Jornal da Unicamp 185 - 12 a 18 de agosto de 2002
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Combate à doença silenciosa

ISABEL GARDENAL

A hipertensão é uma doença silenciosa. Seu desenvolvimento é lento e, por isso, dificilmente permite tratamento adequado. A pessoa fica sabendo do diagnóstico apenas quando chega ao hospital em crise aguda, com pressão elevada e correndo risco de vida. Mas um estudo de base lança luz sobre os pacientes, com uma nova droga, primariamente testada em ratos e que tem a vantagem de não ser tóxica e apresentar menos efeitos colaterais ao organismo. Trata-se do complexo rutênio NO, cuja eficácia na diminuição da pressão é 145% maior em relação à substância análoga, o nitroprussiato de sódio, prescrito há mais de 40 anos como vasodilatador em humanos e que controla a pressão sangüínea pós-operatória e a hipertensão arterial.

A comparação do potencial das duas drogas (complexo rutênio e nitroprussiato) seguiu as mesmas doses e os testes foram feitos nos mesmos animais pela pesquisadora Brígida Figueiredo de Barros. Os resultados são transcritos em sua dissertação de mestrado "Utilização de doadores de NO de ação controlada no estudo de alterações endoteliais: [complexo Ru-NO]", recentemente apresentada ao Instituto de Biologia (IB) da Unicamp.

Sintetizado pelo professor Douglas Franco, da Universidade Federal de São Carlos (UFScar), o complexo rutênio teve sua eficácia e qualidade comprovadas no laboratório do Departamento de Fisiologia e Biofísica do IB, de responsabilidade da professora Marta Helena Krieger, orientadora da pesquisa. Nesse estudo colaborativo, financiado pela Fapesp, foram avaliados mais de 200 ratos wistar e SHR, uma cepa desenvolvida em 1968 e cujos animais, com quatro semanas, começam a revelar hipertensão e, com dez (idade que tipifica o indivíduo adulto), tornam-se hipertensos.

Efeitos – Fato é que a hipertensão humana foi mimetizada nesses ratos a partir de três modelos: ratos SHR, modelo agudo da doença produzido por angiotensina 2 e por L-name. Cada um mostrou determinado efeito biológico favorável à diminuição da pressão. O SHR destacou-se pela grande produção de radicais livres (molécula que se encontra provisoriamente num estado instável e suscetível a reagir com as moléculas vizinhas). O modelo da angiotensina 2 determinou vasoconstrição (diminuição do calibre de um vaso por compressão de suas fibras musculares). O modelo L-name inibiu a produção natural de óxido nítrico nos vasos (relaxando-os e reduzindo a pressão).

Com as respostas obtidas, os próximos testes devem chegar aos humanos – um avanço mundial notório no controle da hipertensão, particularmente nesse momento de crise social e econômica. Novos estudos caminham para investigar seus efeitos de uso diário. "Isso não era possível antes de caracterizar os modelos hipertensos nesta pesquisa", esclarece Brígida.

Mecanismo – Quando o coração bate, ele bombeia sangue para todo o corpo, saindo das artérias e regressando pelas veias. Ao circular, o sangue pressiona as paredes arteriais: é a força da pressão arterial. Em idosos hipertensos é comum os vasos sangüíneos endurecerem e o sangue despender maior força para ser transportado novamente, em seu trajeto silencioso.