ANO XVII - 16 a 22 de dezembro de 2002 - Edição 202
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Unicamp e querem reforçar intercâmbio

Cuba redireciona política de inovação

CLAYTON LEVY

Vitor Quevedo, diretor do ministério de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Cuba: "Estamos aprendendo a gerar novos conhecimentos"  O acordo de cooperação científica e tecnológica assinado em outubro pelos governos do Brasil e Cuba pode representar uma aproximação maior entre os organismos de pesquisa cubanos e a Unicamp. No dia 4 de dezembro, dois diretores do Ministério Sidero-Mecânica de Cuba, Iván Oramas e Lázaro Díaz, estiveram na Universidade para conhecer as nove empresas incubadas na Incamp. No dia seguinte, foi a vez do cônsul geral de Cuba no Brasil, Omar Torres Olivares, visitar a Universidade. O objetivo foi conhecer centros de excelência e levar para Cuba a experiência brasileira.

Atualmente, a Unicamp mantém convênios com a Universidade de Havana para desenvolvimento de projetos acadêmicos e de pesquisa em seis áreas distintas. As parcerias envolvem a as faculdades de Educação (FE), Engenharia de Alimentos (FEA) e Educação Física (EF), e os institutos de Química (IQ), Estudos da Linguagem (IEL) e Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Essa aproximação, porém, pode ficar ainda maior.

O Memorando de Entendimento, assinado em Havana pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, e pela ministra da Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Cuba, Rosa Elena Simenón, tem como objetivo estreitar a cooperação bilateral em Ciência e Tecnologia entre os dois países, com prioridade para as áreas de geração de energia (biomassa), da bioinformática e da biotecnologia aplicada à saúde humana e à agropecuária.

Juntos, brasileiros e cubanos também vão incrementar os esforços conjuntos em pesquisas genômicas da cana-de-açúcar, pesquisa clínica e pré-clínica e na busca de novas vacinas para doenças tropicais. O memorando inclui o melhor aproveitamento da biomassa da cana para a geração de energia elétrica e o intercâmbio da tecnologia brasileira de utilização do álcool como combustível.

Assim como o Brasil, Cuba vem desenvolvendo ações para consolidar uma política de inovação tecnológica. Segundo indicadores oficiais do Ministério de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Cuba, a quantidade de doutores vem crescendo continuamente, saindo de 4.984 em 1995 para 6.076 em 2000. Como resultado dos programas e projetos na área de C&T, em 1998 surgiram 267 novos produtos, 190 novas tecnologias e 33 protótipos. Já em 2000, esses números saltaram para 546 novos produtos, 646 novas tecnologias e 344 protótipos.

Em 1995, o gasto total em C&T foi de 166,2 milhões de pesos. Em 2000, esse valor chegou a 250,2 milhões de pesos. Por fonte de financiamento, em 2000 esses gastos foram 63% do governo, 32% de empresas e 5% de financiamentos externos. Em 2000, 31% dos projetos de C&T foram na área de saúde. Os dados foram divulgados durante o Salão de Tecnologia de Cuba, promovido pela Finep nos dias 20 e 21 de novembro, em São Paulo, paralelamente ao 7º Venture Forum. A missão cubana no evento foi comandada pelo diretor de tecnologia e inovação do Ministério de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do governo cubano, Vito Quevedo. Pouco antes de embarcar de volta, ele concedeu a seguinte entrevista ao Jornal da Unicamp.

Jornal da Unicamp - Como Cuba trata a questão da ciência e tecnologia dentro de sua política de desenvolvimento?

Vito Quevedo - A política cubana está baseada no desempenho de um sistema de ciência e inovação tecnológica, com prioridades definidas a partir das necessidades do desenvolvimento socioeconômico da nação.

JU - Como é este sistema?

Quevedo - Esse sistema, por um lado, impulsiona o desenvolvimento da pesquisa científica para obter novos conhecimentos e, de outra parte, desenvolve os mecanismos para que este conhecimento possa converter-se em valores para a sociedade, a economia e o meio ambiente.

JU - Em que estágio está o processo?

