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Ministro quer empresas
investindo em C&T

Roberto Amaral, ministro da Ciência e Tecnologia: Vamos usar a concessão de bolsas para induzir o desenvolvimento"A Coréia tem marcas no mercado e o Brasil não tem nenhuma marca nacional". A comparação com um dos tigres asiáticos de maior sucesso na produção de patentes é um dos argumentos que o ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, vem usando para tentar convencer empresários brasileiros a investir mais em inovação tecnológica. "Cadê o mercado? O mercado precisa responder ao desafio de construir o País. Esse desafio não é só do poder público", disse Amaral na segunda-feira passada, durante visita ao Laboratório Nacional de Luz Sincrotron (LNLS), em Campinas. Falando para uma platéia de mais de cem pesquisadores, que participavam da 13º Reunião Anual de Usuários do LNLS, o ministro reafirmou a meta de elevar de 1% para 2% do PIB os investimentos do Brasil em C&T. E convocou a iniciativa privada a participar com 50% do total a ser investido. "Ainda é pouco. A Coréia começou a investir há 20 anos e hoje destina 3% do PIB para ciência e tecnologia", disse, mais uma vez citando o modelo asiático. O entusiasmo do ministro diminui, porém, quando indagado sobre os mecanismos que o governo pretende adotar para incentivar a maior participação das empresas nos investimentos em C&T. "Compreendo as dificuldades econômicas, mas o mercado têm de ver que ou nós todos nos juntamos ou então não vamos sair do lugar", argumenta. Como medida prática, Amaral diz que recorrerá à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e aos fundos setoriais, criados no governo FHC. Como medida alternativa, o ministro adiantou que pretende discutir com o BNDES a criação de um novo fundo para facilitar o acesso aos recursos. Enquanto uma proposta definitiva não chega, a estratégia será continuar tentando convencer as empresas sobre a importância dos investimentos. "O mercado precisa responder a esse desafio", diz Amaral. Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida pelo ministro.

JU - O senhor diz que não há desenvolvimento industrial sem desenvolvimento científico. Que ações o atual governo pretende adotar para fomentar isso?

Amaral - Ações políticas no geral. Primeiro, estamos fazendo um trabalho junto aos empresários.Já visitei a Fiesp, a Finerj e a CNI. Encontrei ótima compreensão. Irei visitar todas as federações (de indústrias) estaduais. Também vamos utilizar os nossos recursos, como a política de bolsas. Vamos usar a concessão de bolsas para induzir o desenvolvimento. Uma outra forma é a nossa política de fundos, como os fundos setoriais. Nós estamos construindo uma rede cuja função será localizar uma deficiência tecnológica em determinada atividade, como agricultura ou indústria, e ao mesmo tempo, no campo da universidade, localizar a instituição que tenha know-how suficiente para suprir aquela deficiência. Vamos aproximar a empresa privada da universidade para agregar valor aos produtos ou substituir a importação.

JU - O senhor disse que pretende aumentar os investimentos do País em C&T de 1% para 2% do PIB até o final do mandato. Destes 2%, caso eles se concretizem, quanto o senhor espera que venha da iniciativa privada?

Amaral - Se fosse hoje, viria muito pouco. Mas como temos três anos de trabalho, vamos trabalhar ideologicamente, culturalmente. Um dado objetivo é o parque brasileiro. Temos de um lado as multinacionais, que por tradição não investem localmente em C&T, e de outro, o parque nacional que foi depredado pela política de juros altos e se limita a importar know-how. Temos de fazer ver a esse empresário que ele não sobreviverá à concorrência externa nem à interna se não investir em C&T.

JU - Mas a sua expectativa é que a iniciativa privada participe com quanto dos 2% do PIB que o governo espera investir em C&T.

Amaral- O ideal é que essa participação fosse de 50%. Nos Estados Unidos essa participação é de 80%. Se nós nos aproximarmos dos 50%, pode ser que a gente vá até além dos 2% do PIB. Hoje a participação da iniciativa privada é em torno de 20%.

JU - Quais os esforços que o MCT pretende fazer para que a iniciativa privada eleve sua participação nos investimentos em C&T?

Amaral- Nós compreendemos a dificuldade do empresariado brasileiro, que deriva do modelo de importação do nosso parque industrial. Nos últimos anos, nos optamos por um desenvolvimento dependente de recursos externos, do mercado externo e da tecnologia externa. No governo passado foram criados 14 fundos setoriais que tratam de infra-estrutura. Nós vamos usar estes fundos para estimular. Uma das idéias que vamos discutir como o BNDES é a abertura de fundos específicos para estimular o investimento privado em C&T. Nós precisamos fortalecer o parque industrial brasileiro para que ele tenha autonomia.

JU - Mas isso depende da política econômica.

Amaral - Depende da política econômica. Temos de retomar o crescimento. Cadê o mercado? O mercado precisa responder ao desafio de construir o país. Esse desafio não é só do poder público. É do mercado também.

JU - Mas o mercado não estaria esperando que a economia melhore?

Amaral - Eles têm de ver que ou nós todos nos juntamos ou então não vamos sair do lugar. Setenta por cento dos doutores formados nos Estados Unidos trabalham na iniciativa privada. No Brasil, 80% dos doutores trabalham no Estado. O estudante brasileiro entra na graduação já pensando em ficar na universidade. Mas a universidade tem limites de absorção. O ideal é que a universidade forme o técnico para ele trabalhar na empresa privada.

JU - Mas a iniciativa privada só investe em pesquisa quando ela vê possibilidade de lucro.

Amaral - Só tem lucro quem investir em tecnologia. O mundo mudou. Aquela divisão do Adam Smith, dos fatores da produção, terra, trabalho, capital, isso desapareceu. O fator de produção hoje se chama conhecimento. E conhecimento não cai do céu. Quem estiver atrelado à exportação de comodites vai ver a banda passar. Há 20 anos, todos os nossos índices eram superiores ao da Coréia. Hoje todos os índices da Coréia são extraordinariamente superiores aos nossos. Enquanto, por exemplo, nós temos 272 internacionais, a Coréia registra por ano nos Estados Unidos mais de duas mil. A Coréia tem marcas. O Brasil não tem uma marca nacional.

JU - Como chegar a esse estágio?

Amaral - Chegar para o empresário e dizer que um determinado produto que ele importa, um gravador, por exemplo, pode ser produzido no Brasil. A universidade tal tem conhecimento para produzir um projeto que custará tanto. O Estado entra com tanto e você com outro tanto. Vamos fazer esta parceria?

JU - Isso não seria atribuir à universidade a missão de desenvolver inovação. Na atual conjuntura, essa missão não caberia à iniciativa privada?

Amaral v A universidade tem essa missão.

JU- Mas o senhor não disse que cabe à indústria fazer a inovação?

Amaral - E se ela (a indústria) não faz? O meu papel é pensar o País. O que estou dizendo é que não há nenhum exemplo no mundo de um país que tenha se desenvolvido sem um projeto de nação.Isso ocorreu nos Estados Unidos, na China e na Coréia mais recentemente. O Estado é indutor, mas tem um limite. Ele não pode assumir todas as funções.

JU - Quanto está previsto em investimentos para esse ano na área de C&T?

Amaral - No total temos uma disponibilidade em torno de R$ 1,5 bilhão só para investimento no período de um ano.

JU - O MCT pretende induzir pesquisa em alguma área estratégica?

Amaral - Não propriamente induzir. Trabalhamos com a espontaneidade. Mas o Estado tem de ter áreas que ele irá priorizar.

JU - Quais são?

Amaral - A biodiversidade, a biogenética, toda a área de genoma, a área espacial. São áreas que têm efeito multiplicador. Para desenvolver um satélite você desenvolve todo o campo da ciência. E também multiplicador do ponto de vista industrial porque a base disso são pequenas e médias empresas com plataforma tecnológica.

JU - O ministério pretende mexer nos fundos setoriais?

Amaral - A idéia é agilizar a constituição dos comitês gestores. Nós vamos rever a regulamentação dos fundos e a constituição dos comitês com a finalidade de conferir mais transparência e agilidade. (C.L.)

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