Jornal da Unicamp 181 -  22 a 28 de julho de 2002
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Como alcançar a sustentabilidade na
agricultura brasileira?

WANDA JORGE

O professor José Graziano da Silva: defendendo uma política de exportação mais agressivaNão existem fórmulas mágicas; o que é fundamental são políticas integradas e inteligentes, que aproveitem o potencial nativo e decidam com autonomia as ações mais proveitosas no cenário de comercialização externa e para atender as necessidades internas. Para o professor José Graziano da Silva, do Instituto de Economia da Unicamp, no Brasil não haverá agricultura sustentada se não houver um projeto de desenvolvimento integrado.

“Não é zoneamento agrícola que vai resolver. A Embrapa já tem programa de regionalização agrícola, mas não existem políticas de intervenção para sua implantação e nem mecanismos que induzam o produtor a respeitá-lo”. Graziano acrescenta que com o nível de exclusão social existente no país, onde um terço de sua população vive na pobreza extrema, nada consegue ser sustentável.

Para reverter este quadro, além de assinalar que é imprescindível um programa político para desenvolver o país de forma integral, Graziano defende a necessidade de uma política de exportação mais agressiva. “O Brasil tem um conjunto de produtos exportáveis, mas comete erros cruciais em sua comercialização”. Um destes produtos destacados pelo pesquisador é a soja, responsável por uma receita anual de US$ 5 bilhões. Pelo menos dois equívocos graves estão prejudicando o desempenho deste produto agrícola, diz Graziano: cada vez se exporta mais soja em grão que foi isenta de tributação para exportação, e menos derivados como óleo e farelo, que continuam taxados. Em 1996, a bancada ruralista isentou de impostos o grão o que leva o Brasil ao passado, com sua vocação de exportador de produtos primários e importador de manufaturados.

Outro erro de graves conseqüências é o uso de grãos geneticamente modificados, acrescenta o pesquisador. “Por nossa dificuldade de certificar a origem da produção, o uso de transgênicos em algumas lavouras acarreta a perda de mercados importantes na Europa e no Japão. Hoje, estes países pagam de 15% a 30% a mais pela produção sem uso de grão transgênicos e não usufruímos desta vantagem. Até o momento, apenas agricultores do Paraná estão fazendo a experiência de certificar a origem, diz Graziano.

Ele assinala que é um direito do consumidor saber a origem do produto e fazer sua escolha. Embora haja extensa pesquisa sobre os transgênicos, quanto a sua produtividade, não existe ainda resultados conclusivos quanto a seu impacto no meio ambiente e no consumo. Tudo indica que não haverá problemas, mas o direito de precaução dos consumidores deve ser assegurado.

Em sua opinião, a decisão mais inteligente para o Brasil seria impor uma moratória de pelo menos cinco anos para o uso do grão geneticamente modificado, período que o Brasil poderia usufruir das melhores cotações no mercado externo exigente deste produto e tomar a melhor decisão quanto ao que plantar em sua lavoura de soja. Graziano explica que vivemos situações diferentes em relação à Argentina, por exemplo, que utiliza o transgênico por uma questão econômica concreta que é o elevado custo das capinas nas lavouras de soja, uma vez que lá a mão-de-obra no campo é cara; no Brasil isto não ocorre e o maior custo de produção são os defensivos e fertilizantes, cotados em dólar.

Estudos da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná) comprovam que não há vantagem para o uso de soja trangênica no Brasil. Por nossa dificuldade de identificar a origem da produção, acabamos perdendo o mercado que paga mais pela soja natural. Os Estados Unidos e Argentina, concorrentes do Brasil neste mercado, exportam transgênico. O mercado europeu e do Japão ficaria, portanto, livre para o Brasil atuar se a política agrícola fosse mais eficiente, conclui.