| Edições Anteriores | Sala de Imprensa | Versão em PDF | Enquete | Portal Unicamp | Assine o JU | Edição 204 - 24/2 a 9/3 de 2003
.. Leia nessa edição
.. Energia renovável
.. Comentário
.. Jango
.. Freios
.. Painel da Semana
.. Lavoura
.. Oportunidades
.. Inovação
.. Mais C&T
.. Meta ambiciosa
.. Carlos Gomes
.. Tese digital
.. TV digital
.. Padrões
.. Teses
.. No Itamaraty
.. Unicamp na Imprensa
.. Seres do mar
 

8

Musicóloga reúne partitura original de ópera encenada pela última vez em 1863

Peça de Carlos Gomes é resgatada

ANTONIO ROBERTO FAVA

A professora Lenita Waldige Mendes Nogueira: “Foi um trabalho árduo”Depois de 18 meses de trabalho, a professora e musicóloga Lenita Waldige Mendes Nogueira, do Instituto de Artes (IA) da Unicamp acaba de concluir a restauração da partitura da peça Joanna de Flandres, de Carlos Gomes. A tarefa só foi possível com o apoio da Fapesp, que financiou o projeto. Os manuscritos originais, microfilmados, encontram-se ainda em locais separados: o 1º ato está sob a responsabilidade do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro. Já os 2º, 3º e o 4º atos e mais as partes denominadas cavadas (instrumentos separados), no acervo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Os originais da ópera Joanna de Flandres somam 1.054 páginas manuscritas, num total estimado em mais de 85 mil compassos. O levantamento de Lenita começou a ser desenvolvido em setembro de 2001 e foi concluído recentemente.

Segundo a pesquisadora, Joanna de Flandres, ópera em quatro atos, foi escrita e encenada em 1863, quando Antonio Carlos Gomes se encontrava no Rio de Janeiro. Trata-se de uma peça para solistas, dois coros e grande orquestra, que estreou no mesmo ano sob a regência do maestro Nicolai. Lenita conta que depois da estréia, num teatro do Rio de Janeiro, a peça nunca mais fora montada, ficando esquecida durante todo esse tempo, quer dizer quase 140 anos.

Durante dezoito meses Lenita mergulhou nos estudos e análises das partituras. "Foi um trabalho árduo em que foi possível observar as alterações, correções e sinais próprios que Carlos Gomes fazia nas partituras; ora com lápis grafite, ora em vermelho ou azul. E verifiquei coisas curiosíssimas. Ao fim do segundo ato, por exemplo, quando ele coloca a seguinte observação: "com mil demônios, acabemos assim". Ou ainda no fim da ópera, escreveu algo que demonstra um boa dose de bom humor quando faz a seguinte afirmação: `fim de um triunfiasco", que mescla, num curioso trocadilho, duas expressões, o triunfo e o fiasco".

Lenita revela que ao analisar as partituras de Carlos Gomes pôde ter uma idéia do que era compor uma música, principalmente uma ópera naquele tempo, quando muitas vezes nem havia os pentagramas nas folhas de música, que deveriam ser feitos pelo próprio compositor.

Figura maléfica - Joanna de Flandres é uma peça baseada numa figura histórica, embora romanceada. O pai de Joanna, o conde Balduino, explica Lenita, vai para as cruzadas e desaparece por um longo tempo e ela acaba tomando o poder de Flandres. Joanna é auxiliada nessa tarefa, de conquista de poder, pelo ambicioso trovador Raul, seu amante. Ambos começam então a fazer uma sucessão de maldades.

"Começam aí os conflitos para se manter no poder. Quando a ópera tem início, a primeira cena é a dos revoltosos, um grupo de homens que eram contra Joanna, e liderados por Huberto", explica Lenita. Em seguida, a personagem de Joanna canta uma ária conhecida, revelando que os anos de sua infância já haviam passado, agora, "mesmo que esteja banhada em sangue", ela vai tentar manter a coroa. Na seqüência, ela faz um elogio à vingança, que lhe proporciona grande prazer.

Nesse meio tempo entra Balduino, que volta das cruzadas e aparece durante a festa de casamento de Joanna e Raul. O momento crucial é quando Joanna renega o pai e manda prendê-lo para, com isso, continuar mantendo o poder. No final, Raul, o trovador, fica com remorso de estar ajudando Joanna e começa a arrepender-se. Muda de opinião e pede a Joanna que liberte o pai. Mas esta não o atende e manda matá-lo, que escapa e, no final da história, volta e acaba com a vida de Joanna, cujo pai retoma o poder.

"O interessante nisso tudo é que Carlos Gomes sabiamente escolhera uma heroína sanguinária, malvada, elementos nada comuns para encarnar um protagonista de um espetáculo como uma ópera", diz a pesquisadora. De acordo com a pesquisadora, a obra Joanna de Flandres já apresentava sinais da genialidade de Carlos Gomes, pela harmonia muito bem-estruturada da música. "Percebe-se que foi uma obra bem-trabalhada em termos de orquestração. Com seu estilo característico, Carlos Gomes prenunciava o talento que emprestaria às suas peças mais conhecidas, como O Guarani, Fosca e Lo Schiavo, entre tantas outras".

SALA DE IMPRENSA - © 1994-2003 Universidade Estadual de Campinas / Assessoria de Imprensa
E-mail: imprensa@unicamp.br - Cidade Universitária "Zeferino Vaz" Barão Geraldo - Campinas - SP