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Cooperação científica com a Universidade
de Alcalá prevê projetos conjuntos de pesquisa

Acordo com espanhóis na área
de parto de cócoras é renovado

CARMO GALLO NETTO

O professor Hugo Sabatino, do Departamento de Obstetrícia da FCM: trabalhos científicos tiveram início na década de 1980 (Foto: Antoninho Perri)A Unicamp renovou, por mais três anos, acordo de cooperação na área de parto alternativo (de cócoras) com a Universidade de Alcalá (Espanha). O acordo prevê o desenvolvimento de projetos conjuntos de pesquisa, além de implantação de cursos de ensino a distância via metodologia Teleduc, concebida na Unicamp. As pesquisas, coordenadas pelo professor Hugo Sabatino, do Departamento de Obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), têm como base o trabalho realizado pelo pesquisador no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism).

Pesquisa teve como
base 8 mil partos

O termo aditivo ao acordo de cooperação entre as duas universidades prevê: 1) administração de curso teórico do método de preparação e de atenção de partos de baixo risco, segundo protocolo seguido pelo Grupo de Parto Alternativo (GPA) do Departamento de Tocoginecologia da FCM da Unicamp, a docentes, residentes e estudantes de medicina da Universidade de Alcalá; 2) ensino prático da atenção de partos de baixo risco em posição de cócoras, segundo método postulado pelo GPA; 3) implementação de pesquisa sobre avaliação de resultados maternos e perinatais de partos realizados em posição horizontal e vertical; e 4) implementação de cursos on line.

Sabatino diz que em junho estará levando à Espanha suas experiências sobre o processo de preparação das mulheres para que o parto possa ser encarado da forma mais natural, além das práticas que devem ser aplicadas no parto de cócoras em mulheres chamadas de “civilizadas”, uma vez que o método faz parte das culturas indígenas. Está previsto também o uso de cadeira desenvolvida na Unicamp. Ela pode ser utilizada durante a realização de partos de cócoras como em outros tipos de partos. De fácil manutenção, é feita de material de fibra de vidro, o que permite lavagem após o procedimento.

Ainda em junho o pesquisador estará em Lanzarote, balneário espanhol, proferindo a aula inaugural em congresso nacional organizado por parteiras (matronas), que constituem no país uma classe profissional organizada e com significativa representação. Em sua viagem, o professor estará ainda proferindo palestras em Málaga e Madri. Ele considera que “para o Brasil estas participações são importantes porque, de alguma maneira, está sendo invertido o fluxo de tecnologia”.

Pioneirismo – Os trabalhos envolvendo parto alternativo começaram em 1980, atendendo a um grupo de mulheres que procuravam outras formas de parto mais naturais, evitando o convencional, de forma a não se sentirem tratadas como doentes. “Com base em trabalhos já existentes, começamos a estudar a possibilidade do parto de cócoras, tirando a mulher do leito, eliminando a depilação e a lavagem intestinal e permitindo que ela estivesse acompanhada por pessoas de sua escolha, o que causou espécie na época porque contrariava os protocolos estabelecidos”, diz Sabatino. Muitas destas condutas acabaram incorporadas e hoje, por lei, as mulheres podem ter companhia durante a realização do parto.

O primeiro especialista a chamar a atenção para o parto em posição vertical, considerando-o muito mais natural, foi o médico americano Howard, na década de 50, mas sem realizá-lo concretamente. O pioneirismo no mundo considerado “civilizado” coube ao médico Moyses Paciornick, que, em Curitiba, observou que o períneo das índias era muito mais forte que o das mulheres brancas. Isso acontecia, entre outras razões, em decorrência da utilização do parto de cócoras, que passou a adotar em suas pacientes.

“Nós então o adotamos e passamos a fazer uma série de pesquisas, facilitadas pelo fato de militarmos em uma universidade”, diz Sabatino. Dentre essas, o médico destaca duas que considera fundamentais. A primeira, quando, ainda há poucos anos no Brasil, vindo da Argentina, em colaboração com o professor Hugo Fragnito, do Instituto de Física “Gleb Wataghin” (IFGW) da Unicamp, mediu as pressões intravaginais em gestantes e comparou os resultados no parto convencional, na posição horizontal, com os obtidos no parto de cócoras.

Quantificadas essas pressões, descobriu que na parte superior do útero, em que a mulher precisa de mais força, a pressão era maior quando o parto era de cócoras. Inversamente, a pressão na vagina revela-se menor, o que facilita a saída da criança, quando comparada com os valores obtidos no parto na posição horizontal. O modelo de medida desenvolvido por Sabatino e Fragnito (denominado “Unidades Unicamp”) foi divulgado em publicações internacionais e deu respaldo ao parto de cócoras.

Rigor científico – A segunda pesquisa teve como base 30 mil partos realizados no Hospital de Clinicas da Unicamp, dos quais foram selecionados oito mil, envolvendo pacientes que atendiam plenamente os parâmetros de normalidade e que não apresentaram quaisquer problemas clínicos. Desse universo, 500 tinham sido realizados de cócoras. Os resultados mostraram que as crianças cujas mães as haviam gerado em posição de cócoras nasciam em condições de saúde significativamente melhor, quando comparadas às oriundas de partos horizontais.

Apesar disso, o professor Sabatino reconhece que ainda faltam elementos que permitam atribuir à pesquisa o rigor cientifico exigido pela academia: “É o que pretendemos perseguir com o acordo de cooperação com a Espanha. Vamos realizar um estudo em que as parturientes serão selecionadas aleatoriamente, de forma a obter elementos que nos permitam conclusões com maior rigor cientifico. Este será certamente um grande passo, que por várias razões não pudemos dar anteriormente”.

O pesquisador entende que a Universidade cumpriu sua função ao pesquisar o método e demonstrar a sua aplicabilidade, embora nem todos o aceitem por variadas razões, inclusive por não considerarem os dados conclusivos e suficientes. Polemicas à parte, Sabatino acaba de retornar de um congresso realizado em Mar Del Plata, na Argentina, onde apresentou três trabalhos e teve um deles premiado.

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