quebras deve se manter?
R – O aumento na freqüência de quebras bancárias nos anos 90 está bastante relacionado ao maior volume dos fluxos financeiros internacionais. Isso é mais notável no caso das crises asiáticas. Com a maior entrada de recursos financeiros internacionais, os bancos passaram a dispor de uma grande quantidade de capital. Sem uma política mais racional sobre como administrar esses recursos, eles passaram a emprestar esses recursos desmedidamente, sem avaliar se o tomador do empréstimo poderia pagá-lo posteriormente. Quando esse capital externo saía do país ou quando a saúde financeira dos tomadores de empréstimo era afetada, vinha a quebradeira dos bancos. Muito provavelmente, os índices de falência bancária no mundo continuarão superiores aos índices anteriores à década de 90, até que se implantem de modo mais eficaz redes de segurança financeira. No caso do Brasil, observa-se que os anos de 95 e 96 foram bastante atípicos no que se refere ao número de quebras bancárias, mesmo com relação aos anos 90, devido à perda dos ganhos inflacionários e à crise mexicana no início de 1995. 
 

P – O que há de inédito em seu trabalho e em que medida ele pode ajudar na identificação e prevenção de instituições em dificuldades?
R – A idéia nova é de que os indicadores microeconômicos relevantes na explicação de falências bancárias podem variar não só com o lugar e o período em que as mesmas ocorreram, mas também de acordo com as características estruturais dos bancos. De um modo geral, os bancos se dividem entre os de varejo (grande número de agências e clientes) e de atacado (menor número de agências e clientes). O estudo foi favorável à hipótese de que as falências de bancos atacadistas e as dos demais bancos brasileiros, ocorridas em 1995/96, foram explicadas por indicadores diferentes. Assim, modelos de early warning elaborados separadamente para bancos de atacado e de varejo serão mais eficientes. Além disso, esse mesmo princípio pode ser aplicado em outros setores da economia.