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Os novos seres do mar
Pesquisa coordenada por bióloga da Unicamp
identifica 52 espécies inéditas no litoral de SP

CLAYTON LEVY

Macoma (bivalve marinho)Um grupo de pelo menos 52 novas espécies da fauna bentônica, o nome técnico dado a moluscos, crustáceos e minhocas marinhas, identificados no litoral norte do estado de São Paulo, será apresentado em breve à comunidade científica do mundo inteiro. Um grupo de pesquisadores coordenado pela bióloga Cecília Zacagnini Amaral, da Unicamp, trabalha na descrição das novas espécies, que será publicada em revistas especializadas internacionais. O trabalho faz parte do projeto temático Biota, da Fapesp, que visa mapear a biodiversidade na costa paulista. Além da Unicamp, a pesquisa também reúne pesquisadores da USP e Unesp.

A bióloga Cecília Zacagnini Amaral, coordenadora da pesquisa: "É possível que apareçam novas espécies desconhecidas"Orçado em R$ 2,5 milhões, o estudo foi iniciado em janeiro de 2001, concentrando-se nos municípios de Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilha Bela. Até dezembro de 2001, os pesquisadores recolheram das areias das praias, costões e fundo do mar, várias amostras e já identificaram 535 espécies diferentes. Os animais estudados são todos bentos marinho -animais que vivem junto a algum tipo de substrato (areia ou rocha), na praia ou fundo do mar. Até o momento, 40% já foram identificadas, entre elas as 52 inéditas. "Como ainda falta analisar boa parte do material, é possível que apareçam outras espécies desconhecidas", diz a professora Cecília.

Entre as 52 espécies inéditas, 40 pertencem à meiofauna, animais de tamanho muito próximos a um grão de areia que só podem ser identificados com auxílio de equipamento óptico. As outras 12 são representantes da macrofauna, com mais de 0,5 milímetro de diâmetro. Além das novas espécies, o grupo também conseguiu identificar novos gêneros, o que é considerado ainda mais raro. "Um gênero pode agrupar várias espécies", explica a pesquisadora.

a Ophiuroidea (serpente-do- mar), duas das novas espécies encontradas pelos pesquisadores Algumas espécies novas surpreenderam os pesquisadores. É o caso da Diopatra, verme poliqueta do mesmo grupo das minhocas que pode chegar a 15 centímetros de comprimento por 8 milímetros de largura. Identificado há pelo menos 200 anos, até agora todos pensavam que só havia uma espécie do animal, a Diopratra cuprea. Ao examinar o material coletado, porém, os pesquisadores se depararam com quatro outras espécies do gênero Diopatra até então desconhecidas para a costa brasileira.

"Imaginava-se que só havia a Diopatra cuprea porque as diferenças em relação às novas espécies são muito pequenas", explica Cecília. "Mas conseguimos descrever diferenças morfológicas entre uma espécie e outra, principalmente com base na anatomia externa", completa. Os pesquisadores ainda não definiram os nomes que darão às espécies inéditas. "Geralmente, o nome é dado em função de alguma característica do animal ou então é uma homenagem a alguma pessoa", diz a pesquisadora.

Outra novidade é uma serpente-do-mar semelhante à estrela-do-mar. Pertencente ao gênero Ophiomisidium, o animal habita o fundo do mar. Não tem mais do que 10 milímetros de diâmetro, incluindo o disco central e os braços, que dão ao animal a aparência de uma estrela marinha. "A diferença entre esta e a serpente-do-mar é que o disco central é mais delimitado e os braços, que permitem a locomoção, lembram os movimentos de uma serpente".

Faxineira do Mar

Apesar de desconhecidas, as novas espécies sempre estiveram muito próximas dos seres humanos. A Diopatra cuprea, tanto quanto as novas espécies do gênero descobertas pela pesquisa, ocorrem praticamente em todo o litoral. O animal, que é a versão marinha da minhoca, gosta de cavar túneis verticais na região mais úmida das praias, onde as ondas do mar quebram. Com certeza, quase todas os freqüentadores do litoral já se depararam ou pisaram numa Diopatra sem perceber", diz a pesquisadora.

Apesar da aparência pouco convidativa, as minhocas marinhas do gênero Diopatra, segundo a pesquisadora, são inofensivas. "Na verdade elas são extremamente úteis porque atuam como faxineiras das praias, alimentando-se de restos de comida jogados pelos banhistas", explica. O mesmo ocorre em relação às outras espécies catalogadas. "Nenhum dos animais encontrados por nosso grupo oferece riscos à saúde humana", diz Cecília.

Embora o principal objetivo do projeto seja conhecer a biodiversidade do litoral, a pesquisa também gera resultados importantes do ponto de vista econômico. Segundo a pesquisadora, a Diapatra cuprea e as outras espécies do gênero servem de alimento para peixes de importância comercial. "Cerca de 80% da alimentação de peixes é composta por minhocas marinhas", diz Cecília.

Outra meta é verificar os desequilíbrios ecológicos que podem ocorrer com o a destruição da fauna bentônica. "Estes animais fazem parte de um ecossistema caracterizado por uma megadiversidade e qualquer interferência negativa pode trazer resultados negativos ao meio ambiente", explica. Conforme a pesquisadora, foram envolvidas na pesquisa, até o momento, cerca de 60 pessoas, a maior parte alunos de graduação que ajudaram na fase da coleta. Na segunda fase, estão participando alunos de pós-graduação e pesquisadores especializados na identificação de espécies.

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