Quevedo - Assim como o Brasil, estamos aprendendo a gerar novos conhecimentos. Temos instituições científicas, publicamos artigos em revistas especializadas, registramos patentes, mas a quantidade de produtos novos, de serviços e tecnologias ainda não está nos níveis que desejamos.

JU - Qual o percentual do produto interno bruto que Cuba direciona para investimentos em ciência e tecnologia?

Quevedo - Como todos sabem, nosso país está atravessando uma situação econômica difícil por diversas razões, entre elas o embargo econômico. Mas essa situação econômica não tem impedido o crescimento dos investimentos em ciência e tecnologia. Durante toda a década de 1990, houve crescimento de ano em ano, passando de 1,4% em 1993 para 1,7% em 2000. Em 2001, passou para 1,8% e, em 2002, chegará aproximadamente a 1,9%.

JU - Qual a principal causa desse crescimento?

Quevedo - Em primeiro lugar a política de nosso governo, que considera a ciência como um dos elementos fundamentais para o desenvolvimento da sociedade. Em segundo lugar, a infra-estrutura que está criada em nosso país, que tem mais de 200 instituições de pesquisa e 50 universidades. Em terceiro lugar, o alto desenvolvimento de nossos recursos humanos. Cuba investiu em educação, em saúde e na formação de seus talentos.

JU - E qual a área de investigação científica que mais se desenvolveu em Cuba? Ainda é a biotecnologia?

Quevedo - A biotecnologia é um ramo importantíssimo, que tem se desenvolvido muito e que nos coloca nos lugares mais avançados em todo o mundo. Todavia, há outras linhas muito importantes, como por exemplo a pesquisa em energia, tecnologia da informação e novos materiais.

JU - Qual o impacto do bloqueio econômico na área de C&T em Cuba?

Quevedo - Em primeiro lugar, na aquisição de equipamentos de pesquisa para nossos centros. Afetou nos insumos, como reagentes e outros elementos para experiências. Afetou a participação de nossos pesquisadores em eventos internacionais. Também gerou uma situação muito difícil em relação à informação que entrava em nosso país. Economicamente, calculamos em dezenas de milhões de pesos o que Cuba perdeu em razão do bloqueio econômico.

JU - Apesar disso, o número de doutores tem aumentado nos últimos anos.

Quevedo - Sim. Anualmente estamos o incrementando a quantidade de doutores. Hoje temos mais de 5 mil doutores.

JU - Todos eles têm como atuar profissionalmente na área de ciência e tecnologia em Cuba ou alguns ficam marginalizados?

Quevedo - Não. Os doutores estão ou em alguma universidade, ou em algum centro de pesquisa ou em alguma grande empresa. Em qualquer um destes lugares têm capacidade para atuar. Nada os limita ou marginaliza. Ao contrário, todos são convocados. Existem em Cuba, hoje, cerca de 13 programas na-cionais de ciência e tecnologia, que agrupam mais de 500 projetos.

JU - O senhor poderia falar mais sobre estes 13 programas?

Quevedo - Temos programas nos campos da biomedicina, engenharia genética, energia, produção de alimentos, cana-de-açúcar e seus derivados, temas vinculados à sociedade e ao meio ambiente, bioinformática, biologia, computação e informática.

JU - Estes programas incluem, por exemplo, o mapeamento genético de produtos agrícolas importantes para a economia cubana?

Quevedo - Trabalhamos nisso, sim.

JU - Quais são os produtos?

Quevedo - Cana-de-açúcar, cítricos e outros.

JU - Estas pesquisas já estão em estágio avançado?

Quevedo - Bem avançado, mas ainda não estão nos níveis que desejamos.

JU - O governo brasileiro acaba de enviar ao Congresso um projeto de lei para inovação tecnológica. Em Cuba já há uma legislação que incentiva a inovação tecnológica?

Quevedo - Sim. Cuba está passando nesse momento por um processo de aperfeiçoamento do seu sistema empresarial. Esse processo tem como uma de suas variáveis a inovação.

JU - Isso é recente?

Quevedo - Começou há três anos e já envolveu mais de 200 empresas no processo de aperfeiçoamento. É um sistema organizativo diferente com determinadas metas econômicas para os trabalhadores e muita possibilidade para a inovação.