Jornal da Unicamp 181 -  22 a 28 de julho de 2002
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A pesquisadora Mariane da Silva: buscando dados de prevalência das diferentes espécies de CandidaIncidência de
candidíase aumenta
entre pacientes com câncer

ANTÔNIO ROBERTO FAVA

Antes de passar por um transplante de medula óssea, o paciente é induzido a receber altas doses de medicamento. Por mais curioso que possa parecer, o procedimento tem o propósito de debilitar o organismo da pessoa internada, justamente para que não ocorra rejeição durante o enxerto. Se por um lado o método parece ser o mais adequado e eficaz, por outro o paciente torna-se extremamente vulnerável às infecções conhecidas como candidíase, causada por espécies de Candida. Trata-se de um fungo microscópico que se apresenta em forma de levedura. As leveduras patogênicas mais nocivas ao homem – que provocam doenças – são a Candida albicans, C. glabrata, C. krusei e a C. parapsilosis.

Pesquisas desenvolvidas pela estudante de medicina Mariane da Silva revelam que as infecções oportunistas causadas por espécies de Candida têm aumentado de maneira considerável nos últimos 15 anos, tornando-se um problema cada vez maior a pacientes com câncer, especialmente entre os receptores de transplantes de medula óssea (TMO).

“Normalmente são infecções provocadas por bactérias e vírus do próprio ambiente hospitalar”, explica Mariane, cujo trabalho de pesquisa foi desenvolvido com cepas isoladas de pacientes transplantados de medula óssea. E os resultados de sua investigação constam da dissertação de mestrado Mariane — Estudo da prevalência e avaliação da suscetibilidade a partir de antifúngicos de espécies de candida isoladas a partir de espécimes clínicos de pacientes portadores de malignidades hematológicas —, apresentada recentemente à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, sob a orientação da professora Angélica Zaninelli.

A tese mostra que de uns tempos para cá, os malefícios provocados pela Candida têm aumentado de maneira considerável em pacientes com câncer. “Essa incidência dá-se em virtude de intensas sessões de quimioterapia, uso de cateter, antibióticos de amplo espectro, e, entre outros fatores, longos períodos de hospitalização”.

Depois de concluir uma investigação de quase dois anos, Mariane buscou, de forma retrospectiva, obter dados de prevalência das diferentes espécies de Candida isoladas como “colonizantes e/ou patógenos” das Unidades de Hamatologia e de Transplante de Medula Óssea do Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp. Para desenvolver o seu trabalho a pesquisadora realizou um levantamento nos arquivos dos pacientes dessas unidades junto ao Centro de Comissão de Infecção Hospitalar (CCIH). Em seguida, Mariane selecionou cepas e avaliou sua suscetibilidade frente aos antifúngicos em uso na Unidade e à possibilidade de correlacionar os dados in vitro com os obtidos em in vivo.

Uma das conclusões a que Mariane chegou é que foi possível observar algumas variações na incidência de Candida albicans, como colonizante, com acentuado decréscimo nos anos de 1999 e 2000. Até 1960, os relatos de infecção fúngica limitavam-se a casos esporádicos. No Brasil, nos últimos quatro anos, observou-se um aumento de 3% para 19% na freqüência de infecções fúngicas em pacientes com câncer. “Esse aumento tem sido largamente atribuído à neutropenia – sistema imune debilitado do paciente provocado pelo baixo número de leucócitos neutrófilos no sangue, que representa a linha de defesa primária contra uma série relativamente grande de patógenos”, explica a pesquisadora